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Acidente entre trem e ônibus reacende discussão sobre sinalização e falta de segurança em Nova Iguaçu (RJ)

Cristina Tardáguila<BR>Especial para o UOL Notícias

No Rio de Janeiro

17/08/2010 07h05

Quem dirige pela estrada Luis de Lemos, uma via de mão dupla situada no bairro de Miguel Couto, em Nova Iguaçu (RJ), corre o risco de cruzar –sem perceber– uma linha férrea por onde todo dia transita uma dezena de trens de carga com destino à Central do Brasil, na capital fluminense.

  • Álvaro Paço/Especial para o UOL Notícias

    Ao longo da via férrea, não há grades que isolam o caminho dos trens, o que permite que casas pobres e pequenos bares proliferem em seu entorno, desrespeitando o limite mínimo de segurança

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    Atualmente, não há cancelas, semáforos, sinais sonoros ou lombadas que impeçam os motoristas de parar sobre os trilhos na estrada Luis de Lemos, palco de um acidente na última quinta

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    Desde os anos 80, os moradores colecionam histórias de acidentes envolvendo veículos, pedestres e trens

Na última quinta-feira (12), um ônibus da empresa Tinguá colidiu com uma composição da MRS Logística que vinha de Minas Gerais carregada de cimento, ferro e aço por volta das 19h e deixou vinte feridos, sendo três em estado grave.

Desde os anos 80, os moradores da região colecionam histórias de acidentes envolvendo veículos, pedestres e trens. E exigem que as autoridades tomem providências.

Atualmente, no entanto, não há cancelas, semáforos, sinais sonoros ou lombadas que impeçam os motoristas de parar sobre os trilhos na estrada Luis de Lemos. Também não há uma elevação na pista que indique a presença da via. Apenas uma placa informativa sobre o entroncamento.

“O pior acidente aconteceu há uns vinte anos. Eram cinco da manhã, o ônibus estava cheio de gente indo para o trabalho quando foi arrastado por um trem na passagem de nível do bairro de Areia Branca, que fica a 5 km daqui. Eu era garoto e minha mãe me proibiu de ver a cena. Dizia que tinha grávida carbonizada no chão”, lembra o comerciante Álvaro Paço, 44, que mora na região desde os dois anos.

Poucos meses depois, a passagem de nível de Areia Branca ganhou uma cancela, mas foi a única da região. Ao longo da via férrea, não há grades que isolam o caminho dos trens, o que permite que casas pobres e pequenos bares proliferem em seu entorno, desrespeitando o limite mínimo de segurança. Algumas construções foram erguidas a menos de quinhentos metros dos trilhos e sacodem toda vez que as composições se aproximam.

No último sábado, via-se muita gente cruzando a via do trem, carregada com sacolas de compra ou na companhia de crianças pequenas. Como a região só dispõe de duas linhas de ônibus, seus residentes se acostumaram a cumprir suas tarefas rotineiras a pé. Cruzam de um lado para o outro com frequência.

O local, que no fim do dia é iluminado apenas por alguns postes antigos com fracas luzes amarelas, tem o cheiro forte do esgoto que corre a céu aberto.

“Há dois anos, tivemos um choque entre um trem e três ônibus”, afirma Paço, que é dono de uma loja de fotografia situada diante da linha férrea. “Eram dois ônibus de uma mesma companhia que vinham em sentidos opostos. Os motoristas pararam para conversar bem na passagem de nível da estrada do Ambaí e foram arrastados. Um deles ainda bateu num terceiro ônibus que vinha atrás. Teve muita gente ferida.” A passagem do Ambaí fica a menos de 1 km da estrada Luis Lemos, onde aconteceu o acidente da semana passada.

Outro lado
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Nova Iguaçu informou que já solicitou um esforço maior da MRS Logística, que em 1996 assumiu por concessão a via férrea da extinta estatal Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). O governo municipal diz ter solicitado uma maior conservação das vias, principalmente no que diz respeito ao isolamento, à limpeza e ao corte das árvores que crescem no trajeto das composições.

No último sábado, os vagões que passavam pela linha na altura de Nova Iguaçu se chocavam contra os ramos mais baixos das árvores.

O gerente de concessão e arrendamento da MRS Logística, Sérgio Carrato, lembrou que a estrada de ferro data do século 19 e reconheceu que “ela tem passagens de nível complicadas”.

Segundo ele, está em andamento no Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes) o Programa Nacional de Segurança Ferroviária em Áreas Urbanas, o Prosefer, que fará um diagnóstico dos pontos críticos nos treze corredores ferroviários do país, entre eles o que passa por Nova Iguaçu.

Em caráter emergencial, a empresa adotou duas medidas: ainda esta semana, enviará dois técnicos à estrada Luis de Lemos para saber que melhorias podem ser feitas por ali imediatamente e agendará com as empresas de ônibus que cruzam a via férrea palestras educativas.

“O trem que passa por Nova Iguaçu passa devagar, a uns 30 ou 40 km/h. Mesmo assim, devido a seu peso, demora cerca de trezentos metros para parar. Os motoristas e os pedestres precisam entender isso”, afirmou Carrato.