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Ele vai ficar sumido 30 anos, diz mulher de Amarildo em protesto no Rio

Polícia chega à Rocinha para reforçar a segurança na comunidade durante a manifestação contra o desaparecimento de Amarildo de Souza - Hanrrikson de Andrade/UOL
Polícia chega à Rocinha para reforçar a segurança na comunidade durante a manifestação contra o desaparecimento de Amarildo de Souza Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

01/08/2013 20h08

A mulher do pedreiro Amarildo de Souza, 42, desaparecido desde o dia 14 de julho, afirmou nesta quinta-feira (1º) que "não está tendo resposta alguma" em relação às buscas pelo morador da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro.

"Ninguém me fala onde está o meu marido. Nem a polícia nem o governo. Ele vai ficar sumido 30 anos”, disse Elizabete Gomes, 48. “E durante 30 anos a gente vai fechar a boca do túnel", afirmou, referindo-se ao protesto realizado nesta noite, que fecha a autoestrada Lagoa-Barra, em São Conrado.

"Eu moro num cubículo com oito pessoas e estou sem o meu marido. A UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] entrou aqui para pegar trabalhador. (...) Eu não preciso nem achar que ele está morto. Eu sei que ele está morto”, disse. “Foi a polícia que matou o meu marido. E ainda sumiram com os documentos para dizer que ele não está morto."

Sobrinha de Amarildo, Michele Lacerda, de 26 anos, disse que só vai passar a acreditar nas informações da polícia quando eles "mostrarem algum resultado". "Sou igual a São Tomé", afirmou.

Sangue em carro da PM não é de pedreiro do Caso Amarildo

Michele disse que a família não recebeu o relatório sobre as investigações conforme havia sido prometido na reunião com o procurador-geral de Justiça Marfan Vieira nesta quarta-feira (31). O delegado Rivaldo Barbosa afirmou, segundo ela, que o mais importante nesse momento é manter sigilo absoluto em relação ao trabalho de investigação, metodologia já tradicional da Delegacia de Homicídios.

A Polícia Civil e o governo estadual do Rio anunciaram dar prioridade a este caso que causou comoção. O Ministério Público já trata o caso como homicídio.

O pedreiro foi detido ao ser confundido com um traficante que comanda a Rocinha e, segundo os policiais, posto em liberdade em seguida. As câmeras da UPP da Rocinha, no entanto, não registraram a entrada ou saída de Amarildo do local. Segundo a polícia, o equipamento estava com defeito.

Protesto

Moradores e líderes comunitários da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, iniciaram, por volta das 19h, uma passeata contra o sumiço do pedreiro Amarildo de Souza, retirado da porta de sua casa no último dia 14 de julho e levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Às 21h, eles chegaram à rua Aristides Espíndola, no Leblon, onde mora o governador do Estado, Sérgio Cabral, e onde cerca de 50 pessoas estão acampadas desde a noite de domingo (28).

Os manifestantes cantavam palavras de ordem contra o governador --"Cabral bandido, cadê o Amarildo?"-- e cantavam um trecho da música "Rap da Felicidade" --"Eu só quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci".

Durante a passeata, eles fecharam os dois sentidos da Autoestrada Lagoa-Barra e o túnel Zuzu Angel. O líder do movimento Favela Não Se Cala, André Luiz Abreu de Souza, 38, um dos grupos que convocou a passeata, afirmou que o governador Sérgio Cabral (PMDB) está "desesperado" com a repercussão midiática do desaparecimento do pedreiro.