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Piloto sobrevive a quatro acidentes em SP e desiste de voar: "parei de vez"

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

28/01/2015 12h43

"Agora parei de vez". Essa é a decisão do piloto de avião Luiz Antônio Cherici, 71, que recebeu alta na terça-feira (27), depois de sobreviver ao quarto acidente aéreo grave em sua carreira, que já dura 45 anos.

O piloto, que integra a diretoria do aeroclube de Jaboticabal (a 342 km de São Paulo), afirma ainda já ter passado por outros 11 incidentes de menor gravidade. "Acho que posso dizer que tenho sorte, mas agora é hora de pendurar as chuteiras", disse.

Entre os acidentes mais graves, estão uma colisão com outro avião, um pouso forçado, uma batida em um poste, na qual ficou preso próximo a fios de alta tensão e, no mais recente deles, uma batida do bico do avião com a pista pouco depois da decolagem. "Dizem que o gato tem sete vidas. Eu não sei quantas tenho, mas acho que estou competindo de igual para igual com o gato", comenta, entre risos.

Quem aprovou a decisão de parar foi a mulher de Cherici, Elaine. Casada com ele há 25 anos, ela conta que chegou a acompanhar o marido em voos e em atividades mais perigosas, como viagens de moto, mas que diminuiu o ritmo depois que a filha do casal nasceu, há 21 anos. "Ele continuou fazendo tudo, mas agora disse que vai parar. Tomara. Não aguento mais tomar sustos", afirma.

Acidente

A batida contra a pista de decolagem ocorreu na noite de sábado (24), em Jaboticabal. Nela, o ultraleve onde ele estava caiu de bico na pista segundos após decolar e foi arrastado por pelo menos 60 metros na pista.

Ele quebrou uma vértebra e terá que usar um colete de proteção por pelo menos três meses. "É a terceira vértebra que eu trinco, eu sei como é duro. Vou usar um colete por três meses. Isso vai pra balança, pra parar mesmo.”

Segundo ele, a ocorrência foi uma fatalidade, já que ele tinha acabado de fazer uma revisão no monomotor. "Esse avião passa por uma avaliação todo ano. Eu fiz uma vistoria, vi que o breque não estava bom e arrumei. Ai, fui para a pista para testar se a arrumação tinha ficado boa”, conta. “Não ia voar, mas veio um vento, que levantou o avião, e acabei tendo que corrigir, mas não consegui."

Mesmo com a vértebra fraturada, ele conseguiu deixar o avião. Na sequência, foi socorrido por um amigo que estava no aeroporto e levado ao hospital. “O avião ficou detonado, foi um estrago total. Comigo, graças a Deus está tudo bem", contou.

Histórico

Cherici pode ser classificado como um especialista em sobreviver a acidentes aéreos. Entre os quatro mais graves, o primeiro ocorreu em 1995 em Ribeirão Preto. O avião que ele pilotava bateu em outra aeronave e acabou caindo. Apesar da gravidade da ocorrência, ele sobreviveu.

Cinco anos depois, ele diz que, por problemas no sistema de abastecimento de combustível de um avião, foi obrigado a fazer um pouso forçado durante uma excursão ao longo do Rio São Francisco, entre Minas Gerais e Bahia. Na aterrissagem, ele acabou machucando uma das costelas.

Em outra colisão, dessa vez com a rede elétrica, ele ficou preso, com um ultraleve, em um poste. Segundo ele, o dia estava muito quente e a alta temperatura gerou uma pane na aeronave, que perdeu altitude e ficou presa perto dos fios de alta tensão.  

"Essa não foi a mais grave, mas foi a que fiquei com mais medo. Nesse dia, falei para o passageiro que estava comigo que íamos morrer. Minha asa direita ficou a menos de meio metro dos fios de alta tensão”, afirma. “E o poste deu uma cedida, mas não caiu. Se tivesse caído, eu tinha morrido na hora."

Para ele, avião, agora, só como passageiro. "Já tive susto demais. A idade chega, a gente perde o reflexo. Eu amo avião, amo voar, mas acho que, agora, só de passageiro mesmo", diz.