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Selo é leiloado com lances milionários e valor recorde de R$ 21 milhões

O selo é conhecido como o Magenta de Um Centavo da Guiana Inglesa. Ele foi impresso por um jornal local e emitido em 1856 - Stan Honda/AFP
O selo é conhecido como o Magenta de Um Centavo da Guiana Inglesa. Ele foi impresso por um jornal local e emitido em 1856 Imagem: Stan Honda/AFP

James Barron

Do Nova York (EUA)

22/06/2014 06h01

Um pequeno e muito antigo quadrado de papel vermelho com os cantos cortados – um selo de um centavo do século 19 – foi vendido por US$ 9,5 milhões (R$ 21 milhões) na última terça-feira (17). Esse é o maior valor já pago por um selo durante um leilão, apesar de a quantia ter ficado US$ 500 mil abaixo da estimativa mínima de pré-venda fixada pela casa de leilões, que começava em US$ 10 milhões e ia até US$ 20 milhões. 

O comprador, que deu seus lances por telefone na Sotheby’s do Upper East Side, em Nova York (EUA), não foi identificado. O leiloeiro David N. Redden iniciou o leilão em US$ 4,5 milhões – ou US$ 5,4 milhões após o ágio do comprador (percentual cobrado do comprador sobre o preço inicial), de 20%, ser adicionado. 

Os lances aumentaram de US$ 500 mil (R$ 1,1 milhão) em US$ 500 mil até alcançarem US$ 7,5 milhões. Depois de mais três ofertas, um lance alcançou US$ 7,9 milhões, encerrando o leilão em US$ 9,5 milhões – valor que inclui o ágio do comprador. 

Redden disse que não estava nada decepcionado. Segundo ele, “quando comparamos o leilão desse selo ao valor recorde alcançado por outros selos na história recente, este é um verdadeiro salto em relação aos níveis anteriores”. 

O último selo a chamar tanta atenção durante um leilão foi o Treskilling Amarelo, um selo sueco que foi vendido por cerca de US$ 2,2 milhões em 1996. 

Uma multidão de comerciantes de selos e colecionadores encheu a sala de leilões, além de uma fileira de câmeras de televisão posicionadas na parte de trás do recinto. “Eu não acredito que eles teriam esse tipo de cobertura durante o leilão de um van Gogh”, disse Frank J. Buono, um negociador de selos de Binghamton, Nova York. “E, considerando-se seu peso, seu volume e seu tamanho, esse é o item mais valioso do mundo. Diamantes podem alcançar valores mais elevados, mas eles pesam mais”. 

Selo raro
O selo é conhecido como o Magenta de Um Centavo da Guiana Inglesa. Ele foi impresso por um jornal local – uma remessa de milhares de selos programada para chegar da Grã-Bretanha não chegou, e o chefe do correio local não queria ficar sem selos – e emitido em 1856. 
O selo exibe a imagem de uma escuna e várias palavras latinas que são geralmente traduzidas da seguinte maneira: “Nós oferecemos algo e esperarmos algo de volta”. O Magenta de Um Centavo não era visto em público desde meados da década de 1980, até que Sotheby’s decidiu enviá-lo em uma turnê recente por museus e bibliotecas. 

Trata-se, até onde os colecionadores de selos têm conhecimento, de um selo único. Especialistas britânicos concluíram que um desses selos que apareceu na década de 1990 era, na realidade, um selo de quatro centavos alterado, que foi impresso mais ou menos na mesma época. O selo vendido na terça-feira passada foi autenticado este ano pela Real Sociedade Filatélica de Londres. 

Originalmente, o selo estava aparentemente colado a um embrulho de pacote feito com jornal ou a um envelope. Selos de um centavo eram comumente utilizados para o envio de jornais na Guiana Inglesa, de acordo com colecionadores de selos. 

Ninguém sabe por que esse embrulho ou envelope em especial e esse selo em particular não seguiu o mesmo caminho do lixo doméstico comum, como ocorria com a maioria dos embrulhos feitos com jornal. Mas o selo sobreviveu ao ser descoberto por Louis Vernon Vaughan, um menino de 12 anos de idade, em 1873. De acordo com o catálogo preparado pela Sotheby’s para o leilão, o garoto era sobrinho da pessoa a quem a embalagem ou o envelope original havia sido endereçado. 

À época, o hobby de colecionar selos tinha virado moda e o menino aparentemente acreditava que podia adquirir selos melhores. “Como o selo era uma cópia ruim, com os cantos cortados”, o catálogo da Sotheby’s explica, “ele decidiu vendê-lo para comprar alguns selos mais novos e mais atraentes, que ele tinha recebido para aprovação” de um negociador de selos britânicos. 

Essa decisão lançou o Magenta de Um Centavo em uma viagem improvável que o levou da Guiana Inglesa até a Sotheby’s, via cofres de diversos colecionadores de selos de destaque, incluindo Philippe la Renotiere von Ferrary, de Paris, e Arthur Hind, de Utica, Nova York, um magnata da indústria têxtil que pagou US$ 35,250 por ele em 1922, preço recorde à época. 

“Arthur Hind nunca teve a intenção de oferecer lances pelo selo da Guiana Inglesa”, informa o catálogo da Sotheby’s. 

Mas um encontro com um negociador de selos em Londres o fez mudar de ideia e se tornar proprietário do selo mudou sua vida. Posteriormente, Hind reconheceu que o selo “tinha feito com que ele fosse ridicularizado”, segundo o catálogo da Sotheby’s. “Um jornalista de Londres descreveu o selo de 1856 da Guiana Inglesa como ‘de formato quadrado e magenta na cor’ e Hind como ‘de formato arredondado e de um magenta bem mais pálido’”. 

O selo alcançou um novo preço recorde em 1980, a última vez em que foi vendido. John E. du Pont, herdeiro da fortuna da empresa química du Pont, pagou US$ 935 mil para adicioná-lo à sua coleção. Ele morreu na prisão em 2010, enquanto cumpria uma sentença mínima de 13 anos de prisão, que podia se estender a até 30 anos, pelo assassinato de Dave Schultz, um lutador e medalhista de ouro olímpico que estava treinando na propriedade de du Pont, na Pensilvânia, Estados Unidos. O selo foi vendido por seu espólio. 

Tradutora: Cláudia Gonçalves