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'Não é assim que se fala com aliados': Dinamarca critica EUA por ofensiva na Groenlândia

Lars Lokke Rasmussen, ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, preside uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova York, EUA, em 24 de março de 2025 - Mike Segar/REUTERS Lars Lokke Rasmussen, ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, preside uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova York, EUA, em 24 de março de 2025 - Mike Segar/REUTERS
Lars Lokke Rasmussen, ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, preside uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova York, EUA, em 24 de março de 2025 Imagem: Mike Segar/REUTERS

29/03/2025 10h56Atualizada em 29/03/2025 11h32

O tom azedou neste sábado (29) entre os Estados Unidos e a Dinamarca, após o governo dinamarquês criticar a virulência dos comentários do vice-presidente norte-americano JD Vance sobre a suposta inação do país nórdico na Groenlândia.

"Estamos abertos a críticas, mas, para ser totalmente honesto, não gostamos do tom em que foram feitas", declarou o chanceler dinamarquês Lars Løkke Rasmussen, em um vídeo em inglês publicado no X.

"Não é assim que se fala com aliados próximos, e ainda considero a Dinamarca e os Estados Unidos como aliados próximos", acrescentou.

A resposta dinamarquesa encerra uma semana de fortes tensões entre os dois países, desencadeada pelo anúncio de uma visita não desejada de autoridades norte-americanas ao território autônomo dinamarquês. A viagem acabou sendo reduzida, na sexta-feira, a uma visita à base norte-americana de Pituffik.

Durante um discurso na única base militar dos Estados Unidos na Groenlândia, JD Vance afirmou que a Dinamarca "não tem feito um bom trabalho pelo povo groenlandês", criticando especialmente a falta de investimentos na imensa ilha ártica, que já foi alvo de interesse de Donald Trump.

"O acordo de defesa de 1951 dá aos Estados Unidos amplas possibilidades para ter uma presença militar muito mais forte na Groenlândia. Se essa for a sua intenção, vamos discutir isso", respondeu o ministro dinamarquês, referindo-se ao tratado que rege a presença norte-americana no território.

Ele lembrou que, em 1945, os Estados Unidos mantinham 17 bases e instalações militares na Groenlândia, com milhares de soldados. "Podemos fazer mais, muito mais dentro do quadro atual", acrescentou.

A base norte-americana de Pituffik é um ponto estratégico da defesa antimísseis dos Estados Unidos, pois a trajetória mais curta para mísseis lançados da Rússia em direção ao território norte-americano passa pela Groenlândia.

Na noite de sexta-feira, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, já havia rejeitado as críticas "injustas" dos Estados Unidos, lembrando que a Dinamarca esteve ao lado do país "em momentos muito difíceis", referindo-se à participação dinamarquesa em operações militares no Iraque e no Afeganistão.

Trump "precisa da Groenlândia"

Na sexta-feira, Donald Trump reiterou que "precisa da Groenlândia". "É muito importante para a segurança internacional", declarou.

"Até agora, todos nós agimos com a premissa de que o Ártico era e deveria continuar sendo uma região de baixo risco, mas essa era chegou ao fim", afirmou o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca.

Em janeiro, Copenhague anunciou que destinará quase ? 2 bilhões para reforçar sua presença no Ártico e no Atlântico Norte.

Apesar da retórica ameaçadora de Donald Trump, o vice-presidente norte-americano descartou o uso da força para tomar o território autônomo dinamarquês, afirmando que Washington pretende convencer os groenlandeses a se aproximarem dos Estados Unidos e assinarem um acordo.

"Acreditamos que os habitantes da Groenlândia são racionais e (...) que poderemos fechar um acordo, ao estilo Donald Trump, para garantir a segurança do território e dos Estados Unidos da América", disse JD Vance.

"Acredito que, no fim, eles se alinharão aos Estados Unidos. Poderíamos garantir muito mais segurança a eles (...) e acho que estariam em uma situação muito melhor economicamente", acrescentou.

População deseja independência


A Groenlândia acaba de formar um novo governo de coalizão, e a maioria da população deseja a independência do território, que já possui ampla autonomia dentro do reino da Dinamarca.

"É muito importante que deixemos nossas diferenças de lado (...), pois só assim conseguiremos lidar com a intensa pressão externa à qual estamos submetidos", afirmou o novo primeiro-ministro da Groenlândia, Jens-Frederik Nielsen, ao apresentar sua equipe, na sexta-feira.

A população, majoritariamente da etnia inuíte, rejeita qualquer possibilidade de se tornar parte dos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa divulgada no fim de janeiro.

(Com AFP)


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