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Detran investiga responsabilidade de Thor em atropelamento que matou ciclista no Rio

Thor Batista compareceu ao 61º DP na Baixada Fluminense (RJ), para prestar depoimento sobre acidente que matou um ciclista na Rio-Petrópolis, na noite do último sábado (17) - Pablo Jacob / Agencia O Globo
Thor Batista compareceu ao 61º DP na Baixada Fluminense (RJ), para prestar depoimento sobre acidente que matou um ciclista na Rio-Petrópolis, na noite do último sábado (17) Imagem: Pablo Jacob / Agencia O Globo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

22/03/2012 17h10

O Detran do Rio de Janeiro instaurou nesta semana um procedimento administrativo para investigar se o empresário Thor Batista, 20, filho do bilionário Eike Batista, teve responsabilidade em relação ao atropelamento que vitimou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos, 30, morto no sábado (17) na avenida Washington Luiz, na altura de Xerém, na Baixada Fluminense.

De acordo com o Detran, a investigação ficará a cargo dos representantes de sua "Comissão Cidadã". A reportagem do UOL entrou em contato com o órgão, porém há uma orientação interna para que os membros da comissão não deem declarações sobre o caso. Caso seja penalizado pelo Detran, Thor terá três opções de recurso: Defesa Prévia, a Junta Administrativa de Recursos de Infrações (Jari) e o Conselho Estadual de Trânsito (Cetran).

O foco do procedimento conduzido pelo Detran diz respeito à polêmica acerca dos pontos acumulados na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) de Thor. Segundo reportagem exibida no Jornal Nacional, da TV Globo, na segunda-feira (19), o filho de Eike Batista acumulou mais de 40 pontos entre dezembro de 2010 e outubro de 2011.

Nos últimos 18 meses, desde que começou a dirigir, foram 51 pontos perdidos em nove multas aplicadas. Entre setembro e dezembro de 2010, Thor cometeu cinco infrações, todas por excesso de velocidade. No ano de 2011 foram mais seis multas --o filho de Eike ainda pode recorrer a duas, que também são por excesso de velocidade. De acordo com a legislação, a habilitação do empresário deveria ter sido suspensa quando ele ainda estava no período probatório.

O delegado do caso, Mário Arruda, da 61ª DP (Xerém), afirmou que não levará em consideração os pontos acumulados na carteira de motorista do filho de Eike Batista. "Essa informação é um indício em muitos casos, mas o cidadão pode ter sido multado 20 vezes e isso não quer dizer que ele não estivesse dirigindo dentro dos limites naquele momento", argumentou.

Segundo o advogado do jovem, Celso Vilardi, o acúmulo de multas na carteira se dá em função de uma constante troca de veículos. "A habilitação dele é válida. Todo mundo sabe que o Thor tem muitos carros e anda com seguranças a maior parte do tempo. Ele se desfez de alguns e isso pode ter causado alguma confusão junto ao Detran. Outras pessoas podem estar recebendo multas, mas os veículos ainda estão em nome do Thor. Se houve algum erro, foi por parte do Detran, que não enviou nenhuma notificação", afirmou.

Culpa da vítima

O delegado Mário Arruda afirmou nesta quarta (21) que as circunstâncias iniciais da investigação sobre o atropelamento e morte de Wanderson Pereira dos Santos indicam que a vítima estava "no meio da pista". O ciclista foi atingido pela Mercedes-Benz SLR McLaren conduzida pelo filho do bilionário e morreu no local. A afirmação do delegado foi feita após o depoimento de Thor Batista, que durou mais de duas horas. Arruda, porém, não descarta a possibilidade de que os laudos periciais apontem a culpa do condutor.

"Nesses casos, costuma-se isentar o motorista da culpa, isto é, quando a culpa é exclusiva da vítima. Mas estamos esperando o laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) para aferir qual era a velocidade do carro do Thor", disse o delegado.

Ainda de acordo com Arruda, o carro foi periciado no local do acidente e passou por uma segunda perícia na casa do jovem. O laudo do ICCE deve ficar pronto daqui a 20 dias. A polícia avalia a possibilidade de uma terceira perícia. Momentos depois da colisão, o veículo foi liberado, o que foi criticado por especialistas ouvidos pelo UOL.

"Ainda temos algumas dúvidas do ponto de vista técnico. A perícia no local foi feita de forma minuciosa, tudo foi fotografado. É uma questão de praxe liberar o veículo após esse procedimento. O fato de o carro ter sido liberado para a família do condutor não prejudica as investigações", alegou Arruda. "O que eu posso dizer é que a marca da frenagem, no local do acidente, parte do centro da pista para o canto", detalhou Arruda, que ainda afirmou que Thor só será indiciado por homicídio culposo, com pena que varia de 2 a 4 anos de prisão, se o exame pericial constatar que ele estava acima da velocidade permitida na rodovia Washington Luiz, que é 110 km/h.

Thor falou com a imprensa ao deixar a delegacia. "Lamento profundamente por tudo isso. Mesmo convicto de minha inocência vou prestar todo o auxílio necessário para a família do Wanderson", disse. Pelo Twitter, Thor já havia afirmado que o ciclista atravessou a via “repentinamente”, o que teria provocado o acidente, e negou estar em alta velocidade. Ele também divulgou fotos que mostram os machucados no seu rosto e braço após a colisão.


O filho de Eike estava em companhia de um amigo no dia do acidente. Após o atropelamento, eles foram a um posto da Polícia Rodoviária Federal próximo ao local do acidente e pediram socorro. Os dois foram submetidos ao teste do bafômetro, cujo resultado deu negativo, e foram liberados.

Versões conflitantes

Uma testemunha que teve o carro ultrapassado pela Mercedes de Thor afirmou à polícia do Rio ontem ter alertado o filho de Eike Batista sobre a morte da vítima. Segundo o chefe de investigação da 61ª DP, Humberto Sousa, a testemunha –um estudante de medicina que não teve a identidade revelada– contou ao delegado responsável pelo caso que foi ultrapassado por Thor e, momentos depois, viu o corpo desfigurado da vítima na via. O carro do filho de Eike estava parado no acostamento a cerca de 100 metros do local da colisão.

“Você matou o cara ali atrás”, disse a testemunha ao passar pelo carro parado. Ainda segundo a testemunha, Thor teria afirmado: “Mas o cara atravessou na minha frente”. O filho de Eike estaria com ferimentos leves e em estado de choque.

Após o rápido contato com Thor, o estudante afirma ter ligado para o 190, central telefônica da polícia. De acordo com Humberto Sousa, a testemunha não deu detalhes sobre a velocidade do carro ao fazer a ultrapassagem. Uma pessoa que afirma ter visto o momento do acidente, porém, disse à BandNews que o ciclista foi atropelado no acostamento e que Thor, em alta velocidade, teria colidido com a vítima ao tentar ultrapassar um ônibus.

O advogado Cléber Carvalho, que representa a família do ciclista, disse no início da semana ter testemunhas de que o ciclista trafegava no acostamento. A defesa do empresário reafirmou que a vítima não foi atropelada no acostamento. "Quem em uma pista livre de estrada iria trafegar pelo acostamento? Essa é uma hipótese totalmente inviável", afirmou o defensor Celso Vilardi.

A Polícia Civil colheu até o momento seis depoimentos, dos quais o de Thor e do amigo que estava no banco do carona, identificado como Vinícius Raca, além dos dois policiais da Polícia Rodoviária Federal que atenderam a ocorrência e duas testemunhas que trafegavam pelo local. Um terceiro motorista, que ainda não foi identificado, deve ser chamado para depor nos próximos dias.