Garfo de metal e escova estão entre os objetos estranhos engolidos por pacientes de hospital do Rio
Retirar objetos como um garfo de metal e uma escova de dente engolidos por pacientes já se transformou em fato cotidiano para o médico Walter Sedlacek Machado, chefe do setor de otorrinolaringologia do Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio.
Há 17 anos trabalhando na unidade, ele estima que cerca de 3.000 pessoas são atendidas anualmente pelos médicos do setor. O grande volume de itens curiosos fez com que Sedlacek retomasse, em 2002, a prática de colecionar os objetos mais estranhos.
Coleções desse tipo existem no Souza Aguiar desde a década de 60, mas houve um período em que, por conta da falta de espaço, a prática foi abandonada.
Após a visita de um especialista americano, que produzia uma pesquisa sobre o assunto, Sedlacek resolveu instalar murais na própria sala de otorrinolaringologia para recriar o acervo de objetos bizarros.
"Já existiam outros quadros no passado, e o que fizemos foi voltar a reunir esses objetos, colocando-os em murais aqui na nossa sala mesmo. Mas nem todos os itens acabam entrando na coleção. Retiramos quase todo dia bolinhas de isopor, por exemplo, que não são tão interessantes. Apenas os mais curiosos são guardados. Se eu fosse colher todos, não teria quadros suficientes para colocar."
De acordo com o médico, a escova de dente e o garfo de metal são os mais inusitados em função do tamanho dos objetos, que têm entre 20 e 30 centímetros. Em ambos os casos, os itens foram retirados do esôfago após serem engolidos em função de um reflexo do processo de deglutição. Em outras palavras, os pacientes tentaram utilizar os objetos para causar vômito, e acabaram "sugando" itens aparentemente impossíveis de se engolir.
"Eram casos de adolescentes gordinhos que tentaram colocar os objetos na garganta para vomitar após uma refeição", disse Sedlacek, referindo-se a uma situação bastante recorrente em casos de bulimia.
O médico afirmou ainda que os objetos mais frequentes são próteses dentárias, moedas e espinhas de peixe, e a maioria é retirada do esôfago dos pacientes através de endoscopia per-oral (procedimento no qual um gancho que pode chegar a 50cm é introduzido pela garganta para que o médico possa visualizar o objeto com a ajuda de uma câmera). Mas também há itens que são encontrados no nariz, na orelha, na garganta, entre outros.
"Não são só objetos curiosos, pois há risco de complicação mesmo quando surgem problemas aparentemente bobos. Um objeto como um garfo, por exemplo, pode causar perfuração", afirmou.
Sedlacek diz que esse tipo de problema raramente provoca a morte do paciente: "Não chega a 1%". E a maioria dos casos de óbito está relacionada a outras complicações, tais como problemas cardíacos, por exemplo.
"Houve um caso em que um idoso engoliu a prótese dentária e ela acabou perfurando o esôfago. Quando constatamos, imediatamente transferimos o paciente para o setor cirúrgico, mas ele tinha problemas cardíacos, o que acabou agravando o quadro e levando ao óbito", relembra.
Questionado sobre o objeto mais bizarro já encontrado pelos médicos do Souza Aguiar, ele cita o caso de um homem que enfiou um alho inteiro no nariz, supostamente para participar de um ritual religioso.
Em relação aos itens mais perigosos, Sedlacek menciona as baterias de relógio, que são frequentemente encontradas em crianças menores de cinco anos, em especial no nariz.
"A bateria oferece um risco pequeno na orelha, por exemplo. Mas no nariz, por ser uma região com muita umidade, pode ocorrer uma reação química com o líquido da bateria do relógio e provocar queimaduras. Tivemos um caso no qual um garoto ficou com as narinas totalmente fechadas por conta disso. Ele praticamente não tinha mais nariz. Recomendamos cirurgia plástica", lembra o otorrinolaringologista.
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