Ataques a Paris trazem de volta temor com ações jihadistas
Os atentados de sexta-feira (13) em Paris são os mais graves jamais ocorridos na França. Nos debates entre os especialistas na TV francesa ficou claro que as perdas poderiam ter sido ainda maiores. Seria certamente o caso se os três terroristas que detonaram suas bombas perto do Stade de France tivessem conseguido entrar no estádio, ou explodido os artefatos nos túneis de saída, no meio da multidão que acabara de assistir o jogo França x Alemanha.
O presidente François Hollande atribuiu os atentados ao Daesh, nome usado na França e em outros países para designar o autodenominado Estado Islâmico. Segundo testemunhas, enquanto atiravam no público que assistia ao show de rock no Bataclan, os terroristas gritaram que estavam se vingando “do que a França fazia na Síria”. Há um velho contencioso político entre a França e a Síria, que esteve sob protetorado francês, entre 1920 e 1946, quando Paris e Londres se repartiram os territórios do Oriente Médio arrancados ao império otomano.
Mais recentemente, a partir de dezembro de 2014, a França ataca posições do Daesh no Iraque e na Síria (desde setembro deste ano). Doze caças franceses baseados na Jordânia e em Abu Dhabi bombardeiam os dois países. A próxima chegada do porta aviões Charles De Gaulle no golfo Pérsico irá dobrar a capacidade de ataque francesa. Essa é a conjuntura dos conflitos no Oriente Médio no qual se inserem os atentados desta sexta-feira (13).
Há entretanto outras circunstâncias próprias ao quadro social francês. A França é o país europeu em que há o maior número de indivíduos (unicamente franceses ou com dupla nacionalidade) recrutados pelo Daesh para combater na Síria e no Iraque. Os serviços secretos franceses acreditam que existem no país alguns milhares de potenciais recrutas do Daesh. Segundo o jornal “Le Monde”, um ataque da aviação francesa lançado contra Rakka, capital do Daesh na Síria, visava o francês Salim Ben Ghalem, considerado como o coordenador dos jihadistas franceses ou francófonos (belgas ou suíços) e tido como o mais alto responsável francês da direção do Daesh. Neste contexto, a primeira identificação de um dos autores dos atentados do dia 13, um terrorista francês fichado pela polícia, trouxe de volta o temor com as ações da nova vaga jihadista, patenteada desde janeiro, quando três terroristas franceses muçulmanos perpetraram os assassinatos na sede de Charlie Hebdo e na mercearia judaica.
Reagindo diante dos acontecimentos do dia 13, Gilles Keppel, um dos maiores estudiosos franceses do mundo árabe, declarou que o objetivo de Daesh é “desencadear uma guerra civil” na França e na Europa. Para tanto, os terroristas esperam que a sequência de atentados jihadistas desencadeie uma perseguição dos muçulmanos, incêndio de mesquitas e outras represálias que aumentem as tensões intercomunitárias até que estourem conflitos armados entre muçulmanos e não muçulmanos nas cidades europeias.
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