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O revolucionário método criado no Brasil para tratar queimaduras graves com pele de tilápia

Tilápia 4 - Paulo Whitaker/Reuters - Paulo Whitaker/Reuters
Após ser esterelizada, a pele do peixe é usada em tratamento de queimaduras
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

08/06/2017 07h59

Assada, frita ou no vapor. Há dezenas de receitas para o preparo da tilápia, um peixe de água doce que se reproduz com grande velocidade.

Mas além de ser saboroso e rico em proteínas, o peixe tem um potencial único no campo da medicina, especificamente para o tratamento de queimaduras de pele de segundo e terceiro graus.

O método, pioneiro no mundo, foi desenvolvido por médicos no Ceará.

"No Brasil, para tratar queimaduras, usamos normalmente um creme com efeito de 24 horas. Todos os dias, é preciso trocar o curativo, tirar o creme, enxaguar a área queimada, colocar o creme novamente e fazer um novo curativo", explica Edmar Maciel, cirurgião plástico e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), que desenvolveu o procedimento.

Tilápia 2 - Paulo Whitaker/Reuters - Paulo Whitaker/Reuters
A pela da tilápia tem grande quantidade de colágeno tipo 1, resistência similar à pele humana e grau adequado de umidade que ajuda na cicatrização de queimaduras
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

"Isso acaba sendo muito trabalhoso, custoso e doloroso", acrescenta ele.

O método oferece muitos benefícios.

Como permanece sobre a queimadura durante vários dias, em função da gravidade do ferimento, a pele do peixe evita as dores que resultam na necessidade da troca do curativo.

Em outros países, é usada a pele de outros animais, principalmente de porco.

Mas uma grande vantagem de usar a tilápia é que "sabemos que esses peixes têm menos possibilidades de transmitir doenças do que os terrestres", assinala Maciel.

Por outro lado, tem uma maior quantidade de uma proteína chamada colágeno tipo 1, uma melhor resistência (similar à pele humana) e um grau adequado de umidade que ajuda na cicatrização.

Tilápia 3 - Paulo Whitaker/Reuters - Paulo Whitaker/Reuters
Tilápias nadam em tanque na barragem de Castanhão, em Jaguaribara (CE), onde são cultivadas
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

Por sua boa aderência, a pele evita a contaminação externa e limita a perda de proteína e plasma, o que pode gerar desidratação e, em última instância, causar a morte do paciente.

Antes de ser utilizada, a pele do peixe é submetida a um processo de limpeza em que são retirados as escamas, o tecido muscular, as toxinas e o odor característico do peixe.

Depois, é estirada em uma prensa e cortada em tiras de 10 cm por 20 cm.

O resultado é um tecido flexível, similar à pele humana.

As tiras de pele são armazenadas em um congelador a uma temperatura entre 2 e 4 graus Celsius por no máximo dois anos.

O trabalho dos pesquisadores foi premiado várias vezes no Brasil.

Agora, a equipe analisa a possibilidade de usar a pele de tilápia em outras áreas da medicina, como, por exemplo, no campo da ginecologia, na atresia vaginal ou para uso em endoscopia.

Também será feito um estudo comparativo para avaliar as diferenças no tratamento das queimaduras entre a pele do porco, do cachorro, humana e da tilápia.