Jamil Chade

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Reportagem

Governos estrangeiros oferecem ajuda ao RS; ONU pede preparação do país

Governos estrangeiros entraram em contato com o Brasil e com as autoridades do Rio Grande do Sul para oferecer ajuda diante das enchentes que fizeram dezenas de vítimas e abalaram todo o estado. Venezuela, Paraguai, Argentina, Uruguai, Chile e Emirados Árabes foram alguns dos que se disseram dispostos a enviar auxílio.

O governo da Alemanha, diante da importante colônia de descendentes no Sul, também anunciou que já está em contato com as autoridades locais para permitir que uma ajuda por parte de Berlim chegue à região. Em 2021, a Alemanha também sofreu uma enchente e foi o epicentro do desastre natural na Europa que causou 220 mortes. Naquele ano, o impacto das águas representou um custo de 30 bilhões de euros.

Fontes do governo brasileiro, porém, apontam que nem tudo o que está sendo oferecido pelos estrangeiros poderá chegar neste momento, diante da situação no terreno.

Enquanto isso, a situação brasileira chama a atenção por sua dimensão. A OMM (Organização Meteorológica Mundial), uma agência da ONU, destacou como as "chuvas recordes ligadas ao El Niño causaram inundações sem precedentes no estado do Rio Grande do Sul", com um número crescente de vítimas e perdas econômicas e de infraestrutura.

Para a entidade, "não há previsão de alívio imediato". Cerca de 19 mil pessoas ficaram desabrigadas, 116 mil foram desalojadas e quase 850 mil foram afetadas em 341 municípios. A agência destacou como autoridades nacionais salvaram 1.000 pessoas por meio de operações de resgate e emergência, conforme relatado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul.

Mas o desastre passou a mobilizar também entidades no exterior. "O Serviço de Gerenciamento de Emergências Copernicus da União Europeia foi ativado no modo de mapeamento rápido em 3 de maio para fornecer a extensão das enchentes e a avaliação dos danos", disse.

Impactos do El Niño

Para a agência da ONU, tanto o caso brasileiro como a situação africana revelam que uma maior preparação é necessária.

"O desastre no Brasil - e as inundações em andamento no leste da África - destacam a necessidade de uma resposta mais integrada aos impactos do El Niño e das mudanças climáticas e de alertas antecipados para todos", disse.

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Isso foi solicitado pela OMM em uma reunião temática especial das Nações Unidas recentemente.

"O período entre o final de abril e o início de maio de 2024 ainda é influenciado pelo El Niño. O fenômeno, responsável pelo aquecimento das águas do Pacífico, ajudou a bloquear as frentes frias e a concentrar os sistemas de áreas de instabilidade sobre o Rio Grande do Sul", explicou.

"Além dessa condição, a temperatura bem mais elevada do Oceano Atlântico Sul, próximo à faixa equatorial, também contribui para a umidade, intensificando as chuvas. O transporte de umidade da Amazônia e o contraste térmico com o ar mais quente ao norte da região Sul, bem como o ar mais frio ao sul do Rio Grande do Sul, também ajudaram a fortalecer as tempestades", completou.

Mudança climática provoca migração

A situação brasileira também foi destacada em outro informe publicado hoje, desta vez sobre migrações.

A América do Sul enfrenta "desafios assustadores" relacionados à degradação ambiental, aos desastres e à mudança climática - incluindo o deslocamento de pessoas. O alerta é da Organização Internacional de Migrações (OIM), que indica que a situação agrava as condições em vários países que já estão passando por crises relacionadas a conflitos e violência.

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Relatórios recentes, inclusive da Organização Meteorológica Mundial e do IPCC, mostram que, além dos impactos das mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar —especialmente ao longo da costa atlântica da América do Sul—, alguns países, como o Peru, também observaram o recuo das geleiras e, ao mesmo tempo, as condições de seca afetaram negativamente a produção agrícola na sub-região.

"Os impactos da mudança climática estão afetando os meios de subsistência das pessoas, obrigando algumas a migrar de seus locais de origem", afirma o informe.

O maior número de deslocados estaria no Brasil. Segundo o levantamento, "as enchentes foram as principais responsáveis pelo desencadeamento de mais de 700 mil deslocamentos em 2022".

"Além disso, os eventos climáticos extremos ligados à mudança climática continuam a contribuir para o deslocamento, em uma sub-região que já está lidando com conflitos e violência, além de outros fatores socioeconômicos e políticos que expulsaram milhões de pessoas de suas casas e comunidades", destacou.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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