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Abraçar seu cachorro pode não ser boa ideia, aponta estudo

Michael Nagle/The New York Times
Imagem: Michael Nagle/The New York Times

Christine Hauser

29/04/2016 06h01

Na próxima vez que você quiser abraçar um cachorro, pense nisto: você pode estar fazendo que ele se sinta péssimo, segundo um especialista.

Para o amante de cães normal, as orelhas penduradas e as patas gorduchas são simplesmente fofas. Mas há uma verdadeira ciência por trás do design: eles são animais cursórios, isto é, adaptaram-se para correr como sua principal linha de defesa, disse Stanley Coren, professor emérito de psicologia na Universidade da Columbia Britânica e especialista em treinamento de cães.

Assim, quando uma pessoa, por mais bem-intencionada ou carente que seja, parte para um abraço de corpo inteiro, ela imobiliza o cachorro e aumenta o nível de estresse do animal, escreveu ele no blog da revista "Psychology Today".

A recomendação de Coren é: "Economize seus abraços para seus familiares e namorados bípedes. É claramente melhor do ponto de vista do cachorro se você manifestar seu carinho com um afago, uma palavra gentil e talvez uma guloseima".

A postagem no blog não é, certamente, um estudo científico revisado por outros cientistas, mas apenas sua observação de especialista. Mas o conselho repercutiu nas redes sociais, e os amantes de cães uivaram sua reação no Twitter.

Coren analisou 250 imagens no Google e no Flickr que mostram pessoas abraçando cães. Em cerca de 81% das fotos, os animais davam pelo menos um sinal de desconforto, ansiedade ou estresse, segundo ele. O restante das fotos mostrava cães que pareciam à vontade com os abraços ou exibiam reações neutras ou ambíguas.

Como os cães e os humanos não podem conversar --pelo menos não da maneira tradicional--, Coren ofereceu indicadores que podemos notar na linguagem corporal canina, que ele captou em suas observações.

Dentes expostos é um sinal de ansiedade, escreveu Coren. Virar a cabeça para o outro lado é preocupante, assim como fechar os olhos, pelo menos em parte. Os cachorros incomodados muitas vezes mostram o que é chamado de "olho meia-lua" ou "olho de baleia", quando a parte branca dos olhos no canto da pálpebra é visível, disse ele.

Outros sinais que Coren notou são lamber-se, bocejar ou levantar uma pata. O cão também pode baixar as orelhas ou apontá-las para trás, junto da cabeça.

Mas outros especialistas questionaram as conclusões de Coren, incluindo Corey Cohen, um terapeuta de comportamento animal da organização A New Leash on Life, na Pensilvânia.

"Meus cães adoram ser abraçados", disse ele.

Cohen disse que os cães podem parecer ansiosos nas fotos porque não gostam que tirem fotos deles, ou porque uma pessoa estava tentando fazê-los posar ou chamando sua atenção. Mas Cohen, que também faz massagens caninas, disse acreditar que os cães podem ficar à vontade com abraços quando há familiaridade e confiança.

Como ele sabe que seu cachorro gosta desse carinho? Ele disse que pode sentir a tensão ser liberada em certos músculos do animal: a respiração desacelera e o olhar se atenua. Em alguns animais, disse ele, os cantos da boca se erguem, como num sorriso.

"Eu posso saber com certeza", disse Cohen. "A expressão facial deles muda: 'Oh, quero mais!'"

O elo de confiança também o leva a rejeitar uma ideia comum entre as pessoas de que não se deve olhar fixamente para cães, o que seria um gesto de confronto.

"A verdade é que se você tiver uma relação decente com seu cachorro isso libera oxitocina", disse ele, referindo-se ao chamado hormônio do amor. "Não acho que haja outra criatura na Terra que faça isso."

Erica Lieberman, uma treinadora de cães e consultora de comportamento na Pawsibilities Pets, em Nova York, disse que em geral os cães não devem ser abraçados, mais pelo lado da segurança.

Por exemplo, pessoas que adotam um cachorro resgatado talvez não saibam a história social do animal. Ele pode ter associações negativas, por exemplo, com uma criança que lhe dava abraços dolorosos ou apertava sem intenção.

Lieberman disse que os cães entendem as expressões faciais e aprendem que os abraços deixam as pessoas felizes. Portanto, eles podem estar suportando algo que realmente não apreciam.

"Por isso eu gosto da mensagem", disse ela, referindo-se à teoria contra os abraços. "Acredito que as pessoas devem preferir o lado da cautela."

Para ela, as pessoas devem sempre procurar sinais de "pare". Além dos que Coren notou, Lieberman disse que os cães podem se sacudir em sinal de desprazer depois de um abraço, como fazem depois do banho para livrar-se da água.

"Se você não vir nada disso, há muitos cães que não se importam, pois entendem que é isso o que os torna companheiros das pessoas", disse ela.

Lieberman, que também trabalhou como avaliadora de terapia canina, disse que outro erro de julgamento é que é certo estender sua mão diante do focinho do cachorro como apresentação.

"Isso é incorreto, porque você está sendo invasivo. Mantenha as mãos ao lado do corpo e veja se o cão se aproxima. Você permite que seja uma decisão do cachorro."

Lieberman disse que há alternativas aos abraços, como coçar as costas ou a barriga do animal. Mas, para os amantes de cães que não vivem sem abraçá-los, ela disse que podem tentar um "contracondicionamento", até ter certeza de que o cão aceita o carinho.

Isto é, abrace seu cachorro rapidamente e depois lhe dê uma guloseima. Repita conforme necessário.