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Minerais raros, Crimeia e usina nuclear: o que Trump quer com paz na Ucrânia?

28.fev.2025 - Donald Trump e Volodymyr Zelensky discutem na Casa Branca - Andrew Harnik / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP 28.fev.2025 - Donald Trump e Volodymyr Zelensky discutem na Casa Branca - Andrew Harnik / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
28.fev.2025 - Donald Trump e Volodymyr Zelensky discutem na Casa Branca Imagem: Andrew Harnik / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

RFI

23/04/2025 13h41

Os Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, têm trabalhado em uma série de propostas para alcançar um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia, embora muitos detalhes ainda não tenham sido divulgados oficialmente. Segundo a mídia, o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, indicou que as negociações envolvem a possibilidade de "trocas territoriais" entre os dois países, para estabilizar a situação, mantendo uma divisão semelhante à atual.

Segundo o jornal Washington Post, os Estados Unidos propõem reconhecer a Crimeia como território russo, uma exigência de Vladimir Putin. O site Axios fala em um reconhecimento do controle russo sobre a península anexada em 2014.

No entanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rejeitou essa ideia de forma enfática, declarando que a Crimeia é parte integral da Ucrânia. "Não há nada a discutir. Isso é contra nossa Constituição. É o nosso território. O território do povo ucraniano", afirmou Zelensky a jornalistas em Kiev. O Axios também menciona a possibilidade de um reconhecimento das áreas ocupadas pela Rússia nas regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia.

EUA abandonarão negociações se acordo não for fechado

O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, afirmou que a Rússia e a Ucrânia precisam chegar a um acordo de paz ou Washington deixará de mediar as negociações. Essa possibilidade não surpreende Gustavo Palomares, especialista em Relações Internacionais e professor da UNED em Madri. "É muito provável que Trump se retire da negociação", disse o cientista político à RFI.

"Trump vai pressionar ao máximo para que seu plano de paz siga em frente. Provavelmente, não exercerá tanta pressão sobre os aliados ocidentais quanto sobre a Ucrânia. Tudo isso, evidentemente, seguindo a linha dos interesses que favorecerão Putin", afirma o especialista em Relações Internacionais.

"Levando em conta a personalidade de Trump, e conhecendo também o nível de envolvimento dele em relação à sua promessa de terminar a guerra na Ucrânia — que é o ponto central da política externa dos Estados Unidos em seus primeiros 100 dias de governo —, eu diria que não seria nada estranho que, se não houver um acordo em Londres, se não houver uma posição favorável ao que foi a aposta de Trump no processo de paz, seja muito provável que ele cumpra sua promessa e se retire da negociação", conclui Palomares.

Chantagem

Vance afirmou durante uma visita à Índia nesta quarta-feira que seu país fez uma "proposta muito explícita" a ambas as partes, que inclui a necessidade de realizar trocas de territórios, "e é hora de dizer sim ou então os Estados Unidos se retirarão deste processo".

"Este é o momento, acredito, de dar, se não o passo final, um dos passos finais, que é, de forma geral, dizer que vamos parar os massacres, vamos congelar as linhas territoriais em um nível próximo ao que estão hoje", acrescentou Vance. "Isso significa, certamente, que ucranianos e russos terão que abrir mão de parte do território que atualmente controlam", afirmou.

No entanto, a primeira vice-primeira-ministra ucraniana, Ioulia Svyrydenko, alertou nesta quarta-feira, em um post no X, que "nosso povo não aceitará um conflito congelado disfarçado de paz".

OTAN, a exigência de Putin

Em relação à OTAN, os Estados Unidos poderiam oferecer a garantia de que a Ucrânia não aderiria à aliança, o que também é uma exigência de Putin. No entanto, a adesão da Ucrânia à União Europeia continuaria sendo uma possibilidade, o que geraria diferentes implicações no cenário geopolítico global.

De acordo com o Financial Times, Vladimir Putin propôs no início de abril ao emissário norte-americano Steve Witkoff interromper sua invasão e congelar a linha de frente atual, caso os Estados Unidos reconheçam a soberania da Rússia sobre a Crimeia e a não-adesão da Ucrânia à OTAN.

Questionado sobre o assunto nesta quarta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, respondeu à agência russa RIA Novosti que "muitos falsos estão sendo publicados neste momento, incluindo por publicações respeitáveis. Por isso, é preciso ouvir apenas fontes primárias".

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O representante de Moscou também destacou, em uma coletiva de imprensa, que "os projetos de acordo não podem ser divulgados publicamente. Assim que se tornam públicos, perdem sua eficácia. Por isso, esse trabalho é naturalmente conduzido com total discrição", insistindo na "necessidade de ser muito prudente com a divulgação de tais informações".

Outro ponto-chave das negociações envolve uma "garantia robusta de segurança" para a Ucrânia, a qual incluiria um grupo de países europeus e possivelmente de fora da Europa, mas sem definições claras sobre como esse compromisso seria concretizado. A Ucrânia, no entanto, teria preferência por uma assistência militar direta dos Estados Unidos para reforçar esse acordo de segurança.

Além disso, a suspensão das sanções contra a Rússia poderia ser considerada, caso um acordo de paz seja alcançado, enquanto a Ucrânia receberia ajuda à reconstrução e compensações financeiras, embora o financiamento dessas medidas ainda seja indefinido.

Trump quer controlar usina nuclear e minerais raros

Donald Trump gostaria de colocar a central nuclear de Zaporíjia, atualmente ocupada pelos russos, sob controle norte-americano. Volodymyr Zelensky também se opõe a essa proposta. De acordo com o Axios, o plano prevê que a central permaneça no território ucraniano, mas seja operada pelos Estados Unidos.

Por fim, o acordo econômico proposto envolve o acesso aos recursos naturais e minerais estratégicos da Ucrânia, com negociações já em andamento entre Washington e Kiev. As propostas dos Estados Unidos visam uma resolução diplomática do conflito, mas continuam sendo fontes de forte resistência por parte da Ucrânia. O Kremlin, por sua vez, tem se mostrado discreto, enfatizando a necessidade de cautela e confidencialidade nas discussões.

Paralelamente às discussões entre norte-americanos, europeus e ucranianos, Washington e Kiev assinaram na semana passada um "memorando de intenção", um primeiro passo para concluir um acordo complexo sobre o acesso aos recursos naturais e aos minérios estratégicos da Ucrânia.

(RFI com AFP)


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