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Europa reage à eleição de Trump: "O mundo não vai acabar. Apenas ficará mais louco"

Angela Merkel, pediu a Trump "respeito pela lei e pela dignidade humana" - John Macdougall/AFP
Angela Merkel, pediu a Trump "respeito pela lei e pela dignidade humana" Imagem: John Macdougall/AFP

09/11/2016 19h08

A maioria na Europa esperava acordar com uma presidente eleita Hillary Clinton. Mas agora que Trump venceu, muitos líderes políticos na Alemanha e na UE não estão com clima para comemorar, com algumas exceções.

Como ocorre com frequência em eventos que abalam o mundo, foram os mercados financeiros os primeiros a reagir. O DAX, o índice referencial do mercado de ações da Alemanha, despencou rapidamente após a abertura na manhã de quarta-feira (9), em resposta à notícia de que Donald Trump tinha vencido as eleições presidenciais americanas.

Mas apesar das expectativas de alguns especialistas de que o índice cairia em até 4% em comparação à terça-feira (8), o DAX estabilizou rapidamente após a abertura, caindo apenas pouco mais de 1%.

"Eu realmente não espero efeitos negativos significativos para a economia alemã", disse Marcel Fratzcher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, para a agência de notícias alemã "DPA".

Mas entre os políticos europeus, entretanto, as reações iniciais foram significativamente mais sombrias. A chanceler alemã Angela Merkel sentiu a necessidade de, em uma declaração ao meio-dia de quarta-feira (9), lembrar a Trump dos valores que ligam a Alemanha e os Estados Unidos. "Democracia, liberdade, respeito pela lei e pela dignidade humana, independente da descendência, cor da pele, religião, gênero, orientação sexual ou inclinação política". Ela, então, disse: "Com base nesses valores, ofereço ao futuro presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, uma cooperação estreita".

A ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, disse à emissora pública de rádio e televisão "ARD", na manhã de quarta-feira (9), que a vitória de Trump foi um "choque profundo". Ela acrescentou: "Acho que Donald Trump também sabe que esta eleição não foi a favor dele, mas contra Washington, contra o establishment".

Em termos do que a eleição pode significar para a Alemanha, Von der Leyen disse: "A Europa precisa se preparar para o fato de que deve cuidar de si mesma", incluindo com um orçamento maior de defesa. Ela acredita que os Estados Unidos vão exigir um maior engajamento alemão na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar do Ocidente).

O ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, também falou sobre o que a eleição pode significar para a Alemanha. "Esperamos não enfrentar uma maior instabilidade na política internacional. Durante sua campanha, Trump criticou não apenas a Europa, mas também a Alemanha. Acredito que devemos nos preparar para a política externa americana se tornar menos previsível. Temos que nos preparar para uma situação na qual a América ficará tentada a tomar decisões por conta própria com maior frequência."

"Não quero dourar a pílula: nada será mais fácil e muito será mais difícil", ele prosseguiu. "Assim como nós alemães aprendemos muito no passado com nossos amigos americanos, agora nós devemos encorajar nossos amigos americanos a permanecerem fiéis às antigas parcerias e conosco."

"O mundo não vai acabar. Apenas ficará mais louco".

Sigmar Gabriel, chefe do Partido Social-Democrata da Alemanha e vice-chanceler de Merkel, se mostrou mais conciso, dizendo: "Trump também é um alerta para nós. Ele é o precursor de um novo movimento autoritário e chauvinista internacional".

O ministro da Justiça alemão, Heiko Maas, do Partido Social-Democrata de centro-esquerda, escreveu pelo Twitter: "O mundo não vai acabar. Apenas ficará mais louco".

Cem Özdemir, colíder do Partido Verde alemão, disse: "Trata-se de uma ruptura com a tradição de que o Ocidente defende os valores liberais".

As reações em outras partes da Europa não foram mais otimistas. O ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta disse pelo Twitter que a vitória de Trump foi o "desdobramento político mais significativo desde a queda do Muro de Berlim e um despertador para a Europa". Gérard Araud, o embaixador francês nos Estados Unidos, tuitou: "É o fim de uma época. Após o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) e esta votação, tudo é possível. O mundo está ruindo diante de nossos olhos". Ele posteriormente apagou a postagem.

Em Bruxelas, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, disse: "Não estou feliz com isto. (...) Mas por outro lado, também acredito que o sistema político nos Estados Unidos é forte o suficiente para lidar com um presidente como Trump".

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, por sua vez, escreveram uma carta conjunta a Trump na qual invocaram a "parceria estratégica" entre a UE e os Estados Unidos, dizendo ser "mais importante do que nunca" fortalecer as relações transatlânticas.

Manfred Weber, o líder no plenário do Partido Popular Europeu de centro-direita, também tinha a política externa em mente: "Temos que nos tornar mais autoconfiantes e mais fortes, assim como assumir uma maior responsabilidade", ele disse. "Não sabemos o que esperar dos Estados Unidos daqui para frente. (...) Não podemos entregar o campo de jogo aos radicais por todo o mundo."

A maioria dos chefes de governo por toda a Europa optou por esperar antes de manifestar suas reações iniciais, com algumas exceções que não causam surpresa. Aqueles que apreciaram a vitória de Trump foram rápidos em parabenizá-lo. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, por exemplo, disse que a eleição do republicano à presidência é uma "notícia fantástica", mostrando que a "democracia ainda está viva". O presidente da Rússia, Vladimir Putin, enviou rapidamente a Trump uma mensagem de congratulações.

Outros populistas na Europa ficaram igualmente animados com a perspectiva da entrada de Trump na Casa Branca. Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional na França, foi rápida em parabenizar Trump e "o povo americano livre" pelo Twitter. Ela foi seguida rapidamente por seu vice, Florian Philippot, que tuitou: "O mundo deles está ruindo, o nosso está sendo construído".

Heinz-Christian Strache, o líder do Partido da Liberdade da Áustria, populista de direita, parabenizou Trump pelo Facebook e escreveu: "A esquerda política e indiferente, o establishment corrupto, estão sendo passa a passo punidos pelos eleitores".

Com muitos na Europa tendo permanecido acordados durante toda a noite acompanhando os resultados, havia poucos na manhã de quarta-feira (9) que pareciam com humor para discutir.