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Separado da dona pela Justiça, macaco-prego Chico vira Carla no interior de São Paulo

Macaco-prego é separado da dona após 37 anos em São Carlos (SP) - Divulgação/Associação de Proteção de Animais Silvestres de Assis
Macaco-prego é separado da dona após 37 anos em São Carlos (SP) Imagem: Divulgação/Associação de Proteção de Animais Silvestres de Assis

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

06/08/2013 14h16

A separação, por força judicial, de um macaco-prego de sua dona, que o criava havia 37 anos, provocou comoção em São Carlos (232 km de São Paulo). O animal foi levado pela Polícia Ambiental da casa de Elizete Farias Carmona, 71, para uma entidade de cuida de bichos no último sábado (3).

Apesar de a criação de animais silvestres em cativeiro ser proibida por lei federal, o que levou à apreensão do macaco, o drama de Elizete sensibilizou algumas pessoas e provocou o surgimento de duas petições online na internet que pedem a devolução do bicho para sua proprietária. Pelo menos 15 mil internautas já manifestaram apoio à causa.

Além das petições, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Carlos se comprometeu a batalhar na Justiça para Chico, o macaquinho, voltar aos braços de sua “mãe”. Segundo Everaldo Furlan, 43, filho de Elizete, a aposentada, que tem problemas cardíacos, está “muito abatida” com a separação.

Mas, diferentemente da sua antiga dona, o macaco parece estar feliz com a nova vida longe de casa. Veterinários descobriram que Chico, na verdade, é fêmea.

Com a “mudança de sexo”, ele passou a se chamar Carla, em homenagem à cidade de origem, e agora troca afagos diariamente com outros colegas de jaula, o que é um sinal de que se adaptou ao local, afirma Aguinaldo Marinho de Godoy, 40, presidente da Apass, uma ONG que cuida há 20 anos de animais feridos, queimados por incêndio em lavoras e abandonados.

“A macaquinha está sendo observada e cuidada por três tratadores, um biólogo e dois veterinários. De noite, ela dorme sob cobertores numa casinha com outros primatas. Ela é pura alegria e está comendo sem parar”, disse.

“Ameaças”

A alimentação da macaca, que era basicamente de leite e cenoura, foi enriquecida com outros alimentos, entre os quais insetos desidratados, frutas e ração específica para a espécie. Carla, segundo Godoy, apresenta marcas de coleira no pescoço porque era mantida presa numa corrente com pouco mais de um metro de comprimento.

“Os músculos dela estão atrofiados porque seus exercícios se limitavam basicamente a ir de uma ponta a outra do muro da casa onde vivia.” Godoy afirma que a entidade que preside, localizada em Assis (434 km de São Paulo), vem recebendo ameaças e pressões por telefone para devolver o animal à aposentada.

 “Isso não depende de nós. Apenas recebemos o animal por decisão da Justiça. Se a macaquinha voltar para a dona, será aberto um precedente perigoso. Os animais silvestres devem viver no ambiente natural.”

Segundo o presidente da Apass (Associação de Proteção de Animais Silvestres de Assis), macacos-prego vivem 40 anos normalmente. Carla vai permanecer o resto de seus dias na ONG porque não tem mais condições de se adaptar ao meio natural.

Trajes femininos

O macaco-prego, segundo os antigos donos, foi doado por um caminhoneiro amigo da família, que o trouxe da região Centro-Oeste quando era filhote. Se conseguir o bicho de volta, a aposentada pretende rebatizá-lo de Chica e vesti-lo com trajes femininos.

A reportagem do UOL tentou vários contatos nesta terça-feira (6) com a advogada designada pela OAB para defender a dona do macaco na Justiça, mas ela não pôde atender às ligações porque estava em reunião com um cliente.

Guarda provisória

A aposentada, segundo a Apass, havia sido notificada da posse irregular do macaquinho há dez anos. Mas permaneceu com a guarda provisória do bicho mediante um boletim técnico. Com a extinção do boletim, no início do ano, Elizete e outros donos de bichos silvestres perderam a guarda de animais que mantinham em suas casas.

“Esse boletim técnico servia para muita gente perpetuar a criação irregular de animais silvestres. Em alguns casos, quando os bichos morriam logo eram repostos por outros. Os donos diziam para as autoridades que eram os mesmos e continuavam com a guarda indefinidamente”, disse Godoy.