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Dois laudos confirmam mortes por asfixia devido à inalação de gases no incêndio da boate Kiss

Thiago Varella

Do UOL, em Santa Maria (RS)

01/03/2013 18h33Atualizada em 01/03/2013 18h45

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul informou na tarde desta sexta-feira (1º) que recebeu dois laudos do IGP (Instituto Geral de Perícias) de vítimas da boate Kiss, em Santa Maria (RS), que confirmam a morte por asfixia devido à presença de monóxido de carbono e cianeto no sangue.

Os documentos de necropsia chegaram até a equipe de policiais que coordena as investigações sobre o caso, que ocorreu no dia 27 de janeiro e deixou 239 mortos, e foram usados como base para a decisão do juiz que decretou a prisão preventiva de quatro suspeitos.

Para o magistrado, existem provas nos autos de necropsia de duas vítimas que apontam a presença de carboxihemoglobina, cianeto e álcool etílico no sangue das vítimas. “Ainda que não tenham sido disponibilizados os autos de necropsia de todas as vítimas, há que se considerar, para o momento, suficientes as provas da materialidade, diante do aporte dos autos de necropsia de duas das vítimas, acompanhadas de fotografias e de laudos periciais de pesquisa de álcool etílico, carboxihemoglobina e cianeto no sangue dos falecidos”, diz a decisão.

Os laudos foram apresentados à imprensa em entrevista coletiva hoje na Delegacia de Polícia Regional de Santa Maria e confirmam a presença de monóxido de carbono e cianeto no sangue das vítimas. Segundo o documento, "ambos os gases concorrem em sinergismo para evento legal".

De acordo com o delegado Marcelo Arigony, que preside o inquérito, o laudo "trouxe a confirmação das informações preliminares de especialistas de diversas áreas que juntaram esforços com policiais para chegar até esta conclusão".

Prisão preventiva

O juiz Ulysses Louzada, da primeira vara criminal de Santa Maria, decretou hoje a prisão preventiva dos sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffman, e dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira Luciano Augusto Bonilha e Marcelo de Jesus dos Santos.

AS FASES DA INVESTIGAÇÃO

Coleta de provas
A polícia fez a maior parte da coleta no próprio dia do incêndio, mas não descarta voltar ao local em busca de outras evidências se necessário para dirimir dúvidas
Depoimentos
Além dos músicos da banda Gurizada Fandangueira, clientes, funcionários e os donos da casa noturna seguem sendo ouvidos na delegacia
Prisões
Quatro pessoas estão presas: dois músicos da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na boate, e os sócios do estabelecimento, Elissandro Callegari Spohr e Mauro Hoffmann
Exame de documentação
Polícia vai revisar alvará de funcionamento e o plano de prevenção de incêndio da boate Kiss
Perícia
O trabalho dos peritos foi iniciado no dia do acidente e só será concluído com a divulgação dos laudos técnicos. Pode ser concluída em 30, 60 ou 90 dias, segundo a polícia

Os quatro estão detidos na penitenciária estadual de Santa Maria por participação no incêndio.

O juiz aceitou as justificativas dadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público para decretar a prisão preventiva. Para Louzada, a medida é fundamental para a garantia da ordem pública. "Venho desde ontem analisando o pedido e vi que se justificava. O fato teve repercussão mundial. O mundo todo chorou com Santa Maria. Isso não pode ser descartado", afirmou.

O magistrado disse ainda que a prisão preventiva não significa, porém, que os quatro sejam culpados ou responsáveis pela tragédia. Ainda segundo Louzada, a fase judicial ainda não começou, já que as investigações policiais seguem por, no mínimo, mais dez dias antes da denúncia. Os quatro envolvidos são investigados por homicídio, mediante dolo eventual, qualificado pela asfixia.

Com a decisão da Justiça, a polícia ganha mais dez dias para concluir o inquérito sobre o incêndio. Na quinta-feira (28), Arigony afirmou que o tempo pode não ser o suficiente para finalizar o inquérito.

O outro lado

Na quarta-feira (27), o advogado Jader Marques, que representa Elissandro Spohr, afirmou ao UOL que já aguardava o pedido de prisão preventiva.

"A prisão preventiva já poderia ter sido pedida no início. Se é cabível hoje, também era lá atrás. O próprio Kiko se ofereceu para ficar preso por mais 30 dias até o fim das investigações, mas a polícia quer trabalhar sem prazo", disse.

Após os dez dias, os delegados decidirão se tentarão outra medida para conseguir prorrogar ainda mais o prazo.