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Na Venezuela faminta, pastor atrai multidão com sopa grátis em campanha presidencial

Luis Robayo/AFP
Imagem: Luis Robayo/AFP

Do UOL, em São Paulo

07/05/2018 04h00

Na Venezuela, onde as pessoas passam fome em meio à escassez de alimentos e aos altos preços dos produtos disponíveis, um pastor evangélico está impulsionando sua campanha presidencial com sopa grátis. A principal atração da campanha presidencial de Javier Bertucci não é o hip hop cristão, os bailarinos ou seu castelo inflável: é a refeição gratuita distribuída nos comícios.

Bertucci afirma ser "a luz nas trevas" e acredita que é capaz de derrotar o presidente Nicolás Maduro nas urnas. O candidato de 48 anos, líder da Igreja Maranatha defende que a fusão de política e religião no país bolivariano é a solução para tirar a nação de uma de suas piores crises. As fontes de financiamento de sua campanha não são claras. Mas a comida resolve qualquer questionamento durante a campanha.

Pastor evangélico venezuelano Javier Bertucci durante campanha presidencial - Luis Robayo/AFP - Luis Robayo/AFP
Pastor evangélico venezuelano Javier Bertucci durante campanha presidencial
Imagem: Luis Robayo/AFP

Bertucci está relacionado aos "Panama Papers", o escândalo de dinheiro ilícito enviado a paraísos fiscais, e em 2010 esteve em prisão domiciliar por suposto tráfico de combustível. Ele afirma sua inocência.

"Vim para distribuir abraços, beijos, sopa e esperança", disse Bertucci no evento acompanhado pela agência de notícias Bloomberg, que conversou com o candidato. "Nunca fui um político e graças a Deus por isso!", afirma.

Mesmo que Bertucci pareça ter poucas chances de derrotar Maduro nas urnas, sua campanha está minando o apoio ao opositor Henri Falcón, ex-militar dissidente do chavismo que voltou-se contra Maduro e contra o boicote proposto pelos partidos de oposição.

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Imagem: Luis Robayo/AFP

Bertucci chegou a criticar, em fevereiro, a oposição por ficar de fora das eleições. "É um erro deixar o caminho livre (para Maduro) e seguir com o discurso de que tudo é uma armadilha. Eles continuam tomando todos os espaços. Sempre houve oportunismo, mas mais de 50% do eleitorado quer votar. Por que cercear esse direito? Este governo é derrotável", afirmou à agência AFP.

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Imagem: Luis Robayo/AFP

O pastor comanda uma congregação hoje com 16 mil integrantes, e seus sermões são transmitidos via rádio e internet aos que não participam de seus cultos. Ele comanda ainda a Gospel Changes (mudanças gospel, em tradução livre), uma instituição de caridade que distribui, alimentos, remédios e brinquedos no Natal, e fez da sopa grátis um item básico de sua campanha em meio à hiperinflação e a falta de produtos básicos na mesa do venezuelano, como pão, óleo de cozinha, frango e açúcar.

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Imagem: Luis Robayo/AFP

Prisão domiciliar

Em 2010, Bertucci cumpriu prisão domiciliar depois de ter sido acusado de contrabandear 5.000 toneladas de diesel disfarçadas em diluentes de tinta por meio de uma empresa em seu nome.

Ele ainda é listado como diretor de uma empresa de equipamentos médicos nos EUA e, com base nos documentos vazados pelo Panama Papers, contatou o escritório de advocacia Mossack Fonseca para construir uma importadora de comida --o que nunca saiu do papel.

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Imagem: Luis Robayo/AFP

Enquanto isso, Maduro tenta mobilizar os eleitores e prometeu uma “boa recompensa” aos venezuelanos que comparecerem no dia do voto com o "carnê da pátria". Maduro não deu mais detalhes, mas o documento mencionado é indispensável para ter acesso a alguns programas sociais. Para os opositores, a declaração é claramente uma tentativa de comprar o voto dos eleitores e garantir sua vitória.

As pesquisas apontam que 60% dos 20,5 milhões de venezuelanos chamados a votar não devem compareceram às urnas no dia 20 de maio por desconfiança no processo.

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Imagem: Luis Robayo/AFP

Os Estados Unidos, a União Europeia e vários países da América Latina não reconhecem essas eleições, por considerar que elas não dão garantias à oposição. (Com Bloomberg e AFP)