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Ciclones e enchentes produzem refugiados ambientais em Bangladesh

08/11/2007 14h56

Para os milhares de bengaleses que todos os anos enfrentam desastres naturais, as mudanças climáticas previstas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) podem parecer uma ameaça distante.

No entanto, quando se conversa com moradores das vilas ribeirinhas próximas à costa, no sul de Bangladesh, é fácil encontrar exemplos de que mudanças mais drásticas no clima podem mesmo estar a caminho.

"O governo construiu um dique para proteger da maré alta as terras cultiváveis do nosso vilarejo em 1971. Só que há uns sete ou oito anos, algumas marés altas de lua cheia conseguem ultrapassar o dique e já prejudicam o cultivo de arroz por aqui", contou à BBC Brasil o professor primário Alamgir Hossain Dulal, morador da vila de Kuakata, no litoral da Baía de Bengala.

A freqüência das enchentes também parece ter aumentado. Neste ano, de acordo com Nabiha Chowdhury, do Crescente Vermelho (co-irmão da Cruz Vermelha Internacional) de Bangladesh, as chuvas afetaram a produção de grãos deste ano.

"Em agosto, depois das enchentes, como sempre fizeram, os lavradores semearam a próxima colheita. Só que dessa vez, em algumas semanas uma nova enchente veio e destruiu tudo. Atualmente, até a população local está um pouco confusa", disse Chowdhury à BBC Brasil.

A intensidade e a duração dos ciclones que sempre abalaram a região também parecem ter mudado de padrão e de freqüência.

"Antes, a época dos tufões e furacões ia de abril a maio e em outubro e novembro. Agora, temos cada vez mais ciclones fora de época", afirmou Shafiqul Alam, um comerciante de Koakuta.

Ele disse ainda que, de cinco anos para cá, a freqüência dos ciclones, que costumava a ser de cerca de dois por ano, passou a ser de oito a dez.

O caminho natural dos refugiados ambientais parece ser a capital bengalesa, Dhaka. Gente como Mohammed Selim, dono de 11 barracos para alugar na favela de Nagayon, nos arredores de Dhaka, pode servir de termômetro não-oficial deste fenômeno.

"As pessoas que vêm para cá são de várias partes do país e normalmente vêm para cá porque perderam tudo nos seus locais de origem", disse Selim à BBC Brasil. Rahela Begum é a chefe de uma das dez famílias que pagam 500 thaka (cerca de R$ 18) por mês, mais despesas com eletricidade, por um barraco de cerca de quatro metros por três metros.

Ela conta que perdeu tudo o que tinha com uma enchente-relâmpago no distrito de Sherpur, no norte do país.

"A água veio tão rapidamente que em mais ou menos meia hora ou uma hora, perdemos quase tudo. Nem equipamento para cozinhar conseguimos salvar", afirmou Begum à