Com 3% de taxa de ocupação, Maksoud Plaza serve pão murcho no café da manhã
O garçom coloca sobre a mesa uma cestinha com pães murchos, um prato de frutas de aspecto anêmico, e outro com algumas solitárias fatias de queijo branco, amarelo e peito de peru. Peço um espresso. Segundo a assessoria do Maksoud Plaza, a taxa média de ocupação do hotel desde sua reabertura, no dia 4 de setembro, depois de seis meses de quarentena, é 3%.
Apenas quatro, dos 21 andares, estão em funcionamento. Só pelo café da manhã, na sexta-feira (25), paguei R$ 58. A diária saiu por R$ 320 (57 dólares).
Um valor incrivelmente baixo para um hotel que, nas duas décadas que se seguiram a sua inauguração, em 1979, chegou a ser considerado o mais luxuoso da América Latina. Naquela ocasião, o Maksoud Plaza recebia hóspedes como Catherine Deneuve, Margareth Thatcher, Donna Summer e Henry Ford II (herdeiro da fábrica de automóveis); por quatro noites seguidas, em 1981, Frank Sinatra se apresentou ali para um público que pagou mil dólares (R$ 5.660 hoje), por cabeça, para assisti-lo; a diária, então, girava em torno dos 300 dólares (no câmbio de hoje, R$ 1.680).
Figurões e lagosta
O PIB do Brasil frequentava o exclusivíssimo 150, considerado ano após ano, pelos críticos do setor, um dos quatro nightclubs mais concorridos do país. Semanalmente, o então relações-públicas do hotel, Ovadia Saadia, convidava jornalistas, amigos e frequentadores para pré-estreias dos melhores filmes da temporada; cinco restaurantes de primeira linha atendiam não só hóspedes, mas figurões do governo, artistas e colunáveis; um deles, a Brasserie Bela Vista, funcionava 24 h por dia; era possível pedir lagosta, ou feijoada, às 4 da madrugada.
"O senhor pode tentar na padaria em frente", sugere o recepcionista, quando pergunto onde eu poderia tomar um drinque depois das 22h, horário em que o único bar remanescente, o Frank, fecha. Tem ainda o Vino!, com serviço terceirizado, que não existia nos anos dourados. Mas o ambiente não é convidativo, as mesas estão vazias na happy hour. Não há mais restaurantes. Dois elevadores, dos quatro, permanecem desligados.
Recuperação judicial
Há duas semanas, o Grupo Maksoud de Hoteis entrou com pedido de recuperação judicial. Na quinta-feira (1º), a coluna noticiou que o juiz João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1a. Vara de Falências e Recuperações Judiciais de SP, deferiu a solicitação e nomeou como administrador judicial o empresário Orestes Nestor de Souza Laspro, da Laspro Consultores Ltda.
O grupo pagou as custas do pedido de recuperação com dinheiro de uma empresa de fachada chamada Portillo Participações e Empreendimentos Ltda. Apesar do alegado estado pré-falimentar do hotel, seu presidente, Henry Maksoud Neto, recebe um salário anual de cerca de R$ 2 milhões.
Ao mesmo tempo, o Maksoud Plaza precisou pedir uma liminar na Justiça para não ter o fornecimento de gás cortado, pela falta de pagamento de uma conta de R$ 35 mil.
Carpete judiado
No dia em que me hospedei lá, o lendário átrio que dá acesso a todas as alas estava silencioso e vazio. Eu voltava ao hotel depois de muitos anos sem frequentar aqueles bares e restaurantes, e isso só fez reforçar o meu desencanto.
Fiquei em um quarto de frente, no nono andar, cujo ambiente recendia melancolicamente a mofo.
A fim de me certificar de que eu não estava sendo influenciado pela atmosfera de decadência, convoquei uma amiga arquiteta para enxergar tecnicamente as instalações e móveis.
Parece Las Vegas
Logo de saída, ela lamentou o carpete do hall, "judiado por tantas lavagens". "Parece hotel de segunda, em Las Vegas". Com relação aos móveis de cerejeira, "um luxo nos anos 1990", minha amiga comentou que foram "recobertos com diversas outras madeiras ao longo do tempo". O tecido floral que reveste as cadeiras remete a algo que "aconteceu entre 1990 e início dos 2000".
Pergunto se o décor não poderia entrar na famigerada categoria "clássico revisitado". Ela ri. "Não se trata disso. Ninguém criou esses móveis agora. Eles estão aí há 20, 30 anos."
Justiça seja feita. Ela viu "elementos maravilhosos da época da inauguração". "Mas isso só não segura."
Nem por evocação
Ainda que o hóspede consiga evocar todo o glamour de tempos idos, uma diária de R$ 394 — com café da manhã e taxas — é bem alta para o Maksoud Plaza de agora.
Ao pagar a conta, a reportagem verificou que o CNPJ da nota não coincidia com o impresso no comprovante do cartão de crédito. Segundo se informou na recepção, aquela nota era "provisória": a "definitiva" seria enviada por e-mail. Não foi. Nunca.
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