Ilhados, ribeirinhos no AC passam 8 dias em redes montadas a 2m de altura
Os últimos 15 dias não sairão tão cedo da memória dos moradores da comunidade ribeirinha do bairro Seis de Agosto, o mais antigo de Rio Branco. Vítimas mais afetadas da pior enchente já registrada pelo rio Acre, os moradores estão ilhados há 15 dias e relataram o medo que sentiram quando a água começou a subir sem controle na última semana.
Com um barco da Defesa Civil, o UOL visitou as casas ilhadas da comunidade na última segunda-feira (9). Algumas delas ainda tem muros e palafitas, de 2,5 metros de altura, totalmente cobertas.
Das dezenas de famílias que vivem no local, três delas contaram que desafiaram a força das águas e preferiram permanecer no local completamente inundado para evitar possíveis furtos.
“Eu e minha esposa montamos duas redes [do lado de fora da casa] e ficamos aqui. Teve uma hora que minha esposa dormiu e a água chegou a molhá-la, e tivemos que aumentar a rede. Se a água tivesse subido mais 50 centímetros, teríamos perdido tudo e não teríamos escapado”, contou José Nativo Nunes, 42. “Mesmo assim, perdemos guarda roupa, uma estante e dois colchões”.
Para não perder os objetos, Nunes conta que colocou tudo que pôde nas vigas que sustentam o telhado. Apenas a geladeira foi removida para uma barraca improvisada da Defesa Civil à beira da pista.
Na casa de Nunes, moram seis pessoas, mas apenas ele e a esposa resolveram ficar. Como não podiam entrar no imóvel nos oito dias em que ela esteve inundada, ele usou o pequeno barco que tem para pegar a comida fornecida pela Defesa Civil.
Medo
Na casa ao lado, José Camúrcio da Silva, 64, também optou por não abandonar o local e relata o temor de perceber o rio subir a um nível nunca visto até então.
“Se eu saísse, as pessoas iriam roubar as coisas da gente, quebrar as portas. Então, para a gente não perder o pouco que tem, é obrigado a ficar. Mas só Deus mesmo explica estar vivo porque, se não fosse ele, teríamos morrido. Foi água demais”, contou.
Silva ainda diz que, como consequência da cheia, não tem onde comprar comida. “Em canto nenhum está vendendo. Só consegui comprar sardinha. Há dias só como isso, chega a aborrecer”, disse.
Ainda na comunidade, Luiz Camúrcio da Silva, 35, foi outro morador que desafiou a força do rio e permaneceu em uma rede. Agora que a água já baixou, ele também reclama do desabastecimento de comida. “Ainda bem que sou pescador e tenho uns peixes. Senão, estaria com fome”, afirmou.
Morador do local há 32 anos, Sebastião Lopes de Souza, 59, conta que nunca viu uma cheia causar tantos estragos. "Já passei por outras três grandes em 1988, 1997 e 2012. Mas nunca vi algo assim. Espero que, agora, nos arrumem uma casa para que possamos sair desse local", disse.
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