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Hillary Clinton usa astros pop para conquistar votos nos Estados indecisos

Jennifer Lopez e Hillary Clinton aparecem juntas durante show que faz parte da campanha da democrata para a eleição nos EUA, em Miami - Brian Snyder/ Reuters
Jennifer Lopez e Hillary Clinton aparecem juntas durante show que faz parte da campanha da democrata para a eleição nos EUA, em Miami Imagem: Brian Snyder/ Reuters

Joe Coscarelli

03/11/2016 13h01

Parece o programa de um festival de música eclético: Jay Z, Katy Perry, Jon Bon Jovi, National, Steve Aoki. E é, quase. Só que os músicos estarão espalhados pelos Estados indecisos nos próximos dias, fazendo trabalho voluntário em apoio a Hillary Clinton.

A série de apresentações, chamada de "O Amor Vence o Ódio" (Love Trumps Hate, em inglês), que levará Jay Z (e "convidados especiais") a Cleveland (Ohio) na sexta-feira (4) e Perry à Filadélfia (Pensilvânia) no sábado (5), é apenas uma das táticas de campanha de Hillary para estimular os eleitores que conta com astros pop. Miley Cyrus se reuniu com jovens na Universidade da Virgínia na semana passada. O rapper Pusha T apareceu em um vídeo da campanha com o candidato a vice de Hillary, Tim Kaine; e Cher recentemente também entrou em cena como substituta.

Apesar da previsível vantagem de Hillary no mundo de tendência esquerdista da música pop --músicos que apoiam publicamente Donald Trump incluem Wayne Newton e Ted Nugent--, o envolvimento de ouvintes nem sempre foi uma conclusão prevista em uma eleição presidencial entre dois candidatos amplamente impopulares. Enquanto as campanhas nacionais de Barack Obama envolviam o apoio entusiástico de artistas desde o início, nem Trump nem Hillary pareceram em princípio atrair o mesmo empenho entre músicos.

Assim como na operação inicial do presidente Obama em 2008, muitas figuras do mundo da música deram sua aprovação primeiro a Bernie Sanders, que era mais orientado para os jovens, e só mais tarde se aproximaram de Hillary. Ainda hoje, grandes estrelas como Taylor Swift, Kanye West e Beyoncé não apoiaram formalmente nenhum candidato, a poucos dias da eleição, enquanto outros músicos optaram por se alinhar a iniciativas apartidárias para chamar eleitores a votar.

"Política ainda pode ser uma palavra muito feia", disse Andy Bernstein, diretor-executivo da HeadCount, grupo sem fins lucrativos que trabalha com músicos para registrar eleitores em shows. "Você tem dois candidatos que são muito polarizadores, e certamente há muita gente neste país que não tem uma opinião positiva sobre nenhum deles. Isso torna as coisas interessantes, porque os músicos não querem dividir seus fãs."

 

Scooter Braun, um empresário de artistas influentes como West e Justin Bieber, foi claro em seu apoio a Hillary. Mas admitiu que alguns de seus clientes optaram por não usar suas plataformas pelo risco de "afastar parte de seus fãs que discorda deles".

"Isso assusta as pessoas", disse Braun. "Agora, se você expuser suas convicções, terá diferentes lados e pontos de vista atingindo-o nas redes sociais."

Mas ele chamou a ideia de que os artistas têm uma responsabilidade de entrar na disputa política --"está na hora de Taylor Swift dizer algo sobre Donald Trump", dizia uma manchete recente --de "absolutamente ridícula", e acrescentou: "Acho que esses indivíduos devem falar se tiverem todos os fatos. Mas de que adianta usar seu alto-falante se você não tem paixão pelo que está dizendo?"

Alguns, segundo Braun, "não têm um lado na disputa" -- "Justin é canadense", comentou ele sobre Bieber. "Eu não quero forçar ninguém a assumir um lado. Se você não sabe, não há nada a fazer além de observar."

Este ciclo eleitoral turbulento fez que muitos músicos levassem um tempo para entrar plenamente. Kid Rock e Blake Shelton manifestaram um interesse inicial por Trump, mas evitaram entrar na campanha e na maioria das conversas nas redes sociais. Hillary atraiu o apoio de alguns astros pop desde o início, especialmente de cantoras como Perry, Demi Lovato e Barbra Streisand, mas ultimamente contou mais com substitutos.

"Nas últimas semanas, esses artistas têm uma capacidade poderosa de energizar, entusiasmar e mobilizar nossa base", disse Adrienne Elrod, diretora de comunicações estratégicas na campanha de Hillary.

Do outro lado, Newton, o artista de Las Vegas, participou do debate presidencial no mês passado em apoio a Trump e deu entrevistas defendendo o candidato das acusações de má conduta sexual.

Mas o defensor mais veemente de Trump foi Nugent, o polêmico roqueiro e membro da diretoria da Associação Nacional de Rifles. Em um vídeo da campanha lançado em setembro, Nugent advertiu que Hillary "vai destruir a liberdade que é tipicamente americana. Donald Trump vai proteger as coisas que tornam os EUA o melhor lugar do mundo". (Representantes de Trump não quiseram comentar.)

Em 2008, Obama galvanizou artistas destacados logo no início do processo das primárias: "Yes We Can", o clipe musical pró-Obama com Will.i.am, John Legend e Scarlett Johansson, foi lançado em fevereiro daquele ano.

"O modo como Obama envolvia as pessoas era pessoal", lembrou Russell Simmons, o magnata do hip-hop. "Valerie Jarrett iniciou o processo, colocava você no telefone com ele. Desde o início, embarquei num avião com Jay Z, Puffy, Beyoncé, Mary J. Blige e outros executivos para liderar o ataque e cultivar entusiasmo."

Como presidente, Obama continuou formando alianças com músicos, frequentemente falando sobre suas preferências musicais e divulgando "playlists" pessoais, enquanto convidava artistas do momento, como Frank Ocean e Chance the Rapper, para eventos na Casa Branca.

Para Trump e Hillary, tais conexões pareciam, pelo menos no início, encaixar-se menos naturalmente. "Você tinha alguns defensores realmente apaixonados de Bernie Sanders" na música, disse Bernstein, da HeadCount. O site do senador de Vermont mantinha uma página com a lista dos artistas que o apoiavam, entre os quais Michael Stipe, ex-vocalista do R.E.M., Lucinda Williams e Killer Mike.

Mas mesmo depois da derrota de Sanders na primária e seu subsequente apoio a Hillary, alguns artistas voltaram sua atenção para a importância de votar ou falar contra Trump, em vez de a favor de sua adversária.

O projeto 30 Dias, 30 Canções, que se anuncia como "artistas por uma América livre de Trump" e apresenta músicas de R.E.M. e Death Cab for Cutie, não incluiu uma menção clara a Hillary Clinton. O rapper californiano YG, cuja canção "FDT" talvez tenha sido o mais impactante hino político deste ciclo, também manteve o foco em Trump, enquanto Bruce Springsteen, que se apresentou em comícios de Obama nas últimas duas eleições, manifestou desaprovação ao candidato republicano em entrevistas.

Ani DiFranco, a cantora feminista, disse que está "muito à esquerda de Hillary" e portanto não se sentia atraída a apoiá-la. Mas foi clara ao incentivar seus colegas progressistas a participar de alguma maneira. "Não usem Bernie como desculpa", disse.

lopez hillary - Justin Sullivan/Getty Images/AFP - Justin Sullivan/Getty Images/AFP
A cantora Jennifer Lopez se apresenta em show promovido pela candidatura da democrata Hillary Clinton. Na tela ao fundo do palco, está escrito "Vote Hillary"
Imagem: Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Ed Droste, do Grizzly Bear, outro apoiador de Sanders, só apareceu depois do segundo debate presidencial, no mês passado. "Eu adoro @berniesanders e sempre o farei", escreveu ele no Instagram. "Mas sabem de uma coisa? Sou um adulto e vejo o que está acontecendo neste momento, e é assustador. #Imwithher [estou com ela]."

Outros músicos encontraram formas de entrar na disputa através de preocupações políticas específicas.

"Os artistas não gostam de falar sobre questões sobre as quais não se sentem especialistas", disse Jesse Moore, vice-presidente de envolvimento cívico da Rock the Vote, que é conhecida por seus representantes-celebridades. "Ao mesmo tempo, a maioria dos eleitores e das pessoas na política não são especialistas em tudo. Trata-se de colocar os artistas em uma posição em que eles possam falar sobre suas próprias experiências na vida."

O rapper T.I. disse que a influência de um músico é "melhor e mais adequadamente aplicada quando é sincera". Depois dos assassinatos pela polícia de Philando Castile e Alton Sterling, no último verão, T.I. disse que estava motivado para falar mais sobre questões da eleição que afetam os afro-americanos, inclusive prisão e reforma da polícia.

"Isso tocou algo dentro de mim que me fez levantar e agir para inspirar ou promover mudanças", disse ele. "Não apenas em minha música, mas com meus atos."

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AFP