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Chave de jet ski pode explicar morte de menina em Bertioga (SP), diz presidente de associação

A menina já chegou morta ao hospital - Reprodução/Youtube
A menina já chegou morta ao hospital Imagem: Reprodução/Youtube

Maurício Savarese

Do UOL, em São Paulo

22/02/2012 18h49

A explicação para o acidente de jet ski que no último sábado (18) matou uma menina de 3 anos em Bertioga, no litoral paulista, pode residir em uma pergunta: por que a chave do aparelho se manteve na ignição apesar de seu condutor menor de idade ter caído na água ou nem mesmo estar no comando? É essa a avaliação de Marcelo Teixeira, presidente da Associação Brasileira de Jet Ski. Ele opera máquinas desse tipo há 27 anos e foi diretor-técnico da associação por 23 anos.

Grazielly morreu após ser atingida na cabeça pelo equipamento desgovernado. Segundo o advogado do adolescente que operava a máquina, Maurimar Bosco Chiasso, o jovem não estaria pilotando o jet ski dos familiares e apenas o ligou "por curiosidade" quando estava próximo a casa do padrinho –onde passava o feriado– com um amigo. O veículo, então, teria se projetado na água. Testemunhas, porém, afirmam que o jovem estava pilotando o equipamento e teria caído na água, deixando o jet ski desgovernado.

UOL: É possível que o veículo tenha simplesmente se projetado sobre a garota, como alega a defesa?

Marcelo Teixeira: Sem a chave ter sido girada, não. Um jet ski é um veículo como um carro, uma moto. Ele funciona com o consentimento e a ordem do condutor. Não é encostar e ele sai pela água. Só quando se coloca a chave ele pode funcionar. Aquele jet é um modelo recente e tem 250 cavalos, é muito forte. Muitos pilotos brasileiros usam para corridas. Esse tipo de equipamento é totalmente eletrônico. Mesmo assim ele não funciona sem a sua própria chave.

UOL: Se o garoto estava pilotando e caiu na água, não faz sentido que o jet ski continuasse funcionando?

Teixeira: Não muito. Todo piloto de jet ski tem a chave atada ao braço, graças uma cordinha. Sempre que o piloto cai, a chave sai facilmente. Com isso, a máquina automaticamente para. Ou ela fica girando no mesmo lugar, para o piloto reassumir o controle, ou ela simplesmente para se for muito pesada. Esse era o caso do jet ski envolvido no acidente. Para o jet ter se projetado, é certo que essa chave, que deveria ter saído assim que o condutor menor caiu na água, deve ter ficado na ignição. Se isso não tivesse acontecido, não haveria acidente.

UOL: Essa chave pode ter ficado na ignição por um acidente ou foi necessariamente por imprudência e falta de conhecimento do jovem que estava no controle?

Teixeira: Podem ter se esquecido de atar a chave. Ou esse cordão estourou e a chave ficou. Podem ainda ter deixado a corda no guidão para que o jet não desligasse.

UOL: Um jovem de 14 anos de idade, em qualquer hipótese, poderia dirigir um jet ski?

Teixeira: Sim, mas apenas de forma controlada. Temos um campeão de 11 anos de idade. Ele tem a Arrais, que é a licença necessária para navegar. Mas esse seria um processo longo. Os pais têm de levar ao juizado de menores, informar sobre a responsabilidade deles à Marinha e apresentar um instrutor também. Certamente não havia essas condições com as pessoas envolvidas no acidente. É claro que há pessoas que navegam sem autorização da Marinha em locais mais escondidos. Mas em local público isso não pode acontecer com menores, exceto nas competições, com toda uma área reservada para isso.

UOL: Quais são as causas mais comuns para acidentes de jet ski?

Teixeira: Em 25 anos de competições no Brasil, nunca tivemos um morto em acidente. Os principais problemas, desde sempre, são imprudência, irresponsabilidade de emprestar para leigos e bebedeira. Muita gente ainda acha é jet ski é um brinquedo, mas a verdade é que é um veículo como qualquer outro.

Local do acidente

  • Arte UOL

    Guaratuba fica no litoral norte de SP

Para pilotar jet ski é preciso ser maior de 18 anos