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"Foi um mal entendido", diz coordenador de campanha que repudia homossexualidade de turistas em PE

Cartaz considerado homofóbico causou reação em redes sociais de Pernambuco - Reprodução
Cartaz considerado homofóbico causou reação em redes sociais de Pernambuco Imagem: Reprodução

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

04/09/2012 20h43

Dois dias após o lançamento da campanha “Pernambuco não te quer”, que causou polêmica ao citar homossexualidade como uma prática a ser combatida, o coordenador do movimento Pró-Vida PE --grupo responsável pelo anúncio--, Marcio Borba, afirmou, nesta terça-feira (4), que a propaganda foi mal entendida, e que o objetivo é combater o turismo sexual no Estado. E ainda disse que por conta da repercussão, integrantes estariam sofrendo ameaças.

Na publicidade, lançada neste domingo (2), o movimento compara a homossexualidade com práticas como pedofilia, exploração sexual de menores e prostituição. A polêmica tornou-se pública após a divulgação de um anúncio com o cartaz da campanha na edição desta segunda-feira (3) do jornal "Folha de Pernambuco".

Na explicação da campanha, o movimento diz que “se manifesta abertamente contra comportamentos e atitudes anticristãs como a pedofilia, a prostituição, a exploração sexual de menores e a proliferação da homossexualidade”.

Apesar da explicação oficial, Borba disse que a campanha não é homofóbica e garantiu que o mote principal é “diga não ao turismo sexual”. Ele acusa a Empetur (Empresa de Turismo de Pernambuco) de estimular o turismo sexista homossexual, o que seria o alvo a ser combatido com a campanha, lançada na internet.

“Não somos contra a homossexualidade, mas sim, contra a exploração sexual. Não queremos que o Estado seja vinculado ao turismo do sexo, seja ele homo, hetero ou bissexual. Queremos que Pernambuco seja vendido pelas belezas naturais, e não como destino sexualista”, disse Borba, destacando que, na década de 80, a capital pernambucana ganhou fama com a divulgação de prostituição de mulheres “principalmente pobres e negras”, que faziam programas com estrangeiros.

“Foram inúmeros voos vindos do exterior trazendo homens que vinham a Pernambuco, ao Recife, à praia de Boa Viagem em busca de mulheres, adolescentes e até crianças negras para prostituição. Foi difícil o Estado desvincular esta imagem e por isso que lançamos a campanha contra o turismo sexual, não contra a homossexualidade. Que venham homossexuais, bisexuais, trisexuais [sic] e heterossexuais para cá em busca das belezas naturais”, explicou.

O coordenador do Pró-Vida PE afirmou ser uma pessoa livre de preconceitos e que o movimento trabalha em prol da família cristã. Borba relatou que a repercussão negativa do anúncio levou o grupo a sofrer ameaças de morte, agressões e ofensas nesta terça. “Somos do diálogo, mas vamos estudar com o setor jurídico as medidas legais que devemos tomar. Explicar um mal entendido é tarde porque foi grande a velocidade com que as notícias tomaram todo o planeta. Mas temos o dever de esclarecer que somos livres de opinião, não somos contra a opção sexual de ninguém e não queremos Pernambuco na rota do turismo sexual.”

Apesar de se dizer livre de preconceitos, no site do movimento, Borba assinou um artigo em que trata a homossexualidade como uma doença. “Tal qual a serpente que, traiçoeiramente, vitimou Adão e Eva, o movimento homossexual quer induzir ao erro todas as pessoas. Assim sendo, podemos deduzir claramente que a homossexualidade não passa de doença, pecado e mau gosto. Deus criou o homem para a mulher e a mulher para o homem, qualquer coisa fora disso vem do maligno”, disse, em texto publicado em novembro de 2011.

Repúdio

Em nota, a Prefeitura do Recife lamentou, na tarde de hoje (4), o anúncio do Pró-Vida PE e afirmou que ele “desrespeita frontalmente o público LGBT, apropriando-se indevidamente do conceito de uma marca construída pela gestão municipal ao longo dos últimos anos, o “Recife Te Quer”.”

A prefeitura reforçou que “o posicionamento homofóbico da instituição responsável pelo anúncio não reflete a realidade vivenciada pelos turistas que nos visitam.” “O Recife é reconhecidamente um destino friendly e não compartilha com qualquer ato de homofobia”, destacou a nota, que informou ainda que no próximo dia 16 haverá mais uma edição da Parada da Diversidade e que o evento receberá, mais uma vez, o apoio de secretarias municipais como Turismo e Direitos Humanos e Segurança Cidadã. “Deixamos um recado para todas as cores, religiões, opções e diversidades: o Recife te quer sempre.”