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Pelo direito de ser Maria; ativista comenta os desafios do transfeminismo

A estudante Maria Clara Araújo, 18, é uma uma das expoentes do movimento - Chico Ludermir/Divulgação
A estudante Maria Clara Araújo, 18, é uma uma das expoentes do movimento Imagem: Chico Ludermir/Divulgação

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

08/03/2015 06h00

Diariamente, Maria Clara Araújo luta pelo direito de ser Maria. Aos 18 anos, a jovem pernambucana é uma das expoentes do transfeminismo, corrente da chamada terceira onda do feminismo, que trata das demandas das mulheres transexuais e travestis.

No começo de fevereiro ela comemorou a aprovação no curso de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco. Mais do que ser a primeira de sua família a cursar uma faculdade pública, ela viu como uma vitória sua e do movimento poder fazer a prova e ingressar na faculdade como Maria Clara, seu nome social.

Ainda pouco conhecido, o transfeminismo é uma das correntes que mais crescem dentro do feminismo e busca dar voz a travestis e transexuais.  O movimento, explica Maria Clara, vai contra o “determinismo biológico”, e defende que ser mulher vai muito além da genitália.

“Entendemos que as mulheres e travestis sofrem violências em decorrência delas serem reconhecidas como mulheres. O transfeminismo é criado a partir da percepção que mulheres são plurais. Cada uma tem particularidades e demandas de vida diferentes”, diz.

Entre os principais desafios do transfeminismo Maria Clara cita o reconhecimento do nome e gênero, a desconstrução da visão da identidade trans como uma doença e a luta contra a marginalização, além da aceitação dentro do feminismo tradicional, que ainda tem resistência ao movimento.

“Ser mulher e mulher trans no brasil é viver de penalizações”, diz Maria Clara, ao lembrar que o Brasil é o país que mais mata mulheres transexuais no mundo.

Segundo ela, o fato da maior parte das travestis acabar vendo a prostituição como único meio de subsistência é fruto do preconceito da sociedade.  “Talvez por isso muitas dessas meninas não transitem de dia, só à noite. Elas sabem o preconceito que vão sofrer”, diz. “Todo mundo tem pensamentos transfóbicos. Eu tinha, você tem. Isso fez parte da nossa criação.”

Para ela, se hoje não há mais transexuais na universidade é porque falta incentivo desde o começo da vida escolar. A própria escolha pela pedagogia --e o desejo de seguir carreira como professora universitária-- é, segundo Maria, uma forma de colocar o transfeminismo em pauta e lutar pelos direitos das transexuais.

No entanto, Maria Clara, que traz tatuada em espanhol no ombro uma das mais celebres frases da filósofa francesa Simone de Beauvoir  -- “No se nace mujer, llega una a serlo” (Não se nasce mulher, torna-se mulher”, em português) --, é otimista em relação ao futuro do movimento e da causa trans. “Estamos conquistando, pouco a pouco, o reconhecimento", diz. "A revolução será travesti."