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Josefina Vázquez pode ser a primeira mulher a ocupar a presidência do México

Josefina Vázquez Mota, candidata à presidência do México - Imelda Medina/Reuters
Josefina Vázquez Mota, candidata à presidência do México Imagem: Imelda Medina/Reuters

Luiz Roberto Mendes Gonçalves

15/02/2012 00h00

Brasil, Chile, Argentina, Costa Rica, Nicarágua e Panamá tiveram mulheres na presidência. O México não - e Vázquez Mota quer ser a primeira.

Perguntei-lhe sobre os desafios que enfrenta como candidata no mundo político mexicano, dominado pelos homens. "Ser mulher sem dúvida é um desafio no México", disse-me a candidata do Partido da Ação Nacional e a quinta mulher que se candidata à presidência em uma entrevista, reconhecendo os problemas de machismo e discriminação no país. "Mas confio em que serei a primeira presidente mulher do México."

O principal problema de Vázquez Mota não é de gênero. Tem nome e sobrenome: Felipe Calderón, também do PAN. Muitos mexicanos não estão dispostos a dar seis anos a mais ao PAN - já está há 12 no poder - e querem alguém diametralmente oposto ao presidente Calderón, responsável por uma política antinarcóticos que gerou mais de 50 mil mortos.

Mas quando perguntei a Vázquez Mota se estaria disposta a qualificar essa política como um fracasso e romper com Calderón, não quis fazê-lo. "Eu não sou nem serei mais do mesmo", respondeu, "o que não significa romper com o presidente Felipe Calderón... Na agenda de segurança e de justiça, transitarei para uma segunda fase com melhores policiais, uma melhor distribuição de justiça e cadeia perpétua para os políticos cúmplices do crime."

Essa é uma contradição que Vázquez Mota terá de resolver se quiser ganhar. Não quer ser mais do mesmo, mas essa é precisamente a impressão que dá ao se negar a romper com Calderón.

Na primeira vez em que falei com Vázquez Mota, em 7 de março de 2011, ela se revelou: "Sim, quero", disse-me depois que lhe perguntei se tentaria a presidência. Era a primeira vez que o dizia, e tinha tudo contra ela. Inclusive o próprio presidente, que apoiava outro candidato, Ernesto Cordero. Mas ganhou a nomeação de seu partido e depois de centenas de entrevistas já aprendeu a falar em "sound bites".

Também não cai mais em armadilhas facilmente. Recusou-se a chamar de idiota ou ignorante o candidato do Partido Revolucionário Institucional, Enrique Peña Nieto, como famosamente havia feito antes o escritor Carlos Fuentes. Mas foi igualmente dura ao falar do primeiro colocado nas pesquisas. Peña Nieto "é um homem que não conhece a fundo os problemas do país e que tem muitos compromissos", disse.
Mas Peña Nieto se transformou em um candidato Teflon: tudo resvala nele. Não soube dizer quais eram os três livros que mais influíram em sua vida. Também não pôde explicar com clareza de que morreu sua primeira mulher, nem sabia qual era o salário mínimo ou o preço das tortilhas. E apesar desses grandes erros de mídia ele segue à frente nas pesquisas.

Como o explica? "Essa brecha se cortou e a campanha ainda não começou", disse. "Peña Nieto perdeu pontos e demonstrou sua vulnerabilidade." Ela está disposta a discutir "abertamente e as vezes que forem necessárias" com Peña Nieto e com o candidato do Partido da Revolução Democrática, Andrés Manuel López Obrador.

Outros temas. Vázquez Mota mostrou-se aberta a uma terceira ou quarta rede de televisão. "O México deve abrir concorrência, não só nisto mas em outros mercados. É indispensável. Se quisermos um país próspero e um país mais justo, a concorrência deve ocorrer praticamente em todos os setores."

Católica e frequentadora da missa aos domingos, Vázquez Mota é contra os casamentos entre homossexuais - para ela o matrimônio é só entre um homem e uma mulher - e contra o aborto. Mas esse é um tema que dói. No México o aborto é proibido em 18 estados e, segundo o Consórcio Latino-Americano contra o Aborto Inseguro, a cada ano se realizam 800 mil abortos clandestinos no país. Muitas mulheres foram processadas e até presas depois de se submeter a abortos. "O que eu quero confirmar novamente é que sou a favor da vida", disse-me, "mas sou absolutamente contra - e isto quero deixar muito claro - que as mulheres sejam criminalizadas."

Vázquez Mota aprendeu a não prometer muito. Vicente Fox me disse que criaria um milhão de empregos ao ano e não cumpriu. Felipe Calderón me disse que seria "o presidente do emprego", criando mais de um milhão de trabalhos anuais e também rompeu sua palavra. Ela não dá números, mas em troca fala em três prioridades: "uma educação de qualidade, fortalecer o mercado interno e uma reconstrução da paz no país".

O desafio está escrito. Se Vázquez Mota quiser ser a primeira mulher presidente do México, primeiro terá de se separar do legado funesto de Felipe Calderón e de seus mortos. Depois será obrigada a ganhar da bem azeitada máquina priista de Enrique Peña Nieto, que busca a revanche. Se sobreviver politicamente a esses dois desafios, Josefina Vázquez Mota terá recebido o melhor treinamento possível para o que é, sem dúvida, um dos trabalhos mais difíceis do mundo.