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Proibir publicidade infantil não evita obesidade e erotização precoce

Especial para o UOL

08/09/2014 06h00

São frequentes, hoje em dia, apelos relacionados à necessidade de proibir mensagens mercadológicas dirigidas a crianças, fazendo coro com a resolução 163 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), que pretende transformar em lei essa proibição. Colocaram no pacote os anúncios impressos, comerciais televisivos, spots de rádio, internet, embalagens, promoções, merchandising, shows e apresentações, e a disposição dos produtos nos pontos de vendas.

Trocando em miúdos, as embalagens não terão qualquer personagem ou apelo colorido: devemos tapar as vitrines das lojas de brinquedos como se fossem Sex Shops e cercar as seções de ovos de Páscoa nos supermercados, onde só poderão entrar maiores de 12 anos.

Também será proibido o acesso dos menores à internet, pois eles já são milhões nas redes sociais e, a exemplo das suas interações pessoais com os amiguinhos e parentes, hoje são emissores de mensagens, são influenciadores. A propósito, a Bienal do Livro deverá ser igualmente proibida, pois expõe livros do Menino Maluquinho, da Turma da Mônica e de vários outros personagens infantis que são licenciados para produtos e serviços, até mesmo viagens à Disneyworld.

Peço licença para afirmar que a publicidade dirigida a crianças, tal como é permitida hoje pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), não é abusiva. A resolução 163 do Conanda é que está em descompasso com as crianças do século 21 e seu meio cultural.

Os que são contrários ao mercado acusam anunciantes de provocar obesidade, erotização precoce, estresse familiar, violência, tabagismo e alcoolismo, entre outros males. Mas não consideram que a obesidade atinge todas as idades (Censo 2010). Nem verificam que 82,6% dos açúcares adicionados à alimentação vêm das cozinhas domésticas, além dos restaurantes que copiam aquelas receitas, conforme nossa tradição culinária.

Frituras, então, nem se fala! Também não verificam que, segundo a OMS, na Suécia - onde a publicidade infantil foi proibida há mais de 30 anos -, as pessoas são bem mais gordas do que no Japão, onde tudo que o Conanda quer proibir é permitido. Quanto à erotização, não percebem que o consumo é fator de identificação com o grupo. Será que as crianças vão deixar de admirar como se vestem suas mães e tias? E a dramaturgia, que espelha a sociedade e vice-versa?

Não podemos pensar que problemas médicos, genéticos, psicológicos, sociais ou econômicos deixarão a realidade das famílias com a simples proibição da publicidade.

Vejamos, então, os brinquedos. Dos brasileiros, 84% são urbanos e não há quadras de esportes em mais de 50% das escolas públicas. Pais trabalham fora e não podem deixar seus filhos cruzando grandes distâncias para encontrar uma área de lazer porque é perigoso. Queremos ver os pequenos no playground do prédio? Fazendo o quê? Pulando corda e amarelinha o ano inteiro?

Inovações são úteis

Então vamos verificar o que a neurociência nos ensina: a novidade domina a atenção do ser humano, e isso as telinhas e telonas eletrônicas oferecem a todo tempo. Tem gente que diz que só fazem mal, mas já sabemos que não. Matthew Gentzkow, professor da Universidade de Chicago, declarou: “Cruzamos dados de exposição à televisão com resultados escolares de 300 mil alunos para verificar seu impacto no desenvolvimento. Os que tiveram mais tempo de vivência com a TV tiveram notas significativamente melhores”.

Desnecessário argumentar que a TV aberta domina a audiência e reserva um quarto do seu tempo às propagandas, o que certamente contribuiu para o aprendizado desses 300 mil alunos. E o Medical Research Council, órgão do governo britânico, depois de estudar 11 mil alunos em escolas primárias, concluiu que não é correto associar o mau comportamento das crianças com o tempo que passam vendo TV ou se divertindo com os jogos.

Presenteie os filhos com livros, álbuns de atividades ilustrados com os personagens que eles mais gostam, tablets e videogames. São como brinquedos: educam, desenvolvem habilidades e proporcionam o relacionamento de múltiplas informações, o que gera mais criatividade. A vida moderna exige inovações, eles vão precisar desse conhecimento.

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