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Trapalhadas de Trump ferem eleitores dos EUA de origem hispânica

Donald Trump, 69, empresário norte-americano, anunciou que vai entrar na disputa pela Casa Branca - Richard Drew/AP
Donald Trump, 69, empresário norte-americano, anunciou que vai entrar na disputa pela Casa Branca Imagem: Richard Drew/AP

Jorge Ramos

25/06/2015 00h01

Donald Trump já ganhou. Já é o número 1. Transformou-se rapidamente no homem mais odiado por muitos mexicanos e latinos nos Estados Unidos. Trump desbancou desse desonroso lugar o xerife do Arizona Joe Arpaio, acusado pelo governo federal de prender imigrantes só por seu aspecto físico, e a escritora conservadora Ann Coulter, que disse recentemente que os imigrantes mexicanos são tão perigosos quanto os terroristas do Estado Islâmico.

"Quando o México envia sua gente [aos EUA]", disse Trump ao anunciar sua campanha na semana passada em Nova York, "não está enviando os melhores, envia pessoas que têm muitos problemas e trazem esses problemas para nós. Estão trazendo drogas, estão trazendo crimes. São violadores. E alguns, creio, são boas pessoas".

A declaração de Trump é errônea, está cheia de preconceitos étnicos e demonstra uma enorme ignorância sobre os imigrantes mexicanos nos EUA. Trump não sabe o que está dizendo. São puras "trump(alhadas)" sem nenhuma base na realidade.

A grande maioria das 33,7 milhões de pessoas de origem mexicana que havia nos EUA em 2012, segundo o Centro de Pesquisas Pew, não é narcotraficante, criminosa nem violadora, como sugeriu Trump. Ao contrário: 570 mil empresas de imigrantes mexicanos nos EUA geram mais de US$ 17 bilhões por ano, segundo cifras do governo do México.

Esses imigrantes que o México envia aos EUA --11,4 milhões-- e que, segundo Trump, não são "os melhores", construíram seus edifícios, colheram a comida que o alimenta e contribuíram para sua enorme fortuna (calculada em mais de US$ 4 bilhões pela revista "Forbes"). É uma hipocrisia de Trump criticar os mexicanos e, ao mesmo tempo, beneficiar-se de seu trabalho. Nos últimos meses, visitei seu hotel em El Doral, na Flórida, e o Trump International Hotel and Tower, em Nova York, e muitos dos extraordinários empregados que me atenderam são mexicanos. O que pensarão esses empregados de seu chefe? Por que ele fala dos mexicanos com tanto ódio?

Proponho a Trump, que tanto gosta de fazer desafios em seu programa de televisão, "The Apprentice", o seguinte: passe um dia, só um, sem seus empregados mexicanos e latinos. Não poderia. Seus negócios se paralisariam. Um dia sem mexicanos pararia o império Trump.

É incrível que um empresário de tanto sucesso quanto ele não compreenda a importância do mercado latino e dos mexicano-americanos (que formam 65% da população hispânica). O mercado hispânico gera mais de US$ 1,2 trilhão por ano. Os latinos formam a 14ª maior economia do mundo (segundo o Centro Celig da Universidade da Geórgia). Trump precisa fazer urgentemente um curso de história e economia ou uma visita às cozinhas, porões e elevadores de serviço de seus próprios hotéis.

Trump também propôs a absurda ideia de fechar os 3.126 quilômetros de fronteira com o México. "Eu construiria uma grande muralha", disse, "e ninguém constrói muros melhor que eu". Mas seria um desperdício de tempo e dinheiro. Quase 40% de todos os sem documentos chegam de avião; vêm com visto e depois ficam. Nenhuma muralha construída por Trump poderia detê-los.

Além disso, para que Trump quer uma muralha quando o número de mexicanos sem documentos detidos na fronteira sul baixou de 1,6 milhão em 2000 para 229 mil em 2014? É o número mais baixo em quatro décadas, segundo o Centro Pew.

Ao criticar os mexicanos, Trump esquece que muitos deles deram suas vidas nas guerras dos EUA. Basta ver a lista de soldados caídos nos conflitos do Iraque e do Afeganistão. Estão cheias de sobrenomes hispânicos. Esses mexicanos, que Trump comparou com criminosos, aqui são chamados de heróis.

Trump não compreende que falar assim é perigoso. As palavras importam. É um terrível exemplo que um candidato presidencial destile tanto ódio contra um grupo étnico. Outros poderiam imitá-lo ou, pior, tomar medidas violentas.

É muito preocupante também que quase todos os candidatos presidenciais dos dois partidos políticos tenham se calado diante dos venenosos, difamatórios e ignorantes comentários de Trump. É um silêncio doloroso. Suponho que sejam cálculos de campanha. Mas, se Trump acreditava que com suas declarações preconceituosas fosse conseguir votos, enganou-se. Ao contrário. Já perdeu o voto latino, e portanto a Casa Branca. Está demitido.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves