Topo

Desejo que a torcida brasileira inspire a seleção a jogar por música na Copa

Especial para o UOL

26/05/2014 06h00

Quando iniciei meus estudos de piano, aos 8 anos, apaixonei-me na mesma época pelo futebol. Era 1948. Anos se passaram e tive que trocar a bola pelas primeiras apresentações profissionais, aos 13 anos, e o início da carreira internacional, aos 18.

Mas foi justamente por insistir em me aventurar nos gramados que quase encerrei minha carreira de forma precoce. Em um treino de futebol do qual eu participava com os jogadores da Portuguesa, tive um acidente no nervo ulnar do braço direito.

Desde então, travei uma luta contra as adversidades que finalmente me levaram à profissão de maestro, a partir dos 64 anos de idade.

Na música, no entanto, consegui realizar o meu sonho de gravar a obra completa de Johann Sebastian Bach para teclado e realizar centenas de concertos no Brasil, Estados Unidos e Europa, procurando mesclar minha individualidade com a personalidade do maior compositor de todos os tempos.

Por que estou contando esta história?

Durante seis décadas, pude observar que a maioria dos músicos, quando estão nas “peladas”, são jogadores de futebol frustrados, mas sempre determinados a jogar o esporte bretão com paixão e determinação.

Da mesma forma, nessas mesmas décadas, pude observar também que os jogadores de futebol são na música intérpretes e compositores frustrados, mas sempre cantando e compondo com a mesma paixão e determinação. Até Pelé, o rei do futebol, se arriscou no violão e compôs diversas músicas.

E a conclusão deste velho maestro, ao ouvir a expressão ‘jogou por música’ quando uma seleção joga maravilhosamente bem, tem sua lógica. A harmonia da orquestra, sob alguns aspectos, equivale a uma equipe entrosada, e o sucesso depende de todos os seus integrantes.

Além disso, tanto os jogadores como os artistas impactam os sentimentos das pessoas, mexendo com a emoção. Contagiam e são contagiados. Grandes atuações só são completas quando ocorrem em salas de concertos lotadas e estádios pulsantes.

Na Copa do Mundo de 2014, o Brasil volta a jogar diante de sua torcida no Mundial após mais de 50 anos. É um grande palco, para uma hábil orquestra, diante de uma plateia apaixonada.

Um dos momentos mais marcantes, sem dúvida, será ver torcida e time, todos juntos, entoando o Hino Nacional Brasileiro, a exemplo do que ocorreu no ano passado, na Copa das Confederações.

Que este coral vibrante, em uníssono, inspire a seleção em campo a ‘jogar por música’, empurrando o Brasil até o sexto título mundial!