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França enfrenta crise política movida pela austeridade

15.mai.2014 - Trabalhadores do setor público seguram balões com fotos do presidente da França, François Hollande (à esq.), e do premiê, Manuel Valls, durante protesto contra as medidas de austeridade econômica - Charles Platiau/Reuters
15.mai.2014 - Trabalhadores do setor público seguram balões com fotos do presidente da França, François Hollande (à esq.), e do premiê, Manuel Valls, durante protesto contra as medidas de austeridade econômica Imagem: Charles Platiau/Reuters

25/08/2014 10h23Atualizada em 25/08/2014 12h15

Muitos franceses, boa parte deles ainda em férias de verão em seu país ou no estrangeiro, foram surpreendidos na manhã desta segunda-feira (25) pela notícia da demissão do governo do primeiro-ministro socialista Manuel Valls.

O pedido de demissão de Valls e de seu ministério foi causado pelas duras críticas à política econômica do governo - e do presidente François Hollande - feitas pelo próprio ministro da Economia, Arnaud Montebourg. Alisando a esquerda socialista e os setores nacionalistas do eleitorado francês, Montebourg criticou os planos de austeridade e as restrições orçamentárias que, segundo ele, penalizam o crescimento e a criação de empregos na França e nos outros países da UE.

Indo mais além, Montebourg atacou diretamente o governo de Angela Merkel, principal aliada da França: “se nós tivermos de seguir a ortodoxia mais extremista da direita alemã, isto (...) significaria que, mesmo quando os franceses votam na esquerda francesa, eles estariam votando, na verdade, na implementação do programa da direita alemã”.

Na circunstância, Valls só tinha uma saída: pedir a demissão de seu governo, em pleno acordo com Hollande, que imediatamente o encarregou de formar um novo ministério mais coerente com a atual política francesa.

Sai Montebourg, e talvez outros ministros seus aliados, mas os problemas da França continuam e deverão ser enfrentados pelo novo ministério que será empossado nesta semana. 

Nos últimos quatro trimestres o crescimento do PIB francês foi de 0%, deixando o país à beira da recessão que atingiu oficialmente a Itália, terceira economia da UE, no começo deste mês.

Hollande e Valls estão decididos a continuar o aperto fiscal, confiantes que a economia do país retomará o crescimento mais adiante. Porém, a popularidade do presidente e do premiê está em plena queda. Da mesma forma, o governo socialista só dispõe de uma tênue maioria de votos no Parlamento. Contando com 291 deputados, os socialistas só tem dois parlamentares a mais do que a maioria absoluta (289 deputados) necessária para formar o governo.

Em outras palavras, o novo governo Valls e o presidente Hollande estão contra a parede. Caso sua política não apresente bons resultados nos próximos meses, só restará uma alternativa para Hollande: convocar novas eleições parlamentares e formar uma nova maioria parlamentar. Ora, todas as sondagens demonstram que tais eleições terão, nesta altura, resultados devastadores para os socialistas e para Hollande.

Em resumo, o novo governo Valls é o ministério da última chance para a presidência de François Hollande.