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Vitória da esquerda radical na Grécia representa mudanças na UE

O líder do partido de esquerda grego Syriza, Alexis Tsipras, tomou posse como primeiro-ministro nesta segunda-feira (26) - Petros Giannakouris/AP
O líder do partido de esquerda grego Syriza, Alexis Tsipras, tomou posse como primeiro-ministro nesta segunda-feira (26) Imagem: Petros Giannakouris/AP

26/01/2015 19h52

A vitória da Syriza (abreviação em grego do partido intitulado Coalizão da Esquerda Radical) nas eleições legislativas e a formação do novo governo grego representa uma importante mudança no país e na UE (União Europeia).

Observe-se que as eleições foram desastrosas para os grandes partidos tradicionais e para as três oligarquias familiais --dos Karamanlis, dos Papandreou e, numa menor medida, dos Mitsotakis-- que compartilham os governos parlamentaristas gregos há décadas, tanto antes como depois da ditadura dos coronéis (1967-1974).

Outro ponto de destaque é a composição do novo governo. Nesta segunda-feira (26), tudo indica que Alexis Tsipras, líder da Syriza, assumirá o posto de primeiro-ministro com o apoio do partido de direita GI (Gregos Independentes), que obteve 13 deputados. GI é dirigido por Panos Kammenos, cristão ortodoxo que exprime opiniões xenófobas.

Junto com os 149 deputados eleitos por Syriza, os dois partidos darão uma confortável maioria ao governo de Tsipras (o regime parlamentar do país é monocameral, não tendo portanto Senado). No quadro europeu, o GI é um partido “soberanista”, afiliando-se aos partidos de direita e de esquerda de diversos países da UE que propugnam pela soberania nacional e pela redução das instituições europeias.

Desse modo, em vez de aliar-se com os centristas do partido O Rio (Potami, com 17 deputados) ou com os comunistas (KKE, que elegeram 15 deputados), mais próximos de seu programa social, Tsipras optou pelo apoio dos eurocéticos conservadores do GI. Sinal de que o embate principal de seu governo será com os dirigentes da UE, o Banco Central Europeu e o FMI, visando a renegociação da dívida externa grega.

Representando 321,7 bilhões de euros (175% do PIB nacional), a dívida pública garroteia a economia e a política grega. No curto prazo, a situação é ainda mais crítica: o país precisa tomar emprestado mais 7 bilhões de euros para evitar o colapso financeiro nos próximos meses. Em todo caso, é a primeira vez que um partido frontalmente oposto à política de austeridade econômica aplicada por Bruxelas governa um país da UE.

O agravamento do contencioso sobre a dívida pública grega teve efeito imediato, causando, entre outras repercussões, uma desvalorização do euro.

Outra consequência mais sutil do embate em torno da dívida grega foi a reação de François Hollande. Telefonando já nesta segunda-feira para Tsipras, o presidente francês convidou-o a encontrá-lo “rapidamente” em Paris, acrescentando: “A França estará ao lado da Grécia neste período importante”... para que o governo de Atenas retome “o caminho da estabilidade e do crescimento”.

Primeiro líder europeu a convidar Tsipras para uma visita oficial, Hollande se posiciona como mediador entre o novo governo grego e os conservadores europeus, leia-se Angela Merkel. Para além da rivalidade franco-alemã, a manobra de Hollande pode também atenuar a política de austeridade conduzida pelas instituições da UE em Bruxelas sob a tutela da Alemanha.

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