Topo

Cada vez mais reconhecida como arte, tatuagem é tema de exposição e museu em São Paulo

Carlos Minuano

Do UOL, em São Paulo

15/01/2013 00h00

Depois de ser estigmatizada por décadas, a tatuagem começa a ser reconhecida como arte. O ofício de pintar o corpo está se transpondo da pele para a tela. Uma amostra desse potencial artístico pode ser conferida na exposição ‘Estilo Livre’, que reúne dezenas de trabalhos de tatuadores brasileiros na capital paulista.

As obras, produzidas em diferentes técnicas e tamanhos, são da coleção do Museu Tattoo Brasil, o primeiro acervo do gênero da América Latina, sediado no Polaco Tattoo Shop, região central de São Paulo. De maneira fragmentada, os trabalhos contam um pouco da história dessa arte no Brasil e no mundo. Algumas peças são feitas com tinta de tatuagem, outras variam entre acrílico, óleo, lápis, grafite, aquarela e colagem.

“Os artistas estão buscando trabalhar em novos suportes”, diz Marcio Ramos, artista plástico e consultor de arte do Polaco Tattoo Shop. Em comum, a linguagem simples e direta, própria da tatuagem. “A maioria retrata temas e estilos mais populares como crânios, temas orientais, grafite, e as Catrinas (desenho de esqueleto de damas da alta sociedade, popular na festa dos mortos no México)”, acrescenta.

Bom negócio

Além de seguir rumo às galerias de arte e conquistar novos públicos, a tatuagem tornou-se um bom negócio. Exemplo de sucesso no meio e, evidentemente, com desenhos espalhados por todo o corpo, Carla Rissato é um dos nomes responsáveis por promover esse segmento no Brasil.

Ao lado do companheiro e parceiro, Elcio (o Polaco), há quinze anos, Carla se vem se destacando no mundo da tatuagem como uma empreendedora de mão cheia. Além de administrar o Polaco Tattoo Shop – que está completando três décadas de atividade, há dois anos é dona do primeiro estúdio só de mulheres, o Dona Tinta, no bairro dos Jardins – onde também começou a atuar como tatuadora.

É dela a curadoria do museu e da exposição que segue até fevereiro. A mostra deve ir para o Memorial da América Latina e depois, no Dia do Tatuador, 20 de junho, chega ao Conjunto Nacional, na avenida Paulista, zona central de São Paulo.

“Nossa ideia com a exposição e o museu é resgatar o percurso da tatuagem no Brasil, que começa na década de 1950”, conta Carla. Ela lembra que um dos pioneiros do ofício em terras brasileiras foi o dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen, mais conhecido por aqui como Lucky Tattoo.

Tão ou até mais interessante que a exposição é o Museu Tattoo Brasil, que possui atualmente cerca de 500 peças. Entre elas destacam-se obras de Lucky Tatoo, produzidas em pedra sabão e telas feitas durante a década de 1970.

O espaço mostra ainda uma série de máquinas artesanais, rústicas, estufas, bicos, réplicas de cabeças de indios Maoris, biblioteca, entre outros apetrechos estranhos. O museu foi inaugurado em 2004, durante o primeiro São Paulo Tattoo Festival.

A próxima edição da festa dos tatuadores já tem data marcada: acontece nos dias 23 e 24 de março deste ano.

Sensualidade e beleza o ano todo

Carla, que é responsável pelo evento, anuncia das possíveis novidades da edição de 2013: o plano de lançar um calendário diferente, que vai de março de 2013 a março de 2014 (período em que tradicionalmente é realizado o encontro).

Cada mês trará a foto de uma mulher, entre seis tatuadas e seis tatuadoras. “Queremos destacar a beleza e a sensualidade do universo feminino da tatuagem”. Carla observa, entretanto, que o projeto ainda precisa de patrocínio, e aproveita para fazer o convite: “Alguém se anima?”

Com incontáveis tatuagens no corpo, a maquiadora Giana Steiner, 23, é uma das modelos do calendário que Carla está produzindo. A maquiadora conta que a primeira tatuagem foi aos 19 – uma boneca russa na perna. Depois não parou mais. “Minha mãe teve receio, mas quando viu o resultado, gostou e passou a apoiar”. O incentivo da mãe faz todo sentido.

Isso porque a mãe de Giana, a artista plástica argentina, Iliana Steiner, também perdeu as contas de quantos desenhos tem no corpo. Ilana diz que o comportamento da filha mudou em relação ao corpo. “Ela passou a se valorizar mais, partes que não gostava são as que hoje mais curte”.

Outra modelo do futuro calendário é a dançarina do ventre e corretora de seguros Daniele Fiale, 25. A jovem optou por um estilo bem particular de se tatuar. A primeira, que fez foi aos 18, é uma caricatura dela própria nas costas. Sua imagem também aparece em outro desenho, desta vez ao lado dos traços da irmã. A profissão (de dançarina) está devidamente gravada em alguns desenhos. Michael Jackson e até uma de suas professoras de dança ganharam um espaço no corpinho da moça. E por fim, as duas cerejas que pareciam destoar do conjunto tem uma explicação: “Fizemos juntas, eu e uma amiga, representa nossa amizade”.

Serviço:

Exposição “Estilo Livre” e Museu Tattoo Brasil
Data: até 10 de fevereiro de 2013
Horário: das 10 às 19h, de segunda a sábado
Local: Polaco Tattoo Shop
Endereço: R. 24 de maio, 225 – 1º andar
Informações: (11) 3222-8049 e www.polacotattoo.com.br
Grátis