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EUA defendem governo de transição na Síria sem Assad, diz Kerry

O Secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, abre as rodadas de negociações de paz para a Síria, em Montreux (Suíça) - Fabrice Coffrini/AFP
O Secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, abre as rodadas de negociações de paz para a Síria, em Montreux (Suíça) Imagem: Fabrice Coffrini/AFP

Do UOL, em São Paulo

22/01/2014 07h59Atualizada em 22/01/2014 08h34

O presidente sírio, Bashar al-Assad, não fará parte de qualquer novo governo de transição, declarou nesta quarta-feira (22) o secretário de Estado americano, John Kerry, no início da conferência de paz sobre a Síria.

"Precisamos lidar com a realidade aqui... consentimento mútuo, que é o que nos trouxe até aqui para um governo de transição, significa que o governo não pode ser formado por alguém que é contestado por um lado", declarou Kerry na declaração de abertura.

"Isso significa que Bashar al-Assad não fará parte desse governo de transição. Não há nenhuma maneira, não é possível imaginar, que o homem que liderou esta resposta brutal contra seu próprio povo possa recuperar a legitimidade para governar", completou.

Assad afirmou nesta semana, em entrevista à AFP, que "existem muitas chances" de que busque a reeleição em junho.

O ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Muallem, repreendeu Kerry e disse que "ninguém no mundo tem o direito de conceder ou retirar a legitimidade de um presidente, de uma Constituição ou de uma lei, exceto os próprios sírios".

As negociações internacionais de paz para tratar da guerra civil de quase três anos na Síria, conhecida como Genebra 2, começaram em Montreux, na Suíça, nesta quarta-feira. Estão presentes à conferência delegações do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, e de grupos da oposição síria exilada, além da ONU, Estados Unidos, Rússia e outros países.

É a primeira vez desde o início do conflito que governo e oposição sentam-se frente a frente na mesa de negociações. 

Oposição pede transição

A Coalizão Nacional Síria (CNFROS), a aliança que representa a oposição no processo de paz, pediu que a delegação governamental assine um compromisso para aceitar as negociações destinadas a formar um governo transitório.

"Queremos saber se temos um interlocutor nesta sala e, neste caso, pedimos que assinem o Comunicado de Genebra que estabelece que todas as competências de Assad, executivas, militares e jurídicas, devem ser transferidas para um órgão transitório de governo", disse o presidente da CNFROS, Ahmad Yarba.

O dirigente opositor considerou que este é o principal resultado que deve ser esperado da conferência de paz para a Síria: "colocar de lado Assad e todos os símbolos de seu regime". 

Oportunidade e responsabilidade

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, inaugurou a sessão seguido pelo presidente da Suíça, como país anfitrião, Didier Burkhalter, na presença dos chefes das Relações Exteriores de Rússia, Estados Unidos e Síria, assim como do presidente da aliança de oposição do país árabe, a Coalizão Nacional Síria (CNFROS).

Em seu discurso, Ban se dirigiu às delegações do governo e da oposição da Síria para lhes dizer que têm "a oportunidade e a responsabilidade" de promover "um processo político" a partir destas conversas de paz que ponha um fim ao sofrimento do povo sírio.

"Depois de quase três anos dolorosos de conflito e sofrimento na Síria, hoje é um dia de esperança", declarou Ban. "Vocês têm uma enorme oportunidade e responsabilidade de prestar um serviço ao povo da Síria", completou.

O chefe da ONU convocou as duas partes, que se reúnem pela primeira vez desde o início do conflito, em março de 2011, a agir urgentemente para acabar com a crise, que acredita-se que já tenha deixado mais de 130 mil mortos e milhares de refugiados.

"Todas as pessoas estão olhando para vocês, reunidos aqui hoje, para que acabem com seu sofrimento" incalculável, declarou Ban, convidando também os representantes de 40 países e organizações internacionais reunidos na conferência a agir para ajudar a resolver a crise.

As potências internacionais devem "fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ajudá-los a alcançar esses objetivos", disse.

"Quantos mais irão morrer na Síria ... se essa oportunidade for perdida?", se perguntou Ban. "Não há alternativa para acabar com a violência... Vamos provar a todos que o mundo é capaz de se unir."

Rússia

O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que o principal objetivo da conferência de paz da Síria é "alcançar um fim para o conflito trágico" e impedir uma disseminação para outros países da região.

Lavrov afirmou, em sua declaração inicial, que "agentes externos" não devem se intrometer nas questões internas da Síria. Ele disse que a oposição política interna deve ser parte do diálogo nacional sírio, e que o Irã, que não faz parte da conferência de paz, deve ser parte do diálogo internacional.

Síria acusa ocidente 

O ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, acusou os países que financiaram os grupos de oposição em seu país de terem contribuído para "expandir o terrorismo".

"O diálogo entre sírios é a solução para o atual conflito, mas enquanto existam países nesta reunião que estão financiando grupos terroristas não haverá êxito", afirmou.

Em seu discurso na inauguração da conferência de paz para a Síria, Muallem se dirigiu à delegação opositora, representada pela Coalizão Nacional Síria (CNFROS), para dizer que a comitiva não era representativa por ter fracassado no objetivo de unir a oposição. (Com Efe, AFP e Reuters)