Após dois anos anônimo, surdo de Itapetininga (SP) reencontra família e volta para casa

Depois de mais de dois anos vivendo como anônimo, finalmente na última quarta-feira (22) o homem surdo e analfabeto que morava no Serviço de Obras Sociais (SOS) de Itapetininga (170 km de São Paulo) reencontrou um de seus três irmãos.

Esse foi o primeiro contato com um parente desde que ele foi encontrado em 23 de junho de 2010 sem nenhum documento às margens da rodovia Raposo Tavares, no município de Alambari (150 km de São Paulo).

“Foi bem emocionante, os dois se abraçaram e ficaram alguns minutos conversando por gestos”, disse Silvia Regina de Almeida, auxiliar administrativa do SOS, entidade que acolheu o homem, apelidado do Joca, desde que ele foi encontrado.

Como Joca não fala por causa da surdez e é analfabeto, sua identificação, história e busca por parentes tornaram-se muito difícil. Mas no último dia 23 de junho, a ajuda de um professor de libras e de uma rede social fez com que ele fosse reconhecido por um amigo da família, que vive em Sengés (222 km de Curitiba), no Paraná.

Dois dias depois, uma cópia do documento de alistamento militar de Joca com o registro da digital dos dedos dele foi enviada. Com data de outubro de 1988, o documento passou por análise na capital paulista, sendo possível identificá-lo. Com o resultado positivo, Joca retomou sua identidade: Paulo Sérgio Jardim, 42 anos.

A partir desse dia, o SOS de Itapetininga e a assistência social de Sengés providenciaram o encontro. Quem buscou Joca, em um carro da prefeitura de Sengés, foi o irmão Célio da Cruz Jardim, de 45 anos, que agora é responsável por ele.

Quatro irmãos

Célio explicou ao presidente do SOS, Élvio de Assis Camargo, que morava longe de Sérgio e que nem sabia que o irmão estava desaparecido. Eles são quatro irmãos, e seus pais morreram há alguns anos. 

“Paulo morava com meus pais em um sítio, longe da minha casa, e sempre teve uma vida independente, sempre saía, ficava dias fora, e voltava. Eu achava que ele estivesse viajando, quando o vizinho viu meu irmão na internet como perdido."

Antes de levar o irmão, Célio se demonstrou muito feliz e agradeceu a instituição pelo empenho. "O melhor é que encontrei ele com saúde e bem cuidado. Agora ele estará comigo. Eu que serei responsável por ele", disse o irmão.

No mesmo dia do reencontro, Paulo entrou no carro da prefeitura de Sengés e partiu com o irmão Célio de volta para casa. "Agora, nossa missão foi cumprida. Já estamos sentindo falta dele, mas viver com a família é o ideal para todo mundo", comentou Silvia.

Mobilização na internet

O professor de libras Alexandre Henrique dos Santos foi o responsável pela campanha na internet que mobilizou milhares de pessoas e permitiu o desfecho feliz para a história de Joca.

Santos foi chamado pelo SOS assim que Joca foi encontrado. "Quando perceberam que ele era surdo, me chamaram para tentar um meio de comunicação, mas quando cheguei logo vi que ele era analfabeto, tanto em libras, como em português", disse.

Em apenas 17 dias, o perfil “Surdo Longe de Casa” atingiu sua marca máxima, 5.000 amigos. “O número atingiu o limite do site”, disse Santos. "Depois disso, foi criada uma fan page (página para que fãs acompanhem o perfil na rede social, com capacidade maior de seguidores).

Santos, que ensina libras na Integra, instituição filantrópica em Sorocaba (99 km de São Paulo), disse acreditar que Joca só foi reconhecido por conta da solidariedade de todos os que se envolveram na causa.