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"Por que o senhor atirou em mim?", perguntou jovem a PM que o matou, diz mãe

Do UOL, em São Paulo

28/10/2013 12h33Atualizada em 28/10/2013 13h34

Um irmão de 12 anos do adolescente morto nesse domingo (27) pela Polícia Militar, no bairro do Jaçanã (zona norte de São Paulo), disse nesta segunda-feira (28) que a vítima, Douglas Rodrigues, 17, não esboçou reação à abordagem dos policiais.

“[Os PMs] Já chegaram dando tiro de dentro do carro. Não falei nada, não teve  nem reação do meu irmão”, disse o irmão de Douglas em entrevista ao SPTV, da Rede Globo.

A mãe do jovem, Rossana de Souza, disse ao telejornal que o filho cursava o 3º ano do ensino médio e era funcionário de uma lanchonete do bairro de Pinheiros, na zona oeste. “Ele acordava todo dia às 4h30 para ir trabalhar. Voltava, tirava uma sonequinha e ia para a escola”, lamentou. "Ele ainda perguntou: 'Senhor, por que o senhor atirou em mim?’ Nem ele sabe por que tomou um tiro", disse. "Eles [policiais] não sabem a dor que estou sentindo", desabafou.

A PM instaurou inquérito para apurar se o tiro que partiu da arma do PM e atingiu o tórax do jovem –que morreu instantes depois no Pronto Socorro do bairro --foi acidental. De acordo com a polícia, os PMs tinham ido atender uma ocorrência de som alto na rua em que estavam os irmãos.

O PM que atirou em Douglas havia ido ao bairro com outro policial para atender uma ocorrência de som alto. Ele foi autuado em flagrante por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e foi encaminhado ao presídio militar Romão Gomes, na zona norte da capital. Há dois anos na PM, ele tem 31 anos de idade.

O jovem é velado em uma igreja da Vila Medeiros, na zona norte. O enterro está marcado para as 15h no cemitério Parque dos Pinheiros, no Jaçanã, na mesma região. 

Morte causou revolta em moradores

A abordagem dos PMs aconteceu ontem às 14 horas. Cerca de duas horas depois, revoltados, moradores da região fizeram um protesto que terminou com três ônibus de transporte coletivo queimados, assim como um veículo que estava estacionado em uma das ruas do bairro. Lojas e agências bancárias também foram depredadas, e lixeiras, queimadas.

Em nota, a assessoria de imprensa da polícia informou que dois PMs "atendiam ocorrência de perturbação do sossego, quando suspeitaram de dois indivíduos e decidiram fiscalizá-los."

"Ao sair da viatura para realizar a abordagem, por motivo a esclarecer, houve disparo acidental, que atingiu um adolescente, de 17 anos, no tórax.  O fato se deu na rua Bacurizinho, esquina com a avenida Mendes da Rocha, por volta das 14 horas. A vítima foi imediatamente socorrida ao hospital Jaçanã, mas faleceu", diz a nota da PM.

Uma testemunha, moradora do bairro, confirmou ao UOL que a abordagem da PM ocorreu por conta de som alto. "Nesta abordagem o policial ao sair do veículo acabou baleando um motorista", relatou, sob a condição de anonimato.

O caso é investigado também pelo 73º DP (Jaçanã), onde os PMs envolvidos na abordagem foram ouvidos ontem à noite.