Topo

Setor de turismo vê avanços no país e crê em legado positivo pós-Copa

Nelson de Abreu Pinto

Especial para o UOL

12/03/2014 09h10

O tão aguardado ano de 2014 finalmente chegou!  Sete anos após o anúncio feito pela FIFA de que o Brasil seria o país-sede da Copa do Mundo, eis que chega o tão esperado momento para o turismo brasileiro. O maior evento esportivo do planeta acontecerá em nosso país pela segunda vez na história.

Mas se em 1950 ainda não havia TV para a transmissão da Copa, agora em 2014 espera-se uma audiência global de 4 bilhões de telespectadores, gente de todo o planeta que receberá dentro de suas casas durante um mês inteiro a imagem permanente e as notícias vindas do Brasil. Parece muito? Em 2016 as Olimpíadas prometem bater este recorde.

Indiscutível é o valor do legado que ficará para o turismo brasileiro após a Copa do Mundo. A visão é bastante otimista. A despeito das questões relativas aos investimentos na construção e reformas dos estádios, o fato é que o potencial de retorno na próxima década através da nossa atividade turística é bastante positivo.

Façamos uma conta rápida: entre os 8 bilhões para os estádios e os 7 bilhões para infraestrutura geral o investimento público e privado para a estrutura da Copa no Brasil alcança a casa dos 15 bilhões de reais.  Em 2012 o gasto de visitantes estrangeiros no Brasil chegou a R$ 14,6 bi, e em 2013 a expectativa é que o aumento tenha sido de 7,6% - por si só um belo salto.

Segurança

O Brasil precisa ainda rever muito do seu planejamento de segurança pública. Talvez este seja o pior gargalo para o turismo.

Se considerarmos uma aceleração mínima após a Copa de apenas mais 1% a cada ano na taxa de crescimento, teremos retornado o investimento para a Copa em 6 anos, se a aceleração for de 2% o retorno será em 5 anos  – e isto considerando-se aqui "pagar a conta" da Copa apenas com o saldo extra dos gastos de estrangeiros no país, ou seja, só com aquilo que gastarão a mais do que já gastam hoje! E ainda sem contar o impacto positivo das Olimpíadas em 2016.

Estamos todos preparados para isso? Vejamos:

Aeroportos e Aviação

Um dos grandes problemas apontados para a realização do Mundial no Brasil foi a precária estrutura de seus aeroportos. Com as obras realizadas, muitos deles poderão receber com mais frequência voos internacionais e aviões de grande porte, e um expressivo aumento na capacidade de embarque e desembarque, fomentando ainda o turismo em regiões antes pouco valorizadas.

Por sua vez, as companhias aéreas estão cientes de seu dever, mas não só isso, cientes também da enorme oportunidade de receita que terão daqui em diante. Por isto não se trata apenas de incentivo, mas sim de correta gestão empresarial. Além disso a concorrência é favorável ao turismo.

Investimento em segurança

O Brasil precisa ainda rever muito do seu planejamento de segurança pública. Talvez este seja o pior gargalo para o turismo. Mas esperamos que preparando a segurança para o período da Copa do Mundo, e tomando essa experiência para aplicá-la no dia a dia após o evento, e com um planejamento de reformas estruturais no sistema, o país conseguirá melhorar sua imagem perante a opinião pública internacional, diminuindo assim a rejeição da marca Brasil no momento da escolha da viagem. Mas há muito trabalho pela frente.

Melhoria nas estradas

As estradas do Brasil estão passando nos últimos anos por melhorias importantes, principalmente nos pontos estratégicos do país e também devido à privatização de muitas delas. O transporte por via terrestre é fundamental para o turismo doméstico. Nas principais regiões turísticas as estradas estão melhorando gradativamente.

Esporte, lazer e entretenimento

Nestas áreas o país vem se modernizando ao longo dos anos. A regulamentação de parques, o investimento em sustentabilidade, a promoção de atividades esportivas e de lazer, os trabalhos desenvolvidos nas comunidades para a inclusão social através do esporte e do convívio saudável, os clubes e toda a rede de infraestrutura de atividades de aventura, de lazer e entretenimento, esportivas ou de ócio produtivo, se multiplicaram no país nas últimas décadas e representam hoje a maturidade social que iniciamos agora. O turismo faz uso desta estrutura para se promover, e para promover a boa imagem do país.

Rede hoteleira

Entre 2011 e 2014 o investimento na rede hoteleira no Brasil soma cerca de R$ 7,3 bilhões, sendo que neste período 198 novos hotéis em rede abriram ou ainda abrirão suas portas. No total o Brasil dispõe hoje de 9.681 hotéis com 464.477 unidades habitacionais, e mais uma centena de milhares de pequenos meios de hospedagem, com uma ocupação média nacional de 65,6%. 

Ou seja, antes da Copa temos uma ociosidade média de 34,4%. Sabemos que durante o período dos grandes eventos a ocupação sobe exponencialmente chegando à lotação completa nos principais destinos, como no Rio de Janeiro. Mas e depois da Copa?

Apesar de várias fontes divulgarem um certo pessimismo com o parque hoteleiro do país para depois dos grandes eventos, nós da CNTur somos muito otimistas em relação a este legado. Sabemos que o ciclo da hotelaria teve um grande recesso entre o final dos anos 90 e início dos 2000, em função do enorme aumento da oferta. Naquela época a ocupação média nacional mal tocava os 50%.

Hotelaria

O Brasil possui muitos bons hotéis e já altamente preparados para receber os turistas, mas nem todos viajantes possuem as mesmas condições para se hospedar em um grande hotel.

Como previsto, a demanda não só alcançou a oferta como a alcançou com força, em uma década de grande crescimento econômico no país. Hoje batemos o recorde histórico de desembarques de turistas, sendo 6 milhões de internacionais e 85 milhões de domésticos, com uma melhor infraestrutura, com maior maturidade do mercado, com uma base mais sólida na indústria do turismo, com números melhores e com uma perspectiva de grande legado na penetração da marca Brasil e aumento progressivo do receptivo internacional, é certo que a recuperação após os grandes eventos será muito rápida. Por que não seria? E convenhamos, sabemos que o Brasil costuma remunerar muito bem os investimentos estrangeiros. 

Além dos números, é fundamental a qualidade. Temos que apresentar aos turistas condições adequadas para recebê-lo bem, com conforto e praticidade. O Brasil possui muitos bons hotéis e já altamente preparados para receber os turistas, mas nem todos viajantes possuem as mesmas condições para se hospedar em um grande hotel. Hotéis bons e baratos, pousadas, hostéis e albergues são fundamentais para atrair um maior número de turistas, e também estimular o turismo local.

O programa "Turismo para Todos" da CNTur trabalha pela acessibilidade universal à atividade turística, e busca dar maiores condições para que as empresas possam contar com mais baixos custos para oferecer preços acessíveis com boa qualidade, sem prejuízo de sua sustentabilidade econômica. Por isso também a CNTur, presente com atividades em todo o país, vem tratando desde 2013 com o Ministério da Fazenda e com o BNDES o aumento do investimento público e das linhas de crédito para as micro e pequenas empresas da Hospitalidade.

Brasil, campeão de copa e cozinha

Nossa cultura brasileira à mesa nunca esteve tão forte. Se considerarmos a excelente imagem da mesa brasileira no mundo hoje, e o crescimento exponencial do número de restaurantes e bares no país, com uma média de 9,2% ao ano, e seu faturamento anual na casa dos R$ 180 bi, com mais de 8 milhões de trabalhadores empregados, o segmento como um todo apresenta-se como um dos mais fortes e promissores no Turismo.

As grandes capitais exportam cultura gastronômica, São Paulo é considerada Capital Mundial da Gastronomia, o resgate à tradição culinária é força motriz no Turismo de diversas regiões e localidades no país, e a evolução contemporânea está à mesa nos centros urbanos. A gastronomia no Brasil hoje é altamente profissional e madura. Existem claro muitos problemas em enfrentamento, mas em geral são de ordem de regulação de mercado, de ajuste do crescimento ou de pouco apoio governamental em investimentos em melhor infraestrutura social e urbana, mas a conjuntura geral do segmento vai bem.

Legado

O momento para o turismo é muito promissor. Cabe a nós do trade e ao governo sabermos concretizar tudo o que plantamos lá atrás, e as condições são boas.

A gastronomia, além de ser o segmento que mais emprega no Turismo, é também o que menos investimento requer para gerar um emprego, ou seja, o segmento gastronômico é expressa a cara do Turismo nacional.

Com tudo isso, o momento para o turismo é muito promissor. Tudo o que sonhávamos no recente passado começa a se concretizar. Cabe a nós do trade e ao governo sabermos concretizar tudo o que plantamos lá atrás, e as condições são boas. Nunca antes tão boas. Com o estádio lotado somos favoritos, estamos na base da escada, lá no alto o gramado e a torcida gritando Brasil. A bola vai rolar. Agora é entrar em campo, chutar a gol  e correr para o abraço. Ou alguém duvida que o turismo brasileiro possa ganhar este jogo?

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br