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Julgamento do impeachment de Dilma é a nova competição imperdível no Brasil

Alan Marques/Folhapress
Imagem: Alan Marques/Folhapress

Simon Romero

No Rio

26/08/2016 06h00

A Olimpíada do Rio acabou de terminar e os brasileiros já estão rapidamente voltando as atenções para outra competição acalorada que consome o país: a briga pela presidência.

O Senado iniciou o julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, a presidente que foi suspensa em maio por acusações de manipulação do orçamento federal em uma tentativa de esconder os problemas econômicos do país.

É grande a expectativa de que ela perca, e os senadores poderão votar já no início da semana que vem. Seus adversários precisam de dois terços dos 81 membros do Senado, ou 54 votos, para condená-la. Se tiverem sucesso, Michel Temer, o presidente interino e ex-vice-presidente, assumirá até o final do atual mandato, em 2018.

O julgamento do impeachment pode servir como encerramento de um dos períodos mais tumultuados da democracia do Brasil, que foi restabelecida em 1985 após uma longa ditadura militar. O centrista e envolto em escândalos Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Temer está assumindo o controle do governo, substituindo o esquerdista Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma Rousseff, que também está mergulhado em escândalos de corrupção.

"Estou ciente de que meu voto provocará incompreensão e frustração entre amigos", disse Cristovam Buarque, um respeitado senador da esquerda que anunciou que votaria contra Dilma. Ele enfatizou os riscos de um potencial retorno de Dilma à presidência, listando suas criticadas políticas econômicas e sua incapacidade de obter apoio no Congresso.

Em uma medida dos desafios que ela enfrentará no julgamento, os senadores votaram por 59 votos a 21 pelo indiciamento dela neste mês, a tornando formalmente ré das acusações de manipulação orçamentária. Um resultado semelhante na semana que vem a afastaria em definitivo do cargo.

Dilma Rousseff enfrenta grandes correntes de desaprovação por todo o establishment político do Brasil, mais recentemente por grandes facções de seu próprio partido, que anunciou nesta semana sua oposição à proposta dela de realização de um referendo para uma nova eleição presidencial.

Mesmo assim, Dilma, 68, uma integrante de um grupo guerrilheiro urbano em sua juventude, prometeu lutar até o fim. Ela planeja falar na segunda-feira perante o Senado, em Brasília, para defender sua inocência das acusações de manipulação orçamentária, que envolveu a transferência de altas somas de dinheiro dos bancos estatais.

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Se Dilma perder o julgamento, Temer, 75, um político de carreira com postura mais formal, se verá sob pressão ainda maior. Os mercados financeiros do Brasil se animaram com a esperança de que Temer pudesse implantar políticas capazes de atrair mais investimento ao Brasil, que está passando por sua pior crise econômica em décadas.

Mas Temer está lidando com seus próprios índices baixos de aprovação e dúvidas sobre sua legitimidade. Recentemente, ele foi considerado culpado de violação dos limites de financiamento de campanha, um caso que pode torná-lo inelegível por oito anos. Um executivo de uma construtora também testemunhou que Temer foi beneficiário de uma propina no valor de R$ 1 milhão. Temer nega a alegação.

Ele teve uma amostra do que muitos brasileiros sentem a seu respeito durante a cerimônia de abertura da Olimpíada. Temer apenas fez a breve declaração de que os jogos estavam abertos até ser abafado por um coro de vaias dos espectadores.

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Após uma série de protestos em espaços olímpicos pedindo a saída de Temer, ele nem se deu ao trabalho de comparecer à cerimônia de encerramento. Em seu lugar, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, recebeu os aplausos após aparecer como Super Mario, o astro da série de videogames da Nintendo, para divulgar os preparativos da Olimpíada de 2020 em Tóquio.

Temer disse que colocar a economia do Brasil em uma posição mais sólida era sua maior prioridade. Os aliados políticos que o apoiaram no afastamento de Dilma agora estão pressionando Temer para aja de forma mais audaciosa na adoção de medidas de austeridade.

O presidente interino também está enfrentando pressão para promover mudanças estruturais para tratar de problemas colossais, como a crise das aposentadorias, que afeta não apenas o governo federal como também os estaduais. Ainda não se sabe se ele conseguirá obter apoio político para o avanço de medidas vistas com ceticismo em Brasília.

"Não consigo mais acreditar na política", disse Douglas Bonckhorny de Oliveira, 39, um vendedor ambulante no bairro de Copacabana, no Rio.

"Nunca gostei da Dilma, mas agora o Temer está se proclamando salvador da pátria", disse Douglas, explicando que apesar de resignado com a remoção de Dilma, ele não acredita que o afastamento dela melhorará o funcionamento do governo.

"Ligue a TV e tudo o que você vê no noticiário é corrupção", ele disse. "Isso me deixa sem esperança na política."

Mariana Simões contribuiu com reportagem.