Exposição na Filarmônica de Paris homenageia papel da música disco nas lutas sociais
A Filarmônica de Paris acolhe até 17 de agosto a exposição "Disco - I'm Coming Out", dedicada ao estilo musical nascido no início dos anos 1970 nos Estados Unidos. O evento destaca o papel da música disco nas lutas políticas e sociais, tornando-se uma forma de expressão das comunidades LGBTQIA+, afro-americana e mulheres.
Daniella Franco, da RFI em Paris
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A exposição traz quatro seções principais, que se concentram no surgimento da música disco, no contexto político e social da época, na popularização das discotecas e na expansão do estilo pelo mundo. Os espaços, decorados com muito brilho e neon, retratam a estética disco em diferentes fases e homenageam ícones como Diana Ross, Donna Summer, Chaka Khan, Gloria Gaynor, e também artistas franceses, como Cerrone e Sylvester.
Em um imenso conjunto de arquivos exibidos na mostra, destacam-se vídeos e fotos, instrumentos musicais e materiais usados por DJs e gravadoras, figurinos imortalizados por cantoras e cantores, e obras de arte assinadas por artistas icônicos como Andy Warhol e Keith Haring. Durante todo o percurso, os visitantes são embalados por uma animada trilha sonora mixada pelo célebre produtor e DJ Dimitri from Paris.
Um dos curadores da exposição, Jean-Yves Leloup, afirma que mais do que inspirar o espírito festivo nos visitantes, a mostra tem o objetivo de resgatar a história, abordando o fenômeno planetário da música disco. "O início dos anos 1970 é marcado por avanços sociais e políticos de algumas minorias, principalmente a LGBT, após o célebre movimento de Stonewall em 1969. Depois disso, há uma verdadeira liberação, com o recuo das perseguições policiais e administrativas que sofriam os espaços dedicados a essas minorias", diz.
A partir dessas mudanças, nasce uma nova economia festiva e hedonista, impulsionada pela cultura LGBT, lembra. "A música disco vai rapidamente se tornar muito popular e cair no gosto do grande público, principalmente a partir de 1977, com o filme 'Embalos de sábado à noite', que vai tornar esse estilo musical em algo muito popular e para o grande público", lembra.
As mulheres nas pistas de dança
Caindo no gosto do grande público, a música disco também vai se tornar um canal de expressão das mulhere, principalmente das afro-americanas que celebram a libertação do domínio masculino por meio de canções que se tornarão clássicos deste estilo musical. É o caso de "I will survive', de Gloria Gaynor, um hino feminista, que fala da superação de uma mulher após uma separação.
"Há muitas músicas que falam da sexualidade das mulheres, do direito ao prazer e ao orgasmo, e muitas canções fazem eco às lutas feministas da época e às lutas das mulheres negras por direitos civis", observa Leloup.
O estilo musical também permite que a cultura afro-americana se popularize pelo mundo, um fenômeno que o jazz já havia iniciado e que o rap realiza até hoje. "Não costumamos associar a música disco à black music, mas ela está profundamente ligada ao soul, ao gospel e ao funk", destaca o curador da exposição.
Uma mostra para todas as idades
O parisiense Hervé visitou a exposição com o companheiro Vincent. Para o casal, a mostra traz à tona lembranças de outros tempos. "É bem representativo desta época, os anos 1970, e nos faz pensar na nossa juventude, quando frequentávamos discotecas. A trilha sonora também é muito boa, dá vontade de dançar desde que a gente entra", diz.
As gerações mais jovens também se divertem e aprendem com a exposição, acredita a jovem Emeline. "É interessante visualmente e também instrutivo. Aprendemos muitas coisas sobre os espaços da música disco, sobre as gerações com as quais não convivemos, mas que idealizamos", observa. "Há lindas decorações, com lindas músicas, que descobrimos ou redescobrimos, além de coisas do mundo atual que se inspira nessa geração", conclui.
A exposição "Disco - I'm Coming Out" fica em cartaz até o dia 17 de agosto na Filarmônica de Paris.