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Policiais do Denarc presos em operação começam a ser ouvidos em Campinas (SP)

Do UOL, em São Paulo

17/07/2013 11h14

Dois delegados do Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) presos esta semana por suspeita de venda de informações ao tráfico de drogas estão sendo ouvidos desde o início da manhã desta quarta-feira (17) na sede do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) em Campinas (94 km de São Paulo). Os dois estão entre os sete presos em uma operação deflagrada na última segunda-feira (15) pelo Ministério Público em parceria com a Corregedoria da Polícia Civil.

Segundo o MP, os promotores do Gaeco estão ouvindo os dois investigadores do 10º DP de Campinas e os dois delegados do Denarc presos na operação: o diretor técnico do Serviço de Inteligência e Informações do departamento, Clemente Calvo Castilhone Junior, e o chefe da 3.ª Delegacia de Apoio, Fábio Amaral de Alcântara.

Apesar dos sete presos, seis policiais civis ligados à unidade do Denarc de São Paulo ainda estão foragidos, passados dois dias do início da operação. No começo da noite dessa terça-feira (16), a Corregedoria da Polícia Civil divulgou as fotos e as identidades dos seis policiais. São eles Silvio Cesar de Carvalho Videira, Danilo da Silva Nascimento, Gilson Iwamizu dos Santos, Daniel Dreyer Bazzan, Leonel Rodrigues Santos e Jandre Gomes Lopes de Souza. A polícia pede que, quem tiver informações, ligue para o 181.

  • Divulgação/SSP-SP
  • Divulgação/SSP-SP

Dos 13 mandados expedidos pela Justiça na operação e que teriam de ser cumpridos desde segunda, 11 são contra policiais da capital e dois contra oficiais de Campinas.

Segundo as investigações, os suspeitos recebiam uma anuidade de R$ 200 mil a R$ 300 mil do tráfico, em troca de venda de informações, além de mensalidades que podiam chegar a R$ 30 mil. Entre os crimes investigados contra o grupo estão roubo, corrupção, formação de quadrilha armada e extorsão mediante sequestro, uma vez que familiares de traficantes seriam sequestrados em troca do pagamento de propinas.

No dia da operação, após as primeiras prisões, o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Luiz Maurício Blazeck, anunciou que o Denarc passaria por uma reestruturação. Ontem, o secretário de segurança pública do Estado, Fernando Grella, informou que as mudanças serão anunciadas em dez dias.

O UOL tentou contato com o advogado de Castilhone Junior, João Batista Augusto Júnior, mas ele não atendeu os telefonemas, nem retornou o recado deixado na caixa postal. Ontem, o defensor alegara à reportagem que ainda não havia sido  informado sobre as razões da prisão temporária de seu cliente. O advogado do outro delegado preso não foi localizado.

"Vários outros policiais" são investigados, diz promotor do Gaeco

Em entrevista coletiva esta semana, na capital, o promotor do Gaeco de Campinas Amauri Silveira Filho, que participa da operação, afirmou haver indicativo “de que há vários outros policiais envolvidos” nas condutas investigadas, além dos 13 que são alvo de mandados de prisão temporária.

“Temos a necessidade de identificar muito rápido esses outros policiais, pois houve vários tipos de vazamento de informação [supostamente por policiais, durante a investigação de tráfico] desde que isso começou a ser apurado –não apenas por pessoas ligadas como estranhas aos fatos”, afirmou.

Indagado sobre as situações em que teriam se evidenciado os vazamentos feitos por policiais nas investigações do Gaeco e da polícia contra traficantes, o promotor não entrou em detalhes alegando necessidade de resguardar a operação, ainda em andamento.

“Mas as informações circularam de uma maneira rápida”, concluiu. “E forjar evidências e constranger vítimas e testemunhas justificam as medidas judiciais [prisões]”, disse.

 

Andinho

A investigação apontou que os policiais teriam elo com a quadrilha de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, condenado a pelo menos 400 anos de cadeia por sequestros, homicídios e tráfico de drogas. Ele está preso na Penitenciária de Presidente Venceslau (611 km de São Paulo) desde 2002.
 
Andinho também é suspeito da morte do prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT. Apesar de admitir sequestros e homicídios, ele nega ter assassinado o prefeito. O crime ocorreu em 10 de setembro de 2001.
 
Andinho seria um dos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital).  No início da tarde, um homem apontado pelo Gaeco como sócio dele foi preso em Ribeirão Preto.
 

Policiais presos já tinham antecedentes na Corregedoria

A SSP-SP informou que os presos estão custodiados no prédio da Corregedoria da Polícia Civil, na capital. O chefe do órgão, Nestor Sampaio Penteado, declarou que deve ser aberto processo disciplinar e instaurado processo administrativo disciplinar contra eles --medidas que podem resultar em demissão do serviço público.

Questionado se os policiais alvo da operação já tinham antecedentes por infração disciplinar ou criminal na Corregedoria, Penteado admitiu que sim. "Alguns", resumiu. Sobre a prisão do número um da inteligência do Denarc, o corregedor disse que não faria "juízo de valor", uma vez que o preso não fora julgado, tampouco o julgamento ainda "transitado em julgado".

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