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Três acusados do homicídio de casal de extrativistas no Pará vão a júri popular

O casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram mortos em Nova Ipixuna (PA) no dia 24 de maio de 2011 - Conselho Nacional das Populações Extrativistas/AFP
O casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram mortos em Nova Ipixuna (PA) no dia 24 de maio de 2011 Imagem: Conselho Nacional das Populações Extrativistas/AFP

Do UOL, em São Paulo

06/03/2012 21h51

O juiz Murilo Lemos Simão, da Comarca de Marabá, pronunciou, nesta segunda-feira (5), os réus José Rodrigues Moreira, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento pelo duplo homicídio praticado contra o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, no dia 24 de maio de 2011, na zona rural do município de Nova Ipixuna (PA).

Segundo as investigações, os extrativistas foram alvejados por tiros de cartucheira, disparados por dois pistoleiros escondidos na mata, quando estavam em uma motocicleta. José Cláudio, mesmo após ter caído no chão, ainda teve a orelha cortada enquanto agonizava.

De acordo com os autos, o crime teria sido motivado por disputa de terra. O acusado José Rodrigues havia adquirido dois lotes de terra na área do projeto extrativista, porém um dos lotes estava ocupado por pessoas que contavam com o apoio das vítimas. Por isso, os extrativistas passaram a receber ameaças de José Rodrigues que, segundo a sentença de pronúncia do juiz, “planejou, organizou e financiou o duplo homicídio”, sendo seu irmão, Lindonjonson Silva Rocha, um dos executores do crime.

Segundo o TJ-PA (Tribunal de Justiça do Pará), os acusados serão levados a júri popular pelo duplo homicídio, com os agravantes de terem cometido o crime por motivo torpe, impossibilitando a defesa das vítimas e por terem utilizado meio cruel.

O caso

José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram mortos a tiros em uma emboscada. Somente em 28 de julho de 2011, mais de dois meses após o crime, o juiz Murilo Lemos Simão, pediu a prisão preventiva de José Rodrigues Moreira --suspeito de ser o mandante do crime--, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento, que teriam sido os autores dos disparos que mataram o casal.

A Polícia Civil concluiu o inquérito em de 10 julho. Antes, o mesmo juiz negou em duas ocasiões os pedidos de prisão feitos pela Polícia Civil, que tinham parecer favorável do Ministério Público, alegando falta de provas. Para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), a postura do juiz facilitou a fuga dos criminosos.

Segundo o inquérito, o casal foi morto porque impediu que Moreira comprasse terrenos dentro do assentamento agroextrativista do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Praialta-Piranheira --o que é ilegal-- e denunciou a irregularidade às autoridades. Meses antes da morte, José Cláudio afirmou em uma palestra que poderia ser morto a qualquer momento.

Onda de mortes

Alguns dias após a morte dos extrativistas, o lavrador Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal, foi encontrado morto. No dia 1º de junho, um lavrador de 33 anos foi assassinado em Eldorado dos Carajás.

Inicialmente, a polícia afirmou que não havia relação entre as mortes, mas depois disse que a sequência de assassinatos seria uma estratégia dos responsáveis pelos crimes para atrapalhar a investigação policial.

Para conter a onda de violência, o governo federal decidiu enviar a Força Nacional de Segurança, além do Exército e Polícia Federal, para o sudeste do Pará e para o oeste de Rondônia, onde Adelino Ramos, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), foi assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO), em 27 de maio do ano passado --na época, o principal suspeito pelo crime foi preso.

Na véspera da chegada das tropas, em 9 de junho, o camponês Obede Loyla Souza, 31, foi morto no acampamento Esperança, em Pacajá (PA).