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Você nunca sabe de onde pode vir a inspiração, mas ela está por aí

Richard Branson

21/01/2015 00h07

P.: Eu já tentei muitas rotas diferentes na minha vida, incluindo cursar uma universidade e ingressar nas forças armadas. Mas todos meus planos fracassaram.

Como estudante, eu tive nota alta nos testes de empreendedorismo, então decidi abrir minha própria empresa e tentar romper algumas tendências estabelecidas, mas estou tendo dificuldades para começar.

Você pode me oferecer alguma dica a partir de sua própria experiência sobre como encontrar inspiração e ter uma ideia original?

–Matthew Howman


R: Na Virgin, nossos maiores sucessos raramente vieram da invenção de novos produtos ou serviços; eles vieram do ingresso em setores existentes e de dar nova vida a produtos ou serviços. Por exemplo, nós certamente não inventamos a aviação comercial quando abrimos nossa companhia aérea, a Virgin Atlantic, nem inventamos o serviço ferroviário ou bancário com a Virgin Trains e Virgin Money. Em vez disso, o que fizemos em cada caso foi olhar de modo altamente crítico aos serviços ruins que os provedores existentes estavam oferecendo e então elevar do modo sistemático o nível.

E funcionou.

O que quero dizer, Matthew, é que você não precisa necessariamente ter sua própria ideia "original". Como já escreveu o grande escritor Mark Twain: "Todas as ideias são de segunda mão, consciente ou inconscientemente extraídas de um milhão de fontes externas".

Tendo isso em mente, sua busca para romper tendências estabelecidas deve começar explorando as fontes externas, para identificar um produto ou serviço existente que pode se beneficiar com um aprimoramento, revitalização, uma nova embalagem ou fornecimento de nova forma.

Permita-me ilustrar o que estou dizendo: eu sempre fiquei intrigado pela forma como os melhores escritores de humor –como Larry David, o brilhante criador da série de TV "Seinfeld"– extraem seu melhor material ao simplesmente escutarem as conversas de outras pessoas sobre as excentricidades e frustrações cotidianas, e ao experimentarem esses problemas eles mesmos. Esses escritores não se trancam e ficam aguardando pela chegada da inspiração. O mesmo vale para os empreendedores.

É preciso estar no meio das coisas –escutando, observando e tocando tudo à sua volta. Um avanço ocorrerá quando você se deparar com algo que simplesmente não parece certo, não funciona direito, não cheira bem ou não tem o sabor ideal. De fato, encontrar um produto ou serviço que precisa de uma sacudida realmente se resume a usar todos seus cinco sentidos. Encontre uma forma de fazer melhor do que o original e você estará no caminho certo.

Como relato com frequência, minha inspiração para ingressar na aviação comercial –um setor sobre o qual eu não sabia absolutamente nada– veio totalmente da minha insatisfação como passageiro. Anos atrás, tendo que cruzar com frequência o Atlântico a negócios pela Virgin Records, eu viajava por aquela outra companhia aérea britânica, onde até mesmo a chamada classe "econômica" era ridiculamente cara e o serviço era consistentemente péssimo.

Em uma dessas viagens, uma luz se acendeu sobre minha cabeça.

Assim, como de costume, eu comecei a fazer anotações em cada voo. Eu achava que nossa equipe na Virgin certamente seria capaz de fazer um serviço melhor. O que aconteceria se pudéssemos transformar um serviço péssimo em um serviço incrível? E se servíssemos aos passageiros comida real e lhes fornecêssemos um entretenimento decente a bordo?

Como já escrevi antes, quando finalmente reunimos minhas anotações em um plano de ação e lançamos a Virgin Atlantic em 1984, a inovação mais comentada era a mais óbvia: nós tínhamos tripulantes de fato felizes, agradáveis e que se importavam com nossos passageiros! Estava longe de ser uma coisa de gênio, mas foi, mesmo assim, algo que mudou o setor.

O mesmo pode ser dito sobre nossas lojas da Virgin Records (na época em que as pessoas compravam música em lojas!). Era verdade que você podia comprar música em vários outros lugares, mas você não tinha funcionários animados, com conhecimento, fazendo recomendações excelentes em um ambiente único, agradável. Ao longo dos anos, nossos clientes podem ter mudado de hippies para punks e new romantics, mas nosso foco em um serviço incrível era constante. Essa linha de pensamento funcionou na Virgin Records, na Virgin Atlantic e a mesma fórmula de serviço voltado à pessoa se tornou o diferenciador nos trens, bancos, telecoms, hotéis, academias de ginástica e vários outros negócios da Virgin.

Lembre-se que mesmo em nosso mundo agora digital, talvez ainda mais, as pessoas ainda fazem a diferença. Seja qual for o negócio que você olhe, seja um conglomerado multinacional ou a loja da esquina, um ótimo atendimento ao cliente é o nome do jogo.

No seu caso, Matthew, eu recomendo que você passe a olhar para os serviços que você usa diariamente de modo mais objetivo. Considere qualquer uma de suas falhas como sendo uma oportunidade para você fazer melhor. Escute atentamente aos seus amigos quando expressarem frustrações como, "É realmente impossível encontrar um bom XYZ por aqui", e ver se você pode preencher a lacuna.

Você nunca sabe de onde pode vir a inspiração, mas eu asseguro que ela está por aí. Apenas coloque seus sentidos para trabalhar.