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Quem tem medo de voar deve ter confiança no piloto

Especial para o UOL

09/07/2014 06h00

Não se sinta ofendido, mas um piloto consciente não se importa muito com o que está atrás da cabine de comando, se carga ou passageiros, incluindo você, sua família ou amigos. O bom piloto vai conduzi-lo com conforto, mas o foco maior sempre será a mais absoluta segurança. Sabe por quê? Porque muito mais que voar do ponto A ao ponto B, todo piloto sempre tem em mente voltar casa. Seja qual for o conceito que cada um tenha por “casa”.

Já voei com passageiros que me confidenciaram que sentiram medo. Os motivos são os mais variados, um mau tempo na rota, turbulência, ou o simples fato de que não se sentiram completamente à vontade em invadir o espaço que foi originalmente destinado às aves. A dica que eu dou é a seguinte: Olhe nos olhos do piloto. Na maioria das vezes, mesmo aquelas situações que parecem ser mais críticas aos leigos, são rotina para quem optou pelo cotidiano de ver o mundo do alto.

São raríssimas as profissões cujos profissionais sejam submetidos a tantas avaliações quanto o piloto. Uma vez que um advogado tenha obtido seu OAB, fica por conta dele continuar ou não somando conhecimentos. Um cirurgião não é submetido a uma avaliação formal da autoridade governamental quanto as suas habilidades motoras ou gerenciamento da sala de cirurgia para continuar operando seus pacientes.

Se um engenheiro desenvolver diabetes vai continuar normalmente no exercício da profissão, sem interferência do governo. Um jornalista não precisa passar por uma avaliação cardiovascular na esteira para continuar escrevendo seus artigos. Se um piloto não atingir os mínimos em cada um dos requisitos listados, fica no chão ou, no máximo, embarca como passageiro.

Fiz um pouco de tudo na aviação. Desde quatro anos de voo de precisão na Esquadrilha da Fumaça, passando por Inspetor de Voo da autoridade aeronáutica e professor de pós-graduação, até piloto de jatos comercias. Hoje, porém, minha paixão está nos helicópteros e na segurança dos voos. E empresto minha experiência e conhecimento como diretor da associação que reúne pilotos de helicóptero de todo o Brasil, a Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero).

Essas máquinas têm entrado no gosto brasileiro. Estamos entre os cinco países do mundo com maior número dessas aeronaves. Há pelo menos vinte anos temos tido um crescimento positivo no número de helicópteros com matrícula civil. Esse crescimento tem sido maior que os principais indicadores econômicos e, não raro, nos deparamos com porcentagens de dois dígitos de um ano para outro. São Paulo é a cidade que abriga o maior número de helicópteros entre todas as metrópoles do planeta.

A que se deve esse fenômeno? Muito mais do que um símbolo de status, como querem alguns, a versatilidade dos helicópteros garante precisão nas operações policiais, rapidez nas remoções aero médicas, são os olhos que levam as notícias até a sua TV, rádio ou jornal.

Helicópteros são ágeis e seguros no transporte de executivos, especialmente quando nossos planos de mobilidade urbana costumam ficar sempre muito aquém das necessidades e a segurança pública é precária. O helicóptero contribui para que o desenvolvimento do país aconteça num tempo menor.

Existe uma frase muito conhecida no meio aeronáutico que mostra bem o tom do que é a aviação de helicópteros: Esqueça tudo o que você aprendeu sobre princípios, equações e leis da aerodinâmica e da física, o que faz uma aeronave sair do chão é o dinheiro.

Estamos falando em um segmento que movimenta, diretamente, uma soma que ultrapassa o meio bilhão de reais e emprega alguns milhares de trabalhadores cujas competências médias costumam ser mais elevadas que a maioria dos outros segmentos.

Os 2.104 helicópteros hoje registrados no Brasil, nos números de março, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), representam um total pouco maior que 13% da frota nacional de aeronaves, excluído as experimentais. Essa fatia, há 20 anos não passava dos 8%.

A Abraphe trabalha junto às autoridades aeronáuticas para garantir o espaço aéreo dos helicópteros. Soluções como as desenvolvidas pelo Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo em parceria com a associação de pilotos, como o controle dos helicópteros sob a rampa de aproximação de Congonhas é inédita no mundo e vem sendo copiada por outros países.

Ações que envolvem a segurança dos voos, como o trabalho conjunto com o IHST – International Helicopter Safety Team, que prevê a diminuição de 80% dos acidentes envolvendo helicópteros em todo o planeta até 2016, vêm sendo desenvolvidas e aplicadas às nossas operações.

A aviação como um todo vai continuar a se desenvolver, os acidentes serão em número cada vez menor e o medo de voar vai ficar cada vez mais num patamar menos significativo. Tem gente muito séria trabalhando com o foco na segurança dos voos.

Aqui vale uma dica fundamental: confie sempre no piloto, seja você proprietário de seu helicóptero ou passageiro ocasional. O piloto é sempre a pessoa que reúne as melhores condições para avaliar a conjuntura das operações aéreas e garantir que você possa sempre voltar para casa.

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