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François Hollande entre os problemas de alcova e os problemas da Europa

17/01/2014 06h00

A conferência de imprensa do presidente François Hollande, na última terça-feira, foi seguida por muitas editorias da mídia mundial. Cerca de 600 jornalistas, um terço dos quais eram correspondentes estrangeiros, ouviram o presidente francês no Palácio do Elysée. Havia uma grande curiosidade sobre os problemas conjugais do presidente, cuja companheira estava no hospital, vitimada por uma crise nervosa após tomar conhecimento que havia outra mulher na vida de Hollande.

Foi sobre este assunto que foi colocada a primeira pergunta ao presidente. Na sua resposta, ele desconversou, dizendo que passava por uma crise conjugal e iria esclarecer o caso  mais tarde, antes de sua visita oficial no mês fevereiro aos Estados Unidos.

As sondagens mostraram que os franceses guardam distância das peripécias conjugais de seu presidente: 84% não mudaram sua opinião sobre Hollande depois do noticiário sobre sua alegada infidelidade. Outras sondagens registram que a maioria dos cidadãos considera que o assunto pertence à esfera da vida privada de François Hollande. Trata-se de um traço cultural da opinião pública e da mídia francesa, a qual, espontaneamente, guardou silêncio sobre a segunda família do então presidente Mitterrand durante seus dois mandatos (1981-1995).

De todo modo, havia outras razões que colocavam o presidente contra o muro na entrevista de terça-feira. Com uma taxa de aprovação que não ultrapassa 25% das opiniões, a mais baixa registrada desde a primeira presidencial pelo voto direto (1965), Hollande tinha que dar uma virada no seu mandato para não perder as presidenciais de 2017 logo no primeiro turno.

Assim, várias medidas importantes foram anunciadas pelo presidente, cuja maioria parlamentar lhe permite efetivar mudanças de folego. Haverá uma redução dos encargos patronais, uma simplificação administrativa para facilitar a criação de empresas, uma reforma territorial visando estruturar metrópoles regionais de dimensão europeia e uma intensificação de relações com a Alemanha, inclusive no plano militar.

Alguns jornais compararam a virada na política presidencial à “agenda 2010” que o ex-chefe social-democrata do governo alemão, Gerhard Schröeder, pôs em prática no seu governo em 2003, permitindo o aumento da competitividade da economia alemã. Aliás, com os sociais-democratas alemães no ministério de Angela Merkel, dividindo o poder na “grande coalizão” que governa agora a Alemanha, a conjuntura é favorável a uma maior aproximação franco-alemã. Espera-se no médio prazo iniciativas dos dois países para relançar a unificação europeia.

Talvez isso ainda demore. Mas desde já Hollande obteve uma vitória. Saudado pela imprensa europeia, o anúncio dessas medidas tirou o tema das confusões conjugais do presidente francês da pauta dos jornais.