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Aos gritos de "Fora, Kassab", cerca de 200 protestavam contra proibição de sopão em São Paulo

Cerca de 200 pessoas protestavam contra proposta de proibir a distribuição de sopa nas ruas de SP - Leonardo soares/UOL
Cerca de 200 pessoas protestavam contra proposta de proibir a distribuição de sopa nas ruas de SP Imagem: Leonardo soares/UOL

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

06/07/2012 19h21Atualizada em 06/07/2012 22h28

Ainda que mais de 5.000 internautas tenham confirmado presença via Facebook, somente cerca de 200 pessoas participaram do "Sopaço na casa do Kassab", realizado em frente à Prefeitura de São Paulo na noite desta sexta-feira (6), contra a possível proibição da distribuição de sopa para moradores de rua na capital paulista. A estimativa é do organizador da passeata Luiz Pattoti, 34.

Aos gritos de "Fora, Kassab", o protesto começou às 17h em frente ao prédio da prefeitura, na região central da cidade, e por volta das 19h seguiu em passeata até a Sé, local onde foi distribuído um sopão vegetariano aos moradores de rua da região. O preparo da comida foi organizada pelo Veganusp, grupo criado por de estudantes da USP (Universidade de São Paulo). "Conseguimos uma doação de 40 quilos de alimentos do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) para o preparo de um panelão de cerca de 50 quilos de sopa", disse Roberto Parente, 27, estudante da unidade.

O movimento foi criado para protestar contra a medida anunciada pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana que prevê que o sopão, que atualmente é oferecido voluntariamente por 48 entidades em vias públicas da região central, seja distribuído apenas em uma das nove tendas da prefeitura.

"Não sou ligado a nenhum partido político, nem religioso. O movimento foi organizado em sinal de repúdio à atitude da prefeitura", diz Pattoti, que confessa ter se inspirado no "Churrasco da Gente Diferenciada" --movimento criado para protestar contra a mudança de lugar de uma futura estação de metrô em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo--, do qual também participou.

Mas mesmo sem qualquer ligação partidária ou religiosa, o movimento contou com a participação de representes de grupos ligados ao espiritismo, ao catolicismo, ao PT (Partido dos Trabalhadores) e ao Psol (Partido Sociedade e Liberdade). A música ficou a cargo da Fanfarra do MAL (Movimento Autônomo Libertário). E o grupo Anônimos que cozinhou dois macarrões instantâneos em um fogão improvisado em plena praça da Sé para distribuir para os moradores de rua que estiveram presentes.

O padre Júlio Lacenlotti, presente ao evento representando a Pastoral dos Moradores da Rua, relacionou a atitude do prefeito a "de nazistas e de Hitler". "É uma medida equivocada e reside doses de desumanidade, além do mais, ela não tem proposição alguma, ou seja, vamos acabar com isso para investir numa segurança alimentar adequada", disse o religioso.

Com um alto-falante, Anderson Lopes Miranda, coordenador do movimento nacional da população de rua, convidava o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab e o secretário municipal de segurança urbana, Edson Ortega a comer o sopão.

"Ninguém pode nos proibir de ajudar o próximo, a medida do Kassab é uma repressão ao livre-arbítrio, independente de qualquer questão religiosa. O dinheiro é meu e eu dou comida para quem eu quiser. Se o Kassab quer resolver os problemas da sociedade, tem que investir em educação. Se ele fizesse isso, muitas dessas pessoas não passariam fome", disse Aristides Menezes, participante do protesto e ligada a um grupo da Igreja Católica que pratica a entrega de sopas aos moradores de ruas da região central de São Paulo.

Indignação também compartilhada pela bancária Renata Gil, 30, que é ligada a um grupo espírita que distribui alimentos à população sem moradia da capital. "Uma medida que tende a dificultar ainda mais a ação dos voluntários que só querem ajudar. Há três anos já tivemos que restringir as nossas atividades, porque nossas vans estavam sendo multadas durante as distribuições, e agora mais essa", diz ela, que levou para a passeata um saco de lixo e uma luva para recolher o lixo produzido pelos participantes. "Só para provar para o prefeito que a sujeira da cidade não tem nada a ver com a distribuição do sopão."

Para a estudante Barbara Morena, 17, que não está ligada a nenhum partido político ou religião, a nova proibição do Kassab é "só mais um sinal da sua pobrefobia". Expressão que o programador Francisco Marques, 27, ligado ao grupo Juventude do PSOL, traz a uma "política de exclusão". "Expulsa-se o pobre do grande centro, para tornar a região mais favorizada, o que só favorece os ricos", afirma Marques. 

E quem se beneficia do voluntarismo dos paulistanos também se mobilizou: "Nunca passei fome por causa da boa ação de muitas ONGs, mas, se a distribuição for realmente restrita, muita gente vai passar fome", disse Renato Sanches Prumes, 54, artesão, que mora na rua há dois anos.