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Zoológicos adotam método de eutanásia para controlar crescimento de espécies

Fêmea orangotango (esq) e macho passam por controle de natalidade no zoológico de Saint Louis, em Missouri (EUA). Funcionários de zoológicos de todo o mundo, de frente para uma capacidade limitada e pressão para manter coleções de espécies ameaçadas de extinção, são obrigados a adotar métodos de controle de natalidade ou a eutanásia - Carol Weerts / Saint Louis Zoo/The New York Times
Fêmea orangotango (esq) e macho passam por controle de natalidade no zoológico de Saint Louis, em Missouri (EUA). Funcionários de zoológicos de todo o mundo, de frente para uma capacidade limitada e pressão para manter coleções de espécies ameaçadas de extinção, são obrigados a adotar métodos de controle de natalidade ou a eutanásia Imagem: Carol Weerts / Saint Louis Zoo/The New York Times

Leslie Kaufman

06/08/2012 06h00

Veterinários do mundo todo, diante de uma capacidade limitada e da pressão para manter coleções diversas e vibrantes de espécies ameaçadas, deparam-se com frequência com uma escolha entre dois métodos controversos: o controle de natalidade e a eutanásia.

Nos Estados Unidos, a escolha é a contracepção. Os chimpanzés tomam pílulas humanas para controle de natalidade, as girafas ingerem hormônio com sua ração, e os ursos pardos têm hormônios de lenta absorção implantados em suas pernas. Até pequenos roedores estão inclusos.

Cheryl Asa, que dirige o Centro de Contracepção da Vida Selvagem na Associação de Zoológicos e Aquários do Zoológico de St. Louis, diz que a eutanásia não é uma escolha confortável para os zoológicos do país. "Num nível emocional, não consigo imaginar fazer isso e não consigo imaginar nossa cultura aceitando isso", diz ela.

Asa vê a contracepção como uma abordagem melhor. "Ao prevenir o nascimento de animais além da capacidade de cuidar, mais animais podem ser bem cuidados", diz ela.

Mas na Europa, alguns veterinários preferem aplicar a eutanásia a filhotes desnecessários depois que eles amadurecem do que negar aos pais a experiência de procriar e nutrir seus filhotes.

"Preferimos que eles tenham o comportamento mais natural possível", diz Bengt Holst, diretor de conservação do Zoológico de Copenhague, na Dinamarca. "Já retiramos deles os comportamentos de predação e antipredação. Se retirarmos seus comportamentos de criação de filhotes, não lhes restará muita coisa."

  • Leoa curte a presença dos filhotes no jardim zoológico de Copenhague, na Dinamarca

Então ele e muitos de seus colegas europeus costumam permitir que os animais cuidem de seus filhotes até uma idade na qual eles naturalmente se separariam dos pais. Então os funcionários praticam a eutanásia com os filhotes que não estão nos planos dos zoológicos.

Esta primavera, o zoológico de Copenhague matou, por injeção letal, dois filhotes de leopardo de cerca de dois anos de idade por pertencerem a uma espécie que já estava mais do que representada na população coletiva do zoológico. Os leopardos estão considerados quase ameaçados pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Mas por causa de um plano de criação em cativeiro para manter a diversidade genética da espécie, o destino dos filhotes estava determinado antes que eles nascessem.

"Nós prometemos ao coordenador da espécie que os filhotes jamais sairiam do zoológico", disse Holst, o que significa que eles nunca cruzariam com leopardos de outros zoológicos.

Segundo ele, o zoológico de Copenhague extermina anualmente cerca de 20 a 30 animais exóticos saudáveis - desde gazelas a hipopótamos, e até chimpanzés em certas ocasiões.

A ideia é que esta estratégia imita o que aconteceria na natureza, onde cerca de 80% dos filhotes dos felinos morrem por causa de predadores, fome ou ferimentos, diz ele.

Terry Maple, ex-diretor do Zoológico de Atlanta e coeditor de "Ética na Arca" disse que embora ele não saiba de nenhum estudo que avalie a importância de criar filhotes para a saúde ou o bem-estar dos animais, a observação indica que a maioria dos animais dos zoológicos é pai motivado e protetor que costuma brincar com seus filhotes.

Ele reconhece que os zoológicos norte-americanos já foram mais focados na complexidade de criar espécies ameaçadas do que no bem-estar diário, mas isso está mudando. Ao planejar meticulosamente suas populações, diz Maple, os zoológicos eventualmente evitarão o excesso de animais e garantirão que a maioria tenha filhotes e os crie.

"Não estou dizendo que a eutanásia administrativa é errada", diz ele. "Só que não é a melhor solução."

As normas éticas internacionais para criação de animais em zoológico têm sido evasivas, em parte porque as filosofias variam, diz Dave Morgan, presidente do Comitê de Gerenciamento Populacional da Associação Mundial de Zoológicos e Aquários. A associação africana de zoológicos lista a eutanásia como uma ferramenta de gerenciamento da população, enquanto os preceitos do budismo e hinduísmo dificultam até mesmo a eutanásia de animais terminalmente doentes.

Tanto os Estados Unidos quanto a Europa toleram a eutanásia de felinos e canídeos. A eutanásia é permitida de acordo com as regulações da associação de zoológicos norte-americanos, mas é reservada, sobretudo, para os animais doentes e velhos, diz Steve Feldman, porta-voz da associação.

Embora as associações de zoológicos não mantenham dados confiáveis sobre o uso de contraceptivos, funcionários dizem que ele é bem mais prevalente na América do Norte, mas está começando a se expandir para a Europa.

Os zoológicos norte-americanos começaram a desenvolver contraceptivos para animais muito férteis como os leões nos anos 70, depois de inovações na contracepção humana. O uso de contraceptivos então se expandiu à medida que se tornou mais difícil para os zoológicos vender ou doar animais que não tinham mais condições de acomodar.

Esse tipo de planejamento familiar significava que machos e fêmeas tinham de ser mantidos separados para evitar gravidezes indesejadas, o que era ideal para a transição para ambientes de zoológico mais naturais. Há benefícios, também, para os tratadores: os hormônios nos contraceptivos dados aos machos podem suavizar comportamentos agressivos da competição por uma fêmea que podem causar destruição e perturbar os visitantes.

Houve um tempo em que ninguém poderia imaginar que a contracepção seria necessária para o lobo mexicano, uma espécie caçada quase até a extinção nos anos 70. Os zoológicos começaram com apenas sete sobreviventes e criaram uma colônia de quase 300 lobos em cativeiro, salvando a espécie. Noventa e dois foram reintroduzidos na natureza pelo governo federal a partir de 1998, mas há quatro anos, o governo esgotou o espaço limitado que foi destinado ao programa no Novo México e Arizona.

  • Lobo mexicano é criado em cativeiro no zoológico Saint Louis, em Missouri (EUA)

Então, durante os últimos quatro anos, o controle de natalidade ajudou os zoológicos a reproduzirem os lobos mais seletivamente para maximizar a diversidade genética, mas não ficar sem espaço - ou lobos mexicanos - como um compromisso com os Estados.

A diversidade genética é a chave para a sobrevivência a longo prazo de uma espécie porque ela evita a procriação consanguínea e preserva uma ampla variedade de traços que os animais um dia podem precisar para sobreviver na natureza.

O controle de natalidade é usado para mais da metade dos gorilas ocidentais de planície cativas em 50 ou mais zoológicos norte-americanos, diz Kristen Lukas, que administra um programa de procriação da espécie para a associação de zoológicos. Ele permite que uma jovem fêmea fique em seu grupo familiar sem o risco de produzir filhotes consanguíneos.

A ciência de contraceptivos para animais mais exóticos, observa Asa, não está tão avançada quanto para os símios, que são mais próximos dos humanos. E os efeitos colaterais podem acontecer e acontecem. Felinos grandes e cães que utilizaram os primeiros implantes hormonais ficaram suscetíveis a infecções urinárias e tumores. Outros animais como elefantes têm dificuldades de reiniciar seu ciclo reprodutivo uma vez que deixam de usar anticoncepcionais.

Zoológicos europeus que preferem a eutanásia citam os riscos da contracepção para a saúde bem como o rico processo de cuidar dos filhotes - embora matar um animal possa ser às vezes controverso.

A Dinamarca abraça esta política e é bastante aberta em relação a educar seu público. A Alemanha, em contraste, permite a eutanásia só em circunstâncias "aceitáveis", o que pode ser difícil de definir, diz Lesley Dickie, diretora-executiva da Associação Europeia de Zoológicos e Aquários. Há alguns anos no Zoológico de Magdeburg no norte da Alemanha, descobriu-se que um tigre macho era um híbrido entre duas subespécies de tigre, fazendo com que os filhotes que ele havia gerado fossem inúteis geneticamente. Quando os três filhotes nasceram, o zoológico matou-os imediatamente.

Dickie caracterizou a decisão como "corajosa", mas defensores dos direitos dos animais discordaram e processaram o diretor do zoológico e outros três funcionários por violar a lei de eutanásia. Eles receberam sentenças suspensas.

Até quando os zoológicos esperam para matar animais até que seus pais tenham tido uma chance de criá-los, surgem questionamentos. Pode parecer conveniente para os zoológicos matar um animal só depois que ele completou sua fase mais adorável - considerando que os filhotes são uma das principais atrações do zoológico.

Mas Holst enfatizou que o momento é ditado pela natureza. Os tratadores sabem quando chega a hora porque os jovens leopardos começam a lutar com sua mãe.

"Pode ser doloroso para nós", diz ele, "mas é mais natural para eles".