Topo

Vodu, ao estilo de Jeb Bush

Paul Krugman

20/06/2015 00h00

Na segunda-feira (15) Jeb Bush --acho que devo dizer Jeb!, já que ele parece ter decidido substituir seu nome de família com um sinal de pontuação-- finalmente lançou sua campanha para a Casa Branca e deu-nos uma primeira visão de seus objetivos políticos. Primeiro, ele diz que, se for eleito, vai dobrar a taxa de crescimento econômico dos Estados Unidos para 4%. Em segundo lugar, ele vai permitir que todos os norte-americanos percam tanto peso quanto quiserem, sem qualquer necessidade de dieta ou exercícios.

Está certo, ele não chegou a fazer essa segunda promessa, mas podia. Teria sido tão realista quanto prometer um crescimento de 4% e consideravelmente menos irresponsável.

Em um minuto falo da prática econômica de Jeb!, mas primeiro deixe-me contar um pequeno segredo sujo da economia, a saber, que não conhecemos muito sobre como aumentar a taxa de crescimento econômico de longo prazo. Os economistas sabem como promover a recuperação em momentos de quedas temporárias, apesar dos políticos geralmente se recusarem a seguir seus conselhos. No entanto, quando a economia está perto do pleno emprego, o aumento do crescimento depende de um avanço da produção por trabalhador. E, embora haja coisas que possam ajudar isso, a verdade é que ninguém sabe como evocar ganhos rápidos de produtividade.

Por que, então, Bush imagina que ele está a par de segredos que ninguém conhece?

Uma resposta realmente engraçada é que ele acredita que o crescimento da economia da Flórida durante seu mandato como governador serve de modelo para a nação. Por que isso é engraçado? Porque todos, exceto Bush, sabem que, durante esses anos, a Flórida prosperou graças à maior de todas as bolhas imobiliárias. Quando a bolha estourou, o Estado mergulhou em uma profunda depressão, muito pior do que a da nação como um todo. Se você somar o 'boom' e a queda, o desempenho econômico de longo prazo da Flórida foi um pouco pior do que a média nacional.

A chave para o histórico de sucesso de Bush foi um bom 'timing' político: ele conseguiu deixar o cargo antes da natureza insustentável do 'boom' tornar-se óbvia.

As promessas econômicas de Bush, contudo, refletem algo mais do que o simples auto-engrandecimento. Elas também refletem o hábito de seu partido de se gabar de sua capacidade de fornecer um crescimento econômico rápido, mesmo que não haja nenhuma evidência para justificar tal orgulho. É como se um bando de homens relativamente baixos se gabassem a todos por aí dizendo que têm 1,90 m de altura.

Para ser mais específico, da próxima vez que você encontrar algum conservador falando de crescimento, talvez seja interessante levantar a seguinte lista de nomes e números: Bill Clinton, 3,7; Ronald Reagan, 3,4; Barack Obama, 2,1; George H. W. Bush, 2,0; George W. Bush, 1.6. Sim, são os últimos cinco presidentes e a taxa média de crescimento da economia norte-americana durante seus governos (até agora, no caso de Obama).

Obviamente, os números brutos não contam toda a história, mas certamente não há nada nesta lista para sugerir que os conservadores possuem algum tipo de cura milagrosa para a lentidão econômica. E como muitos assinalaram, se Jeb! conhece o segredo para um crescimento de 4%, por que ele não contou ao pai e ao irmão?

Considere, por exemplo, a experiência de Kansas, onde o governador Sam Brownback promoveu cortes de impostos radicais supostamente para impulsionar o rápido crescimento econômico. “Vamos ver como funciona. Vamos ter uma experiência real e viva”, declarou. E os resultados da experiência já chegaram: o grande crescimento prometido nunca ocorreu, mas os grandes deficits sim, e, apesar de cortes terríveis no orçamento de escolas e de outros serviços públicos, o Kansas, eventualmente, teve de aumentar os impostos novamente (com a dor concentrada na população de baixa renda).

Por que, então, todo esse alarde sobre o crescimento? A resposta rápida, com certeza, é que é principalmente uma forma de vender para o público em geral a redução de impostos para os ricos. Esses cortes são impopulares, e ainda mais quando devem ser pagos com impostos mais elevados sobre as famílias que trabalham ou pela redução dos programas governamentais populares, como no caso dos cortes de impostos do Kansas para as empresas e os ricos. No entanto, impostos baixos para os ricos são uma prioridade política primordial da direita --e as promessas de milagre de crescimento permitem que os conservadores aleguem que todo mundo vai se beneficiar com os efeitos em cascata e que os cortes de impostos podem até se pagar.

Existe, naturalmente, um termo para esse tipo de política nacional baseada em um falso otimismo que serve aos interesses próprios (e da plutocracia). Lá atrás, nos anos 1980, George H. W. Bush, concorrendo contra Reagan para a nomeação presidencial, chamou isso de “política econômica vodu”. E apesar da idolatria ao Reagan hoje ser obrigatória no Partido Republicano, a verdade é que ele estava certo.

Então, qual deve ser a situação do partido quando o filho de Bush, muitas vezes retratado como o membro moderado e razoável da família, decide tornar-se um sumo sacerdote de economia de vodu? Nada boa.

Tradução: Deborah Weinberg