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Chuck Hagel é uma excelente aposta para o cargo de secretário de Defesa

Thomas L. Friedman

04/01/2013 00h01

Caso você ainda não tenha ouvido falar, o presidente Barack Obama está pensando em nomear Chuck Hagel, ex-senador dos Estados Unidos pelo Estado de Nebraska e premiado com a condecoração Purple Heart, como o próximo secretário de Defesa – e isso provocou um mini-tiroteio entre os críticos e os defensores de Hagel. Eu apoio Hagel. Eu acredito que ele daria um bom secretário de defesa – precisamente porque alguns de seus pontos de vista não são “mainstream”, ou seja, não são os clichês tradicionais. Para mim, a oposição ao nome dele está dividida em duas categorias: a repugnante e a filosófica. É vital avaliar ambas as categorias para perceber por que Hagel seria uma boa indicação para a pasta da Defesa neste momento.
 
A oposição repugnante está relacionada ao fato de Hagel ter, certa vez, descrito o lobby pró-Israel como o “lobby judaico” (apesar de ele também ser formado por alguns cristãos). E, devido ao fato de ele ter declarado, sem nenhum rodeio, que seu trabalho como senador dos EUA não tinha nada a ver com receber ordens do lobby de Israel, e sim com a promoção dos interesses dos EUA, Hagel foi tachado de inimigo de Israel – na melhor das hipóteses – ou antissemita – na pior. Se em algum momento Israel já precisou de um secretário de Defesa norte-americano comprometido com a sobrevivência do estado judaico – como Hagel constantemente afirma estar –, mas que estivesse convencido de que a garantia dessa sobrevivência não significa obrigar os EUA a apoiar o movimento lunático e autodestrutivo de Israel para ampliar os assentamentos na Cisjordânia e impedir a implantação de uma solução de dois Estados – esse momento é agora.
 
Eu tenho certeza de que a grande maioria dos senadores e responsáveis pelas políticas públicas dos EUA pensam – silenciosamente – exatamente da mesma forma que Hagel em relação a Israel – ou seja, que o país está, mais do que nunca, cercado por inimigos implacáveis e que precisa e merece o apoio dos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, o atual governo israelense é tão mimado e se deslocou tanto para a direita que não faz nenhum esforço para levar em consideração os interesses dos EUA e reduzir a velocidade da aventura de auto-isolamento que são os assentamentos. E a situação vai piorar. Os amigos de Israel precisam entender que os partidos de centro-esquerda israelenses estão morrendo. A eleição que acontecerá em Israel neste mês de janeiro vai alçar ao poder políticos direitistas que nunca foram mencionados durante os jantares realizados para promover a venda de títulos de Israe. Esses políticos são pessoas que querem anexar a Cisjordânia. Bibi Netanyahu é a pomba da paz em pessoa se comparado a esse grupo. A única coisa capaz de se colocar entre Israel e o suicídio do país são os EUA e sua vontade de dizer a verdade aos israelenses. Mas a maioria dos senadores, dos responsáveis pelas políticas públicas e dos judeus norte-americanos preferem enfiar a cabeça na areia, pois confrontar Israel é algo muito desagradável e politicamente perigoso. Hagel, pelo menos, se importa o suficiente com Israel para ser uma exceção.
 
Ninguém captou o desespero de Israel melhor do que Bradley Burston, colunista do jornal israelense Haaretz, que escreveu outro dia: “Este ano, para o Hanukkah, eu desejo que quem for governar este país, este Israel, me mostre um raio de luz. Um movimento – qualquer movimento – pela liberdade para todos os povos que vivem aqui. Um passo – não importa quão pequeno – na direção de um futuro melhor. O que torna este Hanukkah diferente de todos os outros? É a escuridão. É a sensação de que este país – cercado por inimigos e cercado por si mesmo – fechou todas as portas para o futuro e lacrou cada janela para a esperança... Este país começou a se parecer com uma lâmpada cujo corpo está rachado e cuja luz se exauriu. Nessas noites longas, podemos distinguir pouca coisa além de uma ocupação (dos territórios palestinos) cada vez mais permanente e de uma democracia cada vez mais temporária”.
 
Por isso eu me posiciono ao lado daqueles que pensam que seria muito bom para Israel ter mais alguns amigos sinceros e sem rodeios no gabinete dos EUA.
 
A crítica filosófica legítima a respeito de Hagel está relacionada a suas preferências declaradas por encontrar uma solução negociada para o programa nuclear do Irã, a sua vontade de envolver o Hamas no processo de negociação para verificar se é possível demovê-lo de seu extremismo, a sua crença de que o orçamento do Pentágono deve ser cortado e a sua aversão a iniciar uma nova guerra em lugares como Iraque e Afeganistão, pois ele já foi à guerra e sabe quantas coisas podem dar errado. Quer você concorde com esses pontos de vista ou não, seria muito saudável incluir tais temas nos debates sobre a segurança nacional do presidente.
 
Por exemplo: para mim, é impossível visualizar como os EUA conseguirão garantir seus interesses no Irã, no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no Bahrein e no Líbano sem antes encerrar a Guerra Fria EUA-Irã no Oriente Médio. Eu sou cético e não acredito que isso seja possível. Eu acredito que o regime iraniano precisa se manter hostil aos EUA para conseguir justificar sua permanência no poder. Mas, com as sanções estão realmente afetando o Irã, eu gostaria de testar e testar mais uma vez para verificar se um acordo diplomático é possível antes de qualquer ataque militar. Eu acredito que o Hamas tem como objetivo a destruição de Israel e que sua atuação tem sido um desastre para os palestinos. Mas o Hamas é uma organização profundamente enraizada na região. Eles controlam Gaza. E o Hamas não vai desaparecer. Eu não acredito que os EUA ou Israel tenham algo a perder se trouxerem o Hamas para a mesa de negociações para tentar descobrir se é possível criar um futuro diferente. Eu acho que o mundo precisa de uma América forte para manter a estabilidade global. Mas o “abismo fiscal” nos diz que nosso orçamento para a defesa está diminuindo, e nós precisamos cortá-lo por meio de um plano estratégico inteligente. Eu acho que seria útil ter um secretário de Defesa que parta desse ponto de vista e que não tenha que ser forçado a aceitá-lo.
 
Portanto, minha resposta é sim, Hagel está fora do “mainstream”. E é exatamente por esse motivo que a voz dele seria valiosa agora. Obama ainda é o responsável por tomar todas as decisões. Mas deixemos que ele tome suas decisões depois de ter ouvido todas as alternativas.