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Por que o massacre de Orlando não deve levar a uma lei antiarmas nos EUA

A cronologia do maior massacre a tiros da história dos EUA

UOL Notícias

Jennifer Steinhauer

Em Washington (EUA)

18/06/2016 06h00

Não foi o que aconteceu depois que uma congressista levou um tiro na cabeça em um evento oficial. Nem depois que 20 crianças foram mortas em suas classes na escola elementar. Ou quando terroristas dispararam contra uma festa de Natal numa agência que fornecia serviços a deficientes no sul da Califórnia.

Agora, depois da pior chacina na história dos EUA, também é improvável que novas leis sobre controle de armas sejam aprovadas no Congresso.

Os senadores republicanos claramente sentem pressão para enfrentar o fato de que pessoas cujos nomes constam das listas de vigilância de terroristas podem comprar armas com facilidade. Mas eles não gostam de um projeto que os democratas pretendem apresentar na próxima semana que daria ao Departamento de Justiça autoridade para impedir que as pessoas nessas listas e outros suspeitos de terrorismo comprem armas.

Um projeto republicano exigiria que o governo retardasse por 72 horas a aquisição de uma arma por qualquer pessoa suspeita de terrorista, ou que tenha sido alvo de uma investigação de terrorismo nos últimos cinco anos, enquanto se faz uma revisão.

"Se os democratas falam realmente sério sobre encontrar uma solução para esse problema, eles se unirão a nós", disse o senador republicano Mitch McConnell, do Kentucky, o líder da maioria. Os democratas afirmaram que a medida, que é aprovada pela Associação Nacional do Rifle, é onerosa demais para ter algum impacto.

Ainda menos provável é que se aprove uma medida que ampliaria as verificações de antecedentes dos compradores de armas --principalmente por causa de disputas muito contestadas em um ano de difícil eleição. Parece possível que até os republicanos que no passado apoiaram uma medida de verificação a abandonem desta vez.

Ao contrário de dezembro, porém, quando ambas as medidas foram derrotadas, alguns republicanos estavam mais decididos a alcançar um compromisso com os democratas. Até agora, esses esforços não produziram um projeto que ambos os lados possam apoiar.

"Temos de ser sérios sobre isto", disse na quinta-feira o senador democrata Chuck Schumer, de Nova York. "Temos de aprovar uma medida real que realmente tire as armas das mãos dos terroristas, não algo que apenas finja que estamos tratando do problema."

Em Orlando, na quinta-feira, o presidente Barack Obama fez mais um apelo público com palavras fortes --o terceiro nesta semana-- para endurecer as restrições às armas, afirmando que essa última violência em massa deveria mudar o debate.

Durante uma sessão privada de luto que durou duas horas com as famílias e amigos das vítimas, em um ginásio esportivo, Obama disse: "Eles suplicaram que façamos mais para deter" a violência armada.

"Os que defendem o fácil acesso às armas de assalto deveriam se encontrar com essas famílias", disse Obama, pedindo que os senadores "ajam de acordo com o momento e façam a coisa certa".

Enquanto Donald Trump, o presuntivo nomeado presidencial republicano, disse que gostaria que fosse mais difícil para os que estão nas listas de vigilância conseguirem armas, não ficou claro esta semana que medida ele apoia, embora a maioria dos republicanos e democratas tenha dito que supõe que seja a versão republicana.

A política em ano eleitoral tornará mais difícil um projeto de lei que amplie as verificações de antecedentes.

Depois do massacre a tiros em 2012 na Escola Elementar Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, os senadores Patrick J. Toomey, republicano da Pensilvânia, e Joe Manchin 3º, democrata de Virgínia, propuseram uma legislação para ampliar as leis federais sobre checagem de antecedentes para vendas de armas pela internet e em feiras do setor.

Esse projeto foi derrotado por 54 a 46 votos, com cinco democratas se opondo e quatro republicanos --os senadores Susan Collins, do Maine, Mark S. Kirk, de Illinois, John McCain, do Arizona, e o citado Toomey-- votando a favor.

Depois da morte de 14 pessoas em San Bernardino, na Califórnia, em dezembro, o Senado recusou mais uma vez o projeto bipartidário por 50 a 48. Uma medida para deter pessoas nas listas de terroristas também foi derrubada.

Mas os democratas decidiram rejeitar aquela medida de verificação em favor de uma promovida pelo senador democrata Christopher S. Murphy, de Connecticut, que liderou a obstrução de uma lei de apropriações na noite de quarta-feira, que expandiria as verificações a todas as vendas de armas, exceto empréstimos e presentes entre parentes.

Alguns importantes democratas disseram a colegas de partido para não trabalharem com Toomey, que está em uma dura disputa pela reeleição, segundo três republicanos inteirados da conversa.

De fato, Toomey e outros republicanos poderão acabar votando contra o projeto de Murphy. Os democratas perderam o interesse por trabalhar com Toomey em propostas de fechar a chamada brecha terrorista em leis sobre armas, quando ele propôs legislação que não foi apoiada por grupos pró-segurança com as armas.

Toomey sempre terá seu antigo projeto para apresentar, e o fato de que agora ele está trabalhando com a Everytown for Gun Safety --grupo afiliado ao ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg-- sobre legislação para evitar que terroristas obtenham armas.

Na quinta-feira, republicanos vieram com sua própria medida de verificação de antecedentes, que foi patrocinada pelo senador Charles E. Grassley, de Iowa, presidente da Comissão de Justiça, e incluía um componente de saúde mental.

A senadora republicana Susan Collins, do Maine, também pretende apresentar uma emenda para impedir que terroristas consigam armas. As votações de todas as medidas estão marcadas para segunda-feira.

A política sobre armas infecta grande parte do que o Congresso tenta fazer; leis para promover mudanças no sistema de saúde mental do país estão em suspenso devido a essa questão, e isso não deverá parar. Mas soluções bipartidárias quase certamente terão de esperar até que a eleição termine.