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Temporal deixa cerca de 100 desabrigados e alaga hospital na BA; veja

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

03/11/2020 17h31

Um temporal na madrugada de hoje alagou casas, ruas e invadiu a delegacia e o principal hospital de Irecê, cidade do norte da Bahia distante 478 km de Salvador. Cerca de 100 famílias tiveram que deixar seus imóveis e foram encaminhadas para creches e escolas públicas. Segundo José Marcelino da Silva, secretário municipal de governo, até o momento não houve registros de desabamentos nem de pessoas feridas. Quinze ônibus foram disponibilizados pela prefeitura para transportar os desabrigados.

Em coletiva pela manhã, o governador Rui Costa (PT) disse que não se pode "reclamar" de uma chuva que não caía há mais de 30 anos e seguiu seu "curso natural", além de criticar construções em áreas indevidas.

De acordo com o Inme (Instituto Nacional de Meteorologia), Irecê registrou, em 24 horas, 138,4 mm de chuva, volume acima dos 100 mm previstos para todo o mês de novembro. Irecê, que possui pouco mais de 72 mil habitantes, está localizada no semiárido baiano, o chamado polígono da seca.

A previsão é que o mau tempo ainda prossiga na região pelos próximos dias.

'Desesperador', relata paciente em leito de hospital

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram carros parcialmente imersos na água nas principais vias da cidade. No Hospital Regional Dr. Mário Dourado Sobrinho, uma mulher relatou "desespero" ao ver a água adentrar o leito em que está internada na companhia de outros pacientes.

"Olha o quarto aqui no regional como é que está. Estou internada aqui, o acompanhante está tirando a água de dentro do quarto e levando para dentro do banheiro. Olha a quantidade de água. Está desesperador aqui. O quarto está todo dentro d'água", narrava a mulher enquanto filmava a cena com o celular.

Em nota, a direção do hospital informou ter remanejado pacientes das áreas afetadas para outros locais da unidade "sem qualquer prejuízo ao tratamento que estão recebendo". A limpeza e a retirada da água, explica o hospital na nota, foram realizadas com auxílio dos colaboradores.

O prefeito de Irecê, Elmo Vaz (PSB), afirmou que a chuva que atingiu a cidade caiu em uma proporção não imaginada e pode ser considerada um dos maiores temporais da história do município.

Ele diz que, desde as primeiras horas da chuva de ontem, suas equipes já estavam nas ruas trabalhando para acolher e ajudar as famílias.

"Já iniciamos uma ação emergencial e coordenada para acolher e ajudar as famílias e pessoas que estão precisando neste momento, seja com abrigo, alimentação, cobertor, colchão etc", afirmou em um comunicado em que agradece doações feitas pela população.

A gestão municipal diz que ainda está levantando os prejuízos causados pelo temporal.

"Eu não posso reclamar da chuva", diz governador

Em entrevista a jornalistas na manhã de hoje, o governador Rui Costa afirmou que o ser humano esquece que, a cada 30 anos, uma chuva intensa poderá atingir a região do semiárido baiano, e os prefeitos, nesse intervalo, acabam permitindo construções em áreas indevidas.

"Eu não posso reclamar da chuva. Nós temos um estado em que dois terços do território estão no semiárido. Este ano, graças a Deus, choveu mais do que a média dos últimos dez anos. Isso é bom, não é ruim, e resolve o abastecimento de água. O problema é quando a chuva cai de uma vez num lugar específico. Aí os problemas, que não são momentâneos, são estruturais, aparecem. Quando você começa a olhar como a cidade foi construída. Ou, ao longo de décadas, como ela foi crescendo", declarou.

O governador disse que, historicamente, a água tem um curso natural dentro de um território. Para ele, o problema dessas enchentes ocorre quando o ser humano ocupou o curso que era natural da água.

"Uma chuva dessa em Irecê não acontecia há 36 anos. O ser humano esquece, durante 30 anos, que pode vir uma chuva daquela e começa a ocupar área que são áreas baixas, que são o caminho da água. E, ao longo de muitas décadas, de um, de dois, de três prefeitos, ao invés de, na lei municipal, proibir a ocupação dessas áreas, que são o curso natural da água", acrescentou o chefe do Executivo estadual.

Rui Costa informou que, para tentar evitar futuros alagamentos, será necessário um "investimento milionário" em obra de macrodrenagem.

"Leva dez anos, não chove, o cara pede para construir. O prefeito vai dizer: 'Ah, por causa da chuva, não vou permitir'. Mas acaba permitindo. Quando vem, a chuva alaga, não tem jeito. Aí termina você tendo que fazer um investimento milionário para consertar o erro da ocupação do solo", afirmou.