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Cientistas desvendam segredo das cobras para deslizar sobre o chão

Jake Socha
Imagem: Jake Socha

Jonathan Webb e Victoria Gill

Repórteres de Ciência da BBC News

21/10/2015 14h51

Cientistas americanos anunciaram ter descoberto o que acreditam ser o segredo de como cobras deslizam pelo chão.

Segundo a equipe de pesquisadores da Universidade de Oregon, a evolução deu aos répteis uma concentração de "moléculas gordurosas" nas escamas da barriga, que seriam mais oleosas do que as localizadas nas costas.

As razões para o fenômeno ainda não são conhecidas, mas a revelação da estrutura molecular da superfície das escamas oferece uma nova explicação para como as cobras reduzem o atrito na parte inferior de seus corpos.

Joe Baio, engenheiro químico que coordenou o estudo das cobras, afirmou que a lubrificação ajuda as cobras de duas maneiras: facilita os movimentos e também reduz os danos à pele.

Barriga "misteriosa"

"O coeficiente de atrito para as barrigas de cobras é muito menor que o das costas, então alguma coisa está reduzindo a fricção. O problema é que, debaixo do microscópio, o formato das escamas parece idêntico", explicou Baio à BBC, em San José, na Califórnia (EUA), durante uma conferência sobre tecnologia de materiais.

Foi justamente em uma das edições do evento que ele conheceu seu "parceiro no crime": o zoologista Stanislav Gorb. Uma conversa inocente sobre cobras fez com que a dupla se debruçasse sobre a resolução do mistério.

De seu laboratório em Kiel, na Alemanha, Gorb enviou carregamentos de escamas para Baio. Usando instrumentos de alta precisão, o americano conseguiu enxergar diferenças no nível nanoscópico nas amostras. E descobriu o que chamou de imensas diferenças entre as escamas da barriga e das costas das cobras.

Ambas estão revestidas por uma película de gordura em sua superfície, mas nas escamas ventrais as moléculas lipídicas estavam distribuídas de maneira bem mais ordenada.

"Trata-se de algo extremamente organizado, e não de algum tipo de gordura que tenha aparecido lá por acaso. Está lá por um motivo", afirma Baio.

Os estudos começaram com a cobra-rei californiana, mas resultados similares foram encontradas em outras espécies.

Agora, o passo é testar a hipótese. "Nosso argumento é que a química na superfície é a única diferença que conseguimos encontrar".

Continua sendo um mistério a origem da camada lubrificante. Ela não parece gastar, então os cientistas acreditam que a gordura possa ser secretada de poros na pele das cobras ou mesmo "fixada".

"Outra possibilidade é que algum tipo de ligação eletromagnética posicione as moléculas. Ainda não descobrimos a origem", diz Baio.

Para Baio, seus estudos podem ter aplicação prática no campo da engenharia, mais especificamente na produção de novas tintas ou vernizes que protejam superfícies.

"Você pode produzir superfícies escorregadias imitando o que acontece nas escamas das cobras".