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Delegado diz que vítimas da violência em SP tiveram ficha criminal levantada pela polícia antes das mortes

Andréia Martins

Do UOL, em São Paulo

22/11/2012 13h36Atualizada em 22/11/2012 15h38

O delegado-geral da polícia do Estado de São Paulo, Marcos Carneiro Lima, disse nesta quarta-feira (22) que a Polícia Civil está trabalhando em todas as frentes de investigação para apurar os crimes que vêm ocorrendo com frequência na região metropolitana de São Paulo desde o final de outubro, quando teve início uma onda de violência no Estado. A participação de policiais nesses crimes não é descartada.

Ficha criminal de vítimas foi pesquisada pela polícia, antes das mortes, diz delegado de SP

"Em crimes no passado, as vítimas, antes de serem mortas, tiveram seu atestado criminal pesquisado pela polícia", declarou Carneiro.

Questionado se a coincidência voltou a ocorrer nos crimes recentes, ele disse que "há casos". Um deles ocorreu na própria capital paulista, mas o delegado não deu mais detalhes.

Carneiro declarou que a polícia de São Paulo "não aprova a conduta de alguns policiais de fazer justiça com as próprias mãos" e disse que as investigações visam proteger os bons policiais. 

"As polícias Civil e Militar não compactuam com o policial que age errado. O policial que comete crime é pior que bandido", declarou.

As declarações de Carneiro foram feitas a jornalistas após a posse do novo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, nesta quinta-feira, no Palácio dos Bandeirantes.

Grella não comentou se fará mudanças no alto escalão das polícias do Estado. No entanto, Carneiro disse que, por educação, se anteciparia e colocaria o cargo à disposição do novo secretário para que ele decidisse.

Novo secretário diz que será 1º aliado da polícia

Ao tomar posse, Grella reforçou seu apoio ao plano de carreira dos policiais e disse que "será o primeiro aliado dos policiais". O novo secretário de Segurança Pública de São Paulo afirmou ainda que "é preciso encerrar a noção equivocada de que o combate firme ao crime e os direitos humanos são excludentes".

"Não se pode tolerar a omissão do Estado. Não se pode aceitar a violação dos direitos fundamentais do cidadão", completou.

Questionado sobre a possível participação de policias nas mortes ocorridas nas últimas semanas, o novo secretário disse que o afastamento de homens da corporação não está descartado. “É possível afastar os policias que estão sendo investigados. Vamos ver”, respondeu.

Segundo o novo secretário, o objetivo da nova gestão "é manter a segurança pública no rol de políticas públicas" e priorizar a atuação policial pela inteligência e a integração entre os Estados. 

O governador Geraldo Alckmin fez um pronunciamento breve, afirmando que "o policial representa o Estado" e classificou de "muito grave" a morte de policiais na região metropolitana de São Paulo.

"São Paulo não admitirá uma regressão nesse ponto. Parafraseando Mario Covas, quando o desafio é grande, só existem três opções: enfrentar, combater e vencer", disse Alckmin.

Onda de violência

A troca no comando da secretaria de Segurança Pública acontece em meio a uma onda de violência no Estado. Em um ano, os casos de homicídio doloso --com intenção de matar-- aumentaram 92% na capital paulista.

Ocorrências registradas no Estado de São Paulo

 Out.2011Out.2012
Homicídio doloso366505
Latrocínio2821
Estupro8421.239
Tráfico de entorpecentes2.9863.507
Roubo de veículos7.0697.165
Roubo a banco1924

Em outubro de 2012, São Paulo registrou 150 casos contra 78 no mesmo mês de 2011. No mesmo período, o aumento foi ainda mais significativo em relação ao número de vítimas, que teve um acréscimo de 114,6%, com 176 pessoas assassinadas em outubro de 2012, contra 82 em 2011. Foi o que apontaram os dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo no início da noite desta quarta-feira (21).

Em resposta à onda de violência, o Governo do Estado de São Paulo e o Governo Federal fizeram um acordo para criar medidas de combate ao crime.

A parceria foi feita após o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, dizer que ofereceu ajuda ao Estado para conter a violência, o que foi negado por Ferreira Pinto.

Pela parceria, foram definidas seis áreas de cooperação entre as esferas estadual e federal. Uma das principais iniciativas é a criação de uma agência para coordenar, de maneira integrada, as ações de inteligência das polícias estadual e federal no combate ao crime organizado

As outras áreas de cooperação envolvem a administração penitenciária e a transferência de presos para presídios federais, a contenção do crime organizado por ações empreendidas por vias rodoviária, marítima e aérea; o enfrentamento ao crack; cooperação das polícias científica e pericial, além da criação de um centro de comando integrado.

Mortes na última madrugada

A região metropolitana de São Paulo teve mais uma madrugada violenta. Foram pelo menos 14 pessoas assassinadas e oito feridas num intervalo de menos de oito horas, entre as 18h30 de quarta-feira, 21, e as 2h desta quinta-feira, 22.

A soma da violência das duas últimas noites chega a 20 mortos e 21 feridos. O total da semana (últimas sete noites) é de 53 mortos e 42 feridos, segundo levantamento do Estadão.com.br. Os casos foram registrados nas delegacias da região, porém a maioria será investigada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).