Topo

Um em cada três americanos será hispânico em 2050, diz estudo

Linsley Brennan/AP
Imagem: Linsley Brennan/AP

Jorge Ramos

23/01/2013 00h01

Hoje em dia, um em cada dois recém-nascidos na Califórnia (EUA) é hispânico. Para alegria de muitos e horror - suponho - de alguns poucos, essa é uma tendência que está se ampliando muito além das fronteiras da Califórnia e redefinindo quem é um americano "típico".

Na realidade, quando uma pessoa pensa nos americanos típicos, talvez imediatamente visualize uma família branca ou afro-americana. Mas a cara dos EUA já não é branca ou negra. Agora é uma mistura. As ruas de Los Angeles, Chicago, Nova York e Miami se parecem cada vez mais com as da Cidade do México, San Salvador, San Juan e Santiago de Cuba. Hoje em dia os americanos típicos também são latinos.

Dentro de apenas seis anos - em 2018 -, a maioria dos bebês que nascerem neste país já não serão brancos, segundo calcula o Departamento do Censo. Serão latinos, afro-americanos, asiáticos e de minorias. E até 2043 os brancos, em sua totalidade, deixarão de ser maioria. Bem-vindos aos novos EUA.

Essa verdadeira revolução demográfica é promovida pelos latinos. Atualmente, há cerca de 50 milhões de hispânicos nos EUA, mas seremos 150 milhões em 2050. Um em cada três americanos será hispânico.

Essa tendência mudará a vida política da nação. Espera-se que até 2030 o número de hispânicos aptos a votar - atualmente cerca de 24 milhões - será o dobro. Os eleitores hispânicos decidirão quem é eleito para os cargos públicos, desde os representantes em câmaras municipais até o presidente dos EUA.

Além disso, estamos cada vez mais perto de ter o primeiro presidente hispânico. Os atuais candidatos incluem republicanos como o senador da Flórida Marco Rubio, a governadora do Novo México, Susana Martínez, e George P. Bush (este último é neto e sobrinho dos ex-presidentes George H. W. Bush e George W. Bush, respectivamente). Democratas como Julián Castro, o prefeito de San Antonio, e Antonio Villaraigosa, o prefeito de Los Angeles, também foram mencionados como possíveis futuros candidatos presidenciais. E a lista está se ampliando.

Não há empresa americana que não queira nosso dinheiro. Somos compradores frequentes, entusiastas e leais. Segundo a revista "Forbes", o poder aquisitivo dos hispânicos poderá aumentar até US$ 1,5 bilhão até 2015.

E culturalmente mudamos a maneira como os EUA falam, dançam, votam, competem nas Olimpíadas e comem. Adoro a anedota de que aqui se come mais "salsa" que ketchup e mais tortilhas que "bagels".

Os EUA já são um país bilíngue. São em espanhol alguns dos programas mais assistidos e ouvidos em cidades como Los Angeles, Miami, Houston, Nova York e Chicago. A cobertura televisiva em espanhol pelas trágicas mortes do boxeador porto-riquenho Hector ''Macho’' Camacho e da cantora mexicano-americana Jenni Rivera bateu recordes de audiência e pegou de surpresa os meios de comunicação em inglês. O mesmo ocorreu com a notícia da doença do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Os canais em inglês estiveram em franca desvantagem diante dos que transmitem em espanhol. Estes são outros EUA.

Deixou de ser estranho que atrizes latinas sejam conhecidas em Hollywood só pelo primeiro nome, como Salma (Hayek) e Penélope (Cruz). E José desbancou Michael como o nome mais popular na Califórnia e no Texas.

Tudo isso seria muito bom se não fosse pelo ódio crescente contra hispânicos e imigrantes. E como exemplo basta dizer um nome: o xerife Joe Arpaio. O delegado do condado de Maricopa, no Arizona, foi acusado pelo Departamento de Justiça de discriminação contra os hispânicos. A acusação formal diz que seus agentes detêm hispânicos simplesmente por sua aparência. Arpaio afirma que não é verdade.

A realidade é que há muitos Arpaios nos EUA. Que um delegado como ele tenha sido reeleito tantas vezes fala sobre uma importante parte do eleitorado americano que pensa como ele. Isso explica em parte as leis anti-imigrantes do Arizona, Alabama e Geórgia, para mencionar apenas três, que na prática criminalizam o ser estrangeiro e o que parece diferente nos EUA. Nesses lugares se respira o ódio e o medo.

Estes são tempos muito estranhos. Assim como a comunidade latina cresce a passos gigantescos, também há uma enorme resistência a reconhecer os hispânicos como uma parte fundamental dos EUA. Basta apontar o número de deportados - mais de 1,5 milhão em quatro anos - e a negativa do Congresso durante um quarto de século a aprovar uma nova lei migratória.

Mas, no final das contas, "demografia é destino", como disse o escritor conservador George Will. Os hispânicos somos muitos, seremos mais e a única coisa que nos falta é um pouquinho mais de poder para que ninguém, nunca, nos empurre para o lado.